Programa terá duração inicial de cinco anos e contará com a realização de projetos de pesquisa conjuntos, bolsas de doutoramento e pós-doutoramento, uma conferência anual sobre investigação oceânica e recursos para instrumentação (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)

Oceanos
Programa PROASA pretende contribuir para avanço do conhecimento sobre o Atlântico Sul e a Antártida
04 de abril de 2024
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Iniciativa, lançada terça-feira na sede da FAPESP, terá inicialmente a participação de pesquisadores do Brasil, da Argentina e da França

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Programa PROASA pretende contribuir para avanço do conhecimento sobre o Atlântico Sul e a Antártida

Iniciativa, lançada terça-feira na sede da FAPESP, terá inicialmente a participação de pesquisadores do Brasil, da Argentina e da França

04 de abril de 2024
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Programa terá duração inicial de cinco anos e contará com a realização de projetos de pesquisa conjuntos, bolsas de doutoramento e pós-doutoramento, uma conferência anual sobre investigação oceânica e recursos para instrumentação (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)

 

Elton Alisson | Agência FAPESP – Embora represente 11% do volume total dos oceanos, o Atlântico Sul é o menos conhecido em termos científicos e em relação ao seu potencial econômico. A fim de avançar no entendimento sobre a porção sul do oceano Atlântico e também sobre o continente mais frio do planeta, foi lançado na terça-feira (02/04), durante um seminário na FAPESP, o Programa para o Atlântico Sul e a Antártida (PROASA).

Um dos objetivos da iniciativa é trazer novas contribuições sobre os dois ambientes e aplicá-las no enfrentamento de crises planetárias e na promoção do desenvolvimento sustentável.

“A quantidade de dados disponíveis sobre o Atlântico Sul é surpreendentemente escassa em comparação, por exemplo, com o Atlântico Norte. Um dos objetivos do PROASA é ajudar a preencher essa lacuna e trazer novas contribuições em todas as áreas do conhecimento, incluindo oceanografia física e biológica, recursos oceânicos, o papel na determinação do regime de chuvas, além de questões econômicas, relações internacionais e diplomacia científica”, disse Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, na abertura do evento.

Inicialmente, o programa terá a participação de pesquisadores do Brasil, da Argentina e da França, mas outros países deverão integrar o consórcio de pesquisa.

“O Atlântico Sul faz fronteira com três países no lado oeste [Brasil, Argentina e Uruguai] e cinco na fronteira leste [entre eles África do Sul, Namíbia e Angola]. E, no Brasil, abrange outros 14 Estados, além de São Paulo. Dessa forma, há amplo espaço para expansão [de parcerias], que não precisa se limitar aos países ou Estados limítrofes”, avaliou Zago.

Uma das instituições argentinas parceiras do PROASA é a Universidade de Buenos Aires (UBA). Na avaliação de Patricio Conejero Ortiz, secretário de Relações Internacionais da instituição, o programa contribuirá para aumentar a cooperação científica do país com o Brasil e a França.

“O Brasil já é o principal parceiro científico da Argentina, em termos de publicações científicas conjuntas, e a França é o segundo. O Brasil e a Argentina precisam aprofundar a integração de suas capacidades científicas e tecnológicas para atuar como um sistema. Ambos os países têm uma base sólida, mas essa integração precisa ser planejada e financiada”, avaliou.

Já do lado da França, uma das instituições que aderiram ao programa foi o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), o maior órgão público de pesquisa científica do país europeu. Na opinião de Gilles Pinay, diretor científico adjunto do Instituto de Ecologia e Meio Ambiente do CNRS, o PROASA representa mais um reforço da colaboração científica entre o Brasil e a França, que ganhou impulso nas últimas semanas com o lançamento de iniciativas conjuntas com a FAPESP e a Universidade de São Paulo (USP) (leia mais em agencia.fapesp.br/51245 e agencia.fapesp.br/51244).

“Mobilizaremos grande parte da comunidade de pesquisa da França, composta por mais de 7 mil cientistas, engenheiros, técnicos, doutores e pós-doutores que trabalham em ciências marinhas por meio de parcerias do CNRS com 17 universidades nessa área na França. Também nos empenharemos para alinhar nossos mecanismos de financiamento e encontrar formas por meio das quais possamos disponibilizar nossos atuais navios de pesquisa, além de laboratórios, programas de pesquisa ambiental de longo prazo e estações em campo, especialmente nas regiões sub-Antártida e na Antártida, para a cooperação científica”, afirmou Pinay.

