Fontoura de Almeida no Congresso Nacional de Genética

Quando o DNA era escrito por extenso
17 de setembro de 2003

Em conferência no segundo dia do 49º Congresso Nacional de Genética, Darcy Fontoura de Almeida, professor emérito da UFRJ, fala sobre cientistas pouco conhecidos mas que merecem ser lembrados por ocasião dos 50 anos da descoberta da estrutura do ácido desoxiribonucleico, como Rosalind Franklin (foto)

Quando o DNA era escrito por extenso

Em conferência no segundo dia do 49º Congresso Nacional de Genética, Darcy Fontoura de Almeida, professor emérito da UFRJ, fala sobre cientistas pouco conhecidos mas que merecem ser lembrados por ocasião dos 50 anos da descoberta da estrutura do ácido desoxiribonucleico, como Rosalind Franklin (foto)

17 de setembro de 2003

Fontoura de Almeida no Congresso Nacional de Genética

 




Por Eduardo Geraque, de Águas de Lindóia

Agência FAPESP - Erwin Chargaff (1905-2002) e Rosalind Franklin (1920-1958) são dois cientistas que não ficaram famosos com a descoberta da estrutura de dupla hélice do DNA, descrita em 1953 por James Watson e Francis Crick. Em sua conferência no 49ª edição do Congresso Nacional de Genética, na quarta-feira (17/9), em Águas de Lindóia (SP), o geneticista Darcy Fontoura de Almeida fez questão de recolocar a importância dos dois na história da genética mundial.

"Chargaff era um crítico da ciência. Além de menino prodígio, poliglota, arrogante, sarcástico e engraçado", disse Almeida, professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ele, o grande feito do bioquímico austríaco foi ter estudado as concentrações molares das bases da molécula, ainda desconhecida, do DNA. "Seu problema foi não ter percebido a importância que havia em seus estudos."

"O grande equívoco de Chargaff foi não ter descoberto que a própria chave que descobriu (para entender a molécula de DNA) era cifrada", avaliou Almeida. Apesar de pouco lembrado pelas suas conquistas, é justo, segundo o professor da UFRJ, creditar um título a Chargaff. "É dele o prefácio da nova gramática da biologia". O próprio pesquisador austríaco chegou a comentar que, a partir dos seus estudos, seria difícil continuar a escrever DNA por extenso, ou seja, ácido desoxiribonucleico.

Quanto à outra personagem que mereceria ser mais lembrada, Almeida é ainda mais efusivo. "Eu sou apaixonado por Rosalind Franklin. Até minha mulher sabe disto", brincou ao falar da pesquisadora que morreu jovem, aos 37 anos, de câncer. Ser mulher e bonita foram características que impuseram à carreira da cientista inglesa obstáculos enormes. No King´s College, em Londres, o machismo ainda imperava, e a pesquisadora teve dificuldades em conseguir colaboradores à sua altura.

"Ela deixou de lado a chamada forma B do DNA e, por muitos meses, perseguiu uma trilha falsa, mas que para ela parecia ser definitiva", disse Almeida. Além disso, outro problema talvez essencial na formação acadêmica de Rosalind pode ter tido um papel decisivo em sua biografia. "Faltava-lhe formação biológica. Ela não havia estudado biologia, que naquela época era considerada algo para jardineiros, por causa da relação com a botânica", disse.

No trabalho que entrou para a história, o da descoberta da dupla hélice de DNA, Rosalind ou Chargaff nem foram citados. Os autores, Watson e Crick, sempre foram econômicos nos elogios. De qualquer modo, Almeida recomenda a sua leitura. "Ele é brilhante e curto. A leitura dele não demora mais que dez minutos", frisou Almeida.

O 49º Congresso Nacional de Genética, que tem como tema A Dupla Hélice do DNA, continua até sexta-feira (19/9). O evento é realizado pela Sociedade Brasileira de Genética. Mais informações: www.sbg.org.br.


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