Para aumentar competitividade do etanol brasileiro, estudos feitos no país sobre impactos ambientais e socioeconômicos do produto precisam ganhar espaço nas revistas internacionais, segundo avaliação da indústria (foto: Eduardo Cesar)

Resultados além das fronteiras
26 de novembro de 2010

Para aumentar competitividade do etanol brasileiro, estudos feitos no país sobre impactos ambientais e socioeconômicos do produto precisam ganhar espaço nas revistas internacionais, segundo avaliação da indústria

Resultados além das fronteiras

Para aumentar competitividade do etanol brasileiro, estudos feitos no país sobre impactos ambientais e socioeconômicos do produto precisam ganhar espaço nas revistas internacionais, segundo avaliação da indústria

26 de novembro de 2010

Para aumentar competitividade do etanol brasileiro, estudos feitos no país sobre impactos ambientais e socioeconômicos do produto precisam ganhar espaço nas revistas internacionais, segundo avaliação da indústria (foto: Eduardo Cesar)

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Estudos feitos no Brasil sobre os impactos ambientais e socioeconômicos da produção de etanol de cana-de-açúcar têm mostrado a eficiência do biocombustível nacional. Mas, para que as pesquisas tenham de fato impacto positivo na competitividade da indústria nacional, é preciso aumentar o número de artigos publicados em revistas internacionais de alto impacto.

A avaliação foi feita por representantes da indústria sucroalcooleira nesta quinta-feira (25/11), durante o Workshop on Environmental, Social and Economic Impacts of Biofuels, realizado pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e pela Bio-based Ecologically Balanced Sustainable Industrial Chemistry (BeBasic) – programa de pesquisas financiado pelo governo da Holanda e voltado para o desenvolvimento de bioquímicos, biomateriais e biocombustíveis.

O workshop teve o objetivo de discutir tópicos relacionados aos impactos da produção e do uso de biocombustíveis, a fim de definir temas e questões que poderão ser estudados em conjunto pelo BIOEN e a Be-Basic.

Luiz Fernando Amaral, assessor de Meio Ambiente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), foi o primeiro palestrante, com o tema “Perspectivas da indústria sobre inovação e impacto dos biocombustíveis”. Segundo ele, os cientistas brasileiros produzem estudos de qualidade sobre os impactos do etanol, mas precisam publicar mais em revistas internacionais de peso.

“É fundamental aumentar a quantidade dos estudos publicados em inglês em revistas científicas internacionais de alto impacto. A indústria se ressente especialmente da falta de publicações de pesquisa primária, com dados básicos, nesse tipo de publicação”, disse Amaral à Agência FAPESP.

Segundo ele, muitos estudos importantes de impactos do etanol têm sido publicados apenas em revistas nacionais, em português. Se não fosse essa limitação, aponta, tais dados poderiam ter impacto direto nas regulamentações e políticas internacionais adotadas para biocombustíveis, refletindo diretamente no mercado.

“Esses dados, muitas vezes, poderiam atestar a eficiência do etanol brasileiro, mostrando seu baixo impacto ambiental e socioeconômico. Mas não podemos utilizá-los nas negociações internacionais porque as publicações só têm abrangência local”, afirmou.

Um exemplo típico são os estudos sobre os estoques de carbono no solo. De acordo com Amaral, a Europa e o Japão fizeram recentemente cálculos de emissões relacionados aos impactos de mudança do uso do solo provocada pelo avanço da cultura de cana-de-açúcar.

Esses dados, provenientes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), deram base para uma avaliação do estoque de carbono existente quando a cana cresce sobre pasto, ou sobre terrenos onde havia outras culturas. “Só que os dados do IPCC não são para a cana-de-açúcar. São dados de culturas perenes e de culturas temporárias – e a cana não se enquadra em nenhuma das duas categorias”, destacou.

Os brasileiros apresentaram, então, segundo Amaral, dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que eram mais próximos da realidade. No entanto, esses estudos não haviam sido publicados em revistas internacionais que utilizam o sistema de revisão por pares.

“Mostramos milhares de mensurações feitas pelo setor privado e os valores eram muito diferentes do que eles haviam utilizado. Mas, como eram dados provenientes da indústria, não foram aceitos, por serem considerados tendenciosos pelos organismos internacionais”, disse.

Segundo Amaral, os estudos feitos pelo CTC posteriormente foram publicados em revistas internacionais e acabaram aceitos. “Esse exemplo é válido para muitas outras situações que enfrentamos. É fundamental publicar em revistas internacionais de impacto. Programas como o BIOEN-FAPESP certamente vão ajudar muito nesse sentido”, disse.

A vez da sustentabilidade

Na abertura do evento, o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, ressaltou que os estudos dos impactos ambientais e socioeconômicos dos biocombustíveis são especialmente importantes para São Paulo e para o Brasil.

“O Brasil obteve grandes avanços nas pesquisas sobre biocombustíveis, mas esses esforços estavam concentrados especialmente na questão da produtividade. Alguns avanços foram feitos em sustentabilidade, mas não se dava tanta importância para o tema. Nos últimos anos, considerando-se a quantidade o potencial da produção brasileira, o tema se tornou central”, afirmou.

Luuk van der Wielen, professor do Departamento de Biotecnologia da Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda, destacou a importância da colaboração entre o BIOEN e o programa Be-Basic, que ele coordena.

“Na nossa avaliação, se a Holanda quiser se manter entre as 20 maiores economias do mundo, é preciso investir na sustentabilidade econômica e ambiental. Isso só se faz com parcerias internacionais e com ciência. O Brasil, com sua experiência em bioenergia, é um parceiro muito importante nesse sentido. Mas é preciso também levar os avanços do laboratório para a realidade e, por isso, é fundamental entender os impactos sociais e econômicos dos avanços científicos”, disse.

Patricia Osseweijer, da Universidade de Tecnologia de Delft (Holanda), destacou que o interesse pelos impactos socioambientais da bioenergia decorre de uma necessidade estratégica para a Holanda. A parceria com o Brasil será fundamental para esse tipo de pesquisa.

“Está claro que, se quisermos construir uma economia sustentável, vamos precisar mudar. Mas é preciso saber agora o que mudar, como mudar e quem deve promover as mudanças. Por isso é tão importante que a Be-Basic e a FAPESP estejam juntando esforços nos estudos sobre os impactos ambientais, sociais e econômicos dos biocombustíveis”, disse.

De acordo com Glaucia Mendes de Souza, membro da coordenação do BIOEN-FAPESP, o programa tem procurado aumentar o número de pesquisadores envolvidos com o tema dos biocombustíveis, para que a pesquisa brasileira tenha impacto direto na produção industrial.

“Temos 250 pesquisadores trabalhando em projetos do BIOEN e outros 52 cientistas de 11 países que colaboram com pesquisas em São Paulo. Até agora tivemos um aumento de produção científica muito grande sobre etanol e outros biocombustíveis, mas não avançamos tanto ainda na área de sustentabilidade”, disse a professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP).

Heitor Cantarella, professor do Instituto Agronômico de Campinas e também membro da coordenação do BIOEN, destacou que o workshop foi importante para definir as principais questões ligadas aos impactos ambientais e socioeconômicos dos biocombustíveis e criar uma agenda de ação conjunta entre BIOEN e Be-Basic.

“Queremos estabelecer os pontos de convergência em relação aos impactos dos biocombustíveis, para, a partir dessa avaliação, conceber uma chamada conjunta para propostas de pesquisa. É muito importante para o Brasil aumentar o número dos projetos e das pessoas que trabalham com essa questão dos impactos”, disse.
 

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