Artigo na Research Outreach explora conceito criado por José Goldemberg de ultrapassar tecnologias menos adequadas como alternativa de crescimento para países em desenvolvimento (foto: Eduardo Cesar / Pesquisa FAPESP)

Salto tecnológico para superar a crise energética global
05 de fevereiro de 2019

Artigo na Research Outreach explora conceito criado por José Goldemberg de ultrapassar tecnologias menos adequadas como alternativa de crescimento para países em desenvolvimento

Salto tecnológico para superar a crise energética global

Artigo na Research Outreach explora conceito criado por José Goldemberg de ultrapassar tecnologias menos adequadas como alternativa de crescimento para países em desenvolvimento

05 de fevereiro de 2019

Artigo na Research Outreach explora conceito criado por José Goldemberg de ultrapassar tecnologias menos adequadas como alternativa de crescimento para países em desenvolvimento (foto: Eduardo Cesar / Pesquisa FAPESP)

 

Agência FAPESP – Em 1975, o governo brasileiro lançou o Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool), que visava aliviar a esmagadora dependência do país em combustíveis fósseis com uma mudança para combustíveis mais limpos com base em álcool etílico.

“Graças a pesquisadores como o professor José Goldemberg, da Universidade de São Paulo, o programa foi um sucesso avassalador. Combinar os recursos naturais do país com um salto tecnológico – evitando tecnologias menos adequadas utilizadas por nações industrializadas – fez com que, hoje, o etanol substitua 50% da gasolina que de outra forma estaria em uso no Brasil. O professor Goldemberg argumenta que é hora de tomar a abordagem globalmente”, destaca um artigo publicado na Research Outreach.

O artigo explora o conceito de “salto tecnológico” criado por Goldemberg como alternativa de crescimento e de superação de problemas energéticos de países em desenvolvimento.

Goldemberg foi presidente da FAPESP de 2015 a 2018, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e reitor da Universidade de São Paulo. Ocupou os cargos de secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e de secretário de Ciência e Tecnologia e secretário de Meio Ambiente no Governo Federal, tendo sido também ministro da Educação.

O texto destaca que, tal como a distribuição desigual de riqueza, a maior parte da energia produzida no mundo é consumida por uma minoria. “Aproximadamente 70% da energia comercial no mundo é consumida pelos 25% da população mundial que vivem em países industrializados, com os restantes 30% sendo racionados para os 75% das pessoas que vivem nas nações em desenvolvimento.”

“Esta situação não é sustentável e seria ingênuo esperar que o balanço permaneça o mesmo. Se olharmos para os dados, veremos que o uso energético das nações industrializadas tem estabilizado nos últimos anos, enquanto o dos países em desenvolvimento continua a crescer. O que ocorrerá quando as escalas se alterarem e os países em desenvolvimento consumirem mais e mais energia, particularmente energia de combustíveis fósseis poluentes? O professor Goldemberg passou toda a sua carreira lidando com problemas como esses e, se a degradação ambiental produzida pelo homem e as mudanças climáticas forem a pílula mais amarga que nossa geração terá que engolir, talvez possamos tirar uma folha de seu trabalho para adoçar esse gosto com açúcar”, escreveram os autores.

O artigo faz um histórico do Pró-Álcool e ressalta um artigo publicado por Goldemberg na revista Science, em 1978. “[No artigo] ele olhou especificamente para o custo e gasto energético de várias culturas diferentes: cana-de-açúcar, mandioca e sorgo doce ou sacarino. Ele se concentrou nessas culturas específicas por serem essencialmente uma forma de energia solar não poluente: os raios solares fornecem as colheitas com a energia de que necessitam para crescer e a energia extra é armazenada pelas plantas, podendo ser extraída posteriormente na forma de álcool etílico.”

“O trabalho do professor Goldemberg demonstrou que a cana-de-açúcar era a cultura mais eficiente ao converter a energia solar em um combustível químico e abriu o caminho para o boom energético brasileiro que se seguiu. Hoje, estima-se que 50% da gasolina que estaria em uso para abastecer carros no Brasil foi substituída por etanol de cana-de-açúcar, um combustível renovável. Um feito que foi possível, em parte, pelo que o professor Goldemberg chama de salto tecnológico”, diz o artigo.

“O professor Goldemberg acredita que as nações em desenvolvimento podem – e devem – dar um salto sobre as tecnologias que são incompatíveis com suas situações específicas. Converter cana-de-açúcar em combustível é um exemplo específico de como isso pode funcionar bem, mas a abordagem pode ser generalizada para muitas tecnologias em todo o mundo”, escreveram os autores.

Segundo Goldemberg, se uma abordagem de salto tecnológico semelhante for adotada na luta contra as mudanças climáticas, a crise energética poderá ser evitada. “Um cálculo simples mostra que expandir o programa brasileiro de etanol por um fator de 10 forneceria etanol suficiente para substituir mais de 20% da gasolina usada no mundo”, disse.

O artigo Technological leapfrogging the global energy crisis pode ser lido em https://researchoutreach.org/articles/technological-leapfrogging-the-global-energy-crisis-changing-role-science-developing-countries-help-oncoming-climate-catastrophe/.
 

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