O PROASA também poderá contar com apoio da Comissão Interministerial de Recursos Marinhos (CIRM) – um conselho deliberativo e consultivo que coordena ações relacionadas à política nacional de recursos marítimos, implementa o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) e executa o plano internacional de gestão costeira –, sublinhou o contra-almirante Ricardo Jaques Ferreira, secretário da CIRM.

“Há a possibilidade de usar a CIRM para tornar o PROASA ainda maior”, afirmou Ferreira. “A Marinha do Brasil fornece navios e aeronaves para apoiar pesquisas científicas no mar, em ilhas oceânicas e na Antártida, permitindo que pesquisadores embarquem em nossos navios e utilizem nossas instalações e estações científicas em locais remotos. Além disso, coordena o ordenamento do espaço marítimo, o Proantar e o programa de pesquisa científica em ilhas oceânicas, que abrange os arquipélagos de São Pedro e São Paulo [em Pernambuco] e as ilhas Trindade e Martim Vaz [no Espírito Santo]”, explicou Ferreira.

“Já apoiamos 7,4 mil pesquisadores e estamos à disposição para contribuir com aqueles que compartilham com a missão de conhecer melhor, proteger e utilizar o mar de forma ordenada e sustentável, bem como compreender os processos que acontecem em altas latitudes, sua ligação com o Atlântico Sul e seu impacto tanto regional como global”, disse.

Lacunas no conhecimento

De acordo com Peter William Thomsom, enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas (ONU) para o Oceano, um relatório elaborado pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental, publicado em 2022, aponta que a descrição quantitativa do oceano está drasticamente incompleta.

“Nosso conhecimento é insuficiente. Por isso, elogio calorosamente o lançamento do PROASA, que contribuirá para diminuir as lacunas no conhecimento do Atlântico Sul e do oceano austral, que têm um papel descomunal no bem-estar da humanidade”, disse Thomsom em vídeo exibido durante o encontro.

Os resultados de pesquisas realizadas no âmbito do programa poderão contribuir para aprimorar os modelos climáticos, para que seja possível prever com maior grau de certeza os impactos das mudanças climáticas no oceano, avaliou Thelma Krug, presidente do Global Climate Observing System, ex-vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e membro do Conselho Superior da FAPESP.

“Os oceanos são responsáveis por absorver cerca de 25% das emissões de gases de efeito estufa e há uma preocupação científica por não sabermos se esse comportamento será mantido com as mudanças climáticas”, disse Krug.

“Todos os modelos climáticos mostram que os oceanos serão altamente impactados pelas mudanças climáticas neste século. Portanto, precisamos de observações para tornar os modelos climáticos cada vez mais robustos para que possamos agir por meio da adaptação e mitigação”, avaliou. 

Um dos eixos temáticos do PROASA, em relação à infraestrutura, é justamente ampliar o sistema e observação e modelagem do Atlântico Sul e da Antártida, sublinhou Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da USP e coordenador do programa.



Alexander Turra, coordenador do PROASA (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)

“A ideia é criar uma representação digital do Atlântico Sul e da Antártida com o objetivo de usar a ciência para reduzir a vulnerabilidade da sociedade aos riscos relacionados aos oceanos, como inundações e deslizamentos”, explicou Turra.

Outros dois eixos temáticos do programa são relacionados ao ambiente e à sociedade. Em relação ao ambiente, a ideia é compreender a estrutura, o funcionamento e a importância dos sistemas socioecológicos do Atlântico Sul e da Antártida e suas conexões. Já em relação ao eixo sobre sociedade um dos objetivos é desenvolver uma economia oceânica sustentável e equitativa, fortalecendo tecnologias transformativas.

“Também pretendemos implementar ações voltadas a conservar e restaurar a biodiversidade e os ecossistemas para desenvolver soluções baseadas na natureza, por exemplo, e compreender e combater a poluição marinha”, disse Turra.

De acordo com Zago, o PROASA terá duração inicial de cinco anos e contará com a realização de projetos de pesquisa conjuntos, bolsas de doutoramento e pós-doutoramento, uma conferência anual sobre investigação oceânica e recursos para instrumentação.

“Um objetivo fundamental do programa deverá ser a criação de um grande repositório digital para os participantes partilharem dados com um forte apoio das tecnologias digitais e da inteligência artificial. Nas próximas semanas, a FAPESP lançará uma chamada para jovens pesquisadores que desejam participar da empreitada e solicitará aos participantes do programa que criem as bases de um data center e de um repositório para facilitar a coleta e o acesso dos dados a todos”, afirmou.

Também participaram do evento de lançamento do PROASA Marcio de Castro Silva Filho, diretor científico da FAPESP; Olival Freire Junior, diretor científico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); e Vahan Agopyan, secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação.
 

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