Em workshop na sede da FAPESP, especialistas discutem perspectivas para a pesquisa em ciência da computação. Estimular o pós-doutorado e o intercâmbio internacional são algumas das prioridades detectadas

Visibilidade para a computação
22 de outubro de 2008

Em workshop na sede da FAPESP, especialistas discutem perspectivas para a pesquisa em ciência da computação. Estimular o pós-doutorado e o intercâmbio internacional são algumas das prioridades detectadas

Visibilidade para a computação

Em workshop na sede da FAPESP, especialistas discutem perspectivas para a pesquisa em ciência da computação. Estimular o pós-doutorado e o intercâmbio internacional são algumas das prioridades detectadas

22 de outubro de 2008

Em workshop na sede da FAPESP, especialistas discutem perspectivas para a pesquisa em ciência da computação. Estimular o pós-doutorado e o intercâmbio internacional são algumas das prioridades detectadas

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Estimular a internacionalização, atrair bolsistas de pós-doutorado e estreitar as relações com o mundo corporativo são medidas necessárias para fortalecer a área de ciência da computação. O tema foi discutido durante o workshop “Perspectivas para a pesquisa em computação no Estado de São Paulo”, realizado nesta terça-feira (21/10) na sede da FAPESP.

O evento reuniu cerca de 25 pesquisadores da área, incluindo responsáveis por Projetos Temáticos e coordenadores de pós-graduação dos cursos de ciências da computação. De acordo com um dos palestrantes, José Carlos Maldonado, professor do Departamento de Ciências da Computação e Estatística da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, o objetivo principal foi discutir ações que permitam aumentar os resultados e a visibilidade da pesquisa na área.

“O Estado de São Paulo é responsável por mais de 50% da produção científica do país e, na área de computação, forma de 30% a 40% dos recursos humanos. Precisamos ter uma visibilidade compatível com essa relevância. Para isso, temos que identificar com mais precisão nossas dificuldades e competências”, disse à Agência FAPESP.

Segundo ele, uma das necessidades apontadas durante o workshop é o estímulo à realização de eventos internacionais. “Trazer visitantes internacionais, incluindo jovens pesquisadores e grandes personalidades da área, é importante para aprender a trabalhar em rede. Esses visitantes eventualmente podem se interessar em vir trabalhar, cooperar ou fazer seus pós-doutorados aqui”, disse Maldonado, um dos coordenadores da FAPESP na área de Ciência e Engenharia da Computação e presidente da Sociedade Brasileira de Computação (SBC).

As discussões também apontaram para a necessidade de estimular a procura pelo pós-doutorado, que, segundo Maldonado, tem um papel central no sistema de produção científica. “Notamos que o número de pós-doutorandos na área no Estado de São Paulo não tem crescido, mesmo com um apoio muito forte da FAPESP, com bolsas e recursos complementares de valores bastante significativos”, disse.

Manter os doutores nas instituições de pesquisa não é uma missão fácil, porque a demanda e os salários no mercado são altos. “A concorrência do mercado em computação é salutar e é importante formar gente competente para o setor produtivo. Por outro lado, temos que pensar na realimentação do sistema de pesquisa. Se não formos capazes de manter alguns pós-doutores, quebramos a cadeia de formação e a indústria também acabará prejudicada”, afirmou.

A possível solução para o impasse pode estar ligada à internacionalização e à cooperação com o setor privado. “Já existem iniciativas para tentar trazer aporte financeiro capaz de melhorar o valor das bolsas, em cooperação com a indústria. Há exemplos muito bons disso em outras áreas como a de petróleo, no caso da Petrobras”, disse.

Outra prioridade para o pós-doutorado é atrair estudantes de outros países, principalmente da América Latina. “Com programas de doutorado-sanduíche podemos atrair pós-doutores dos países desenvolvidos. Mas há um potencial ainda maior entre os estudantes latino-americanos, que têm maior identificação cultural”, afirmou.

Segundo Maldonado, a pós-graduação em computação tem grande potencial de crescimento no Brasil. O país tem 16 programas de doutorado e 46 de mestrado na área. Em comparação, física tem 31 programas de doutorado e 48 de mestrado e química tem 36 de doutorado e 59 de mestrado.

“Dos 733 docentes permanentes da área em todo o Brasil, 175 estão em São Paulo, 118 no Rio de Janeiro, 60 em Minas Gerais e 20 no Espírito Santo. A região Sul tem 169, o Nordeste 128, o Centro-Oeste 37 e o Norte 26”, apontou.

Oportunidades desperdiçadas

De acordo com Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, que idealizou o workshop, a Fundação teve, em 2007, mais de 500 solicitações de auxílio na área de computação, contra cerca de 100 em 1993. As concessões passaram de 50, em 1993, para mais de 200 em 2007. Segundo ele, a FAPESP é a principal responsável por financiar pesquisa na área.

“A FAPESP investe cerca de R$ 12 milhões anualmente. São Paulo conta também com cerca de R$ 6 milhões do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e R$ 2 milhões da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior]”, disse.

Apesar do considerável volume de recursos, segundo Brito Cruz, São Paulo ainda conta com um número muito baixo de bolsas concedidas por pesquisador no pós-doutorado em computação. “Isso não ocorre por falta de recursos. Ao contrário, faltam projetos que cumpram os critérios de excelência para preencher toda a oferta de bolsas. Em mestrado e doutorado isso não acontece e o número de bolsas concedidas é equivalente à oferta”, afirmou.

Segundo ele, em 2007 a FAPESP concedeu cerca de 40 bolsas de mestrado, 25 de doutorado e 15 de pós-doutorado na área. “O número que calibra a quantidade de pós-doutorandos em uma boa universidade de pesquisa internacional é o número de doutorados defendidos no ano. Mas, nas universidades paulistas, o número de pós-doutorandos é mais ou menos equivalente a um terço do número de doutores formados. Isso mostra que há oportunidades que não estão sendo aproveitadas”, disse.

O Auxílio Pesquisador Visitante, modalidade oferecida pela FAPESP também não é suficientemente aproveitado na área de computação, segundo Brito Cruz, embora seja um recurso importante para promover a projeção internacional da pesquisa brasileira. Nos últimos 16 anos, houve 99 solicitações e 69 concessões.

“Seis solicitações por ano é um número muito baixo. Isso é um indicador da falta de comunicação das nossas instituições de pesquisa com o resto do mundo. Esses recursos permitem trazer pesquisadores para visitas de uma semana a um ano. É uma experiência valiosa para um aluno brasileiro ter em sua universidade palestras dos cientistas de expressão internacional que escreveram os livros que são usados em aula. Mas não estamos usando esse recurso”, ressaltou.
 

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