Nubia Caramello (Ifap), uma das coordenadoras do projeto da Iniciativa Amazônia+10 no Amapá: demandas vão desde o acesso à energia e à educação até novas alternativas de renda (foto: Fapeap/divulgação)
Pesquisadores da Iniciativa Amazônia+10 começam a apresentar os primeiros resultados nas áreas social, ambiental e econômica
Pesquisadores da Iniciativa Amazônia+10 começam a apresentar os primeiros resultados nas áreas social, ambiental e econômica
Nubia Caramello (Ifap), uma das coordenadoras do projeto da Iniciativa Amazônia+10 no Amapá: demandas vão desde o acesso à energia e à educação até novas alternativas de renda (foto: Fapeap/divulgação)
Luciana Constantino | Agência FAPESP – Pesquisadores da Iniciativa Amazônia+10 começam a apresentar os primeiros resultados de um diagnóstico detalhado de comunidades do vale do Guaporé (Rondônia) e do vale do Jari (Amapá) construído com a participação direta de 2 mil moradores e baseado em cerca de 400 entrevistas.
Pouco mais de três anos após o início das expedições, as demandas mapeadas orientam agora ações práticas em três áreas: social, ambiental e econômica. Vão desde a oferta de cursos de curta e média duração e a elaboração de programas de formação inicial e continuada até o monitoramento da qualidade da água do rio Jari (que deságua no rio Amazonas) e a definição de diretrizes para a implantação de turismo em comunidades extrativistas e quilombolas na Amazônia.
O trabalho de caracterização socioambiental e de diagnóstico da gestão territorial nos dois vales envolve pesquisadores de quatro instituições – Instituto Federal do Amapá (Ifap), Universidade Federal de Rondônia (Unir), Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Parte dos resultados das expedições foi apresentada em painel realizado no início de novembro na Zona Verde da COP30, em Belém (PA), pela professora do Ifap Nubia Caramello, uma das coordenadoras do projeto da Iniciativa Amazônia+10 no Amapá.
“As demandas são muitas. Vão desde o acesso à energia e à educação até novas alternativas de renda, contribuindo para o desenvolvimento da bioeconomia local. O turismo é uma dessas alternativas. Diante da demanda, estamos trabalhando em um livro de diretrizes construídas em conjunto com as comunidades para o turismo em territórios fluviais na Amazônia”, explica Caramello à Agência FAPESP.
Segundo a professora, o pré-lançamento será em dezembro no Workshop Internacional Resiliência Climática, em Foz do Iguaçu, que contará com a presença de moradores das comunidades para contarem suas próprias histórias de empreendedorismo.
A Iniciativa Amazônia+10, criada com o objetivo de ampliar o financiamento à pesquisa e à inovação na Amazônia Legal, foi anunciada pela FAPESP em 2021, na COP26 de Glasgow. À época, a iniciativa se traduziu em um consórcio envolvendo os Estados de São Paulo e os nove da Amazônia Legal (por isso, Amazônia+10), tendo sido assumida depois pelo Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap). Hoje conta com a participação das FAPs de 25 unidades da Federação (leia mais em: agencia.fapesp.br/56543).
Capacitação
Para a professora Irene Carniatto, da Unioeste, um dos pontos importantes para as comunidades é a educação e a formação continuada. Em alguns desses locais, até 40% dos adultos não sabem ler nem escrever – muitos não chegam ao ensino médio por falta de escolas nas comunidades.
“Em locais onde o transporte depende de barco, crianças saem de manhã e retornam no final do dia, perdendo muito do convívio e aprendizagem com a família. Muitas vezes, essas famílias são divididas para que os filhos continuem os estudos. As mães são obrigadas a se mudar para cidades próximas para que os jovens façam o ensino médio. Isso traz uma grande dificuldade. Eles também perdem a ligação cultural e de pertencimento local. Não queremos que haja esse êxodo. Por isso, fomos para lá, ouvi-los e tentar ajudar”, diz Carniatto.
Nesse sentido, estão sendo planejados não só cursos voltados aos jovens como também formação continuada com foco nas cadeias produtivas locais. Uma das etapas de entrega será a identificação de microcadeias produtivas nas comunidades agroextrativistas.
Segundo o professor Frederico Yuri Hanai, do Departamento de Ciências Ambientais da UFSCar, a vasta experiência prévia das equipes de coordenadores e pesquisadores envolvidos em trabalhos comunitários tem sido um dos pontos positivos do projeto.
“Eles têm demonstrado profunda sintonia e sinergia na execução das ações, agindo com responsabilidade e sensibilidade. Isso também se manifesta na aplicação de métodos inclusivos e integradores e na adoção de um comprometimento imersivo, visando promover a aprendizagem recíproca, ao mesmo tempo em que respeitam e valorizam a identidade de todas as comunidades”, afirma.
Hanai conta com dois apoios da FAPESP para o projeto (25/01200-0 e 22/10445-9).
Construção coletiva
Caramello conta que o processo de diagnóstico construído no projeto foi guiado pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, com oficinas para explicar o que os ODS são e representam. A partir daí, os moradores escolheram as metas e indicaram como prioritários 13 dos 17 ODS.
Estabelecidos em 2015, os ODS compõem uma pauta mundial para a construção e implementação de políticas públicas com foco na Agenda 2030 – um plano de ação para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir o bem-estar a todas as pessoas.
O trabalho metodológico do projeto foi baseado em pesquisa-ação e gestão participativa, com validações sucessivas e definição conjunta de prioridades de curto, médio e longo prazo.
O vale do Guaporé (Amazônia Ocidental) e o do Jari (Amazônia Oriental) abrigam uma rica sociobiodiversidade amazônica, mas são territórios marcados por conflitos socioambientais que afetam não só as populações como os recursos naturais.
Em algumas áreas há ainda os impactos da pesca esportiva, que têm provocado danos ambientais e perdas, especialmente para as comunidades tradicionais, incluindo quilombolas e indígenas, que dependem dos peixes como fonte de alimento e da água dos rios para sobrevivência.
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