Espécie de marsupiais da Austrália está sendo extinta por tipo de câncer altamente contagioso e ainda sem tratamento; molécula descoberta em pesquisa brasileira tem potencial para barrar proliferação dos tumores (foto: Wayne MacLean/Wikimedia Commons)
Espécie de marsupiais da Austrália está sendo extinta por tipo de câncer altamente contagioso e ainda sem tratamento; molécula descoberta em pesquisa brasileira tem potencial para barrar proliferação dos tumores
Espécie de marsupiais da Austrália está sendo extinta por tipo de câncer altamente contagioso e ainda sem tratamento; molécula descoberta em pesquisa brasileira tem potencial para barrar proliferação dos tumores
Espécie de marsupiais da Austrália está sendo extinta por tipo de câncer altamente contagioso e ainda sem tratamento; molécula descoberta em pesquisa brasileira tem potencial para barrar proliferação dos tumores (foto: Wayne MacLean/Wikimedia Commons)
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Uma proteína descoberta em aranhas do Estado de São Paulo pode se tornar a salvação do diabo-da-tasmânia (Sarcophilus harrisii), espécie de marsupiais endêmica da ilha no extremo sul da Austrália. Conhecidos mundialmente pelo personagem TAZ, do desenho animado Looney Tunes, eles estão sendo devastados na Tasmânia por causa de um câncer altamente contagioso que deforma o focinho e a boca dos animais, impedindo-os de se alimentar.
“Fiquei extremamente feliz com a possibilidade de uma molécula descoberta durante o meu doutorado tirar uma espécie do risco de extinção. Sabíamos, lá nos idos de 2000, quando apresentei o trabalho, que a gomesina era uma molécula poderosa, com alto poder bactericida, antifúngico e antiviral. Porém, nunca podia imaginar que ela teria o potencial de evitar o desaparecimento de uma espécie”, disse Pedro Ismael da Silva Jr., do Centro de Toxinas, Resposta-imune e Sinalização Celular (CeTICS) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP.
A descoberta da gomesina não foi casual. Durante o doutorado realizado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), e defendido em 2000, Silva buscou moléculas bioativas no sangue das aranhas.
“Animais peçonhentos são tradicionalmente uma fonte de novas moléculas para o desenvolvimento de medicamentos. O interesse por aracnídeos costuma ser grande, principalmente pelo fato de serem animais muito antigos, estão na Terra há 450 milhões de anos, e terem mudado pouco. Fora isso, eles vivem em ambientes contaminados e devem ter um modelo que os defenda contra isso”, disse Silva à Agência FAPESP.
Entre as moléculas descobertas por Silva estava a gomesina, proteína encontrada no sangue da aranha-caranguejeira Acanthoscurria gomesiana. “Nestes últimos anos, nosso laboratório encontrou cerca de 30 moléculas promissoras como a gomesina, que estão sendo avaliadas.”
Silva explica que o que torna a gomesina interessante para o tratamento de câncer é sua atuação no desenvolvimento celular. “Ela atua no ciclo celular, modificando e dificultando o desenvolvimento dessas células tumorais que normalmente se propagam rapidamente. Ou seja, isso poderia ser usado para qualquer tipo de câncer”, disse.
No caso de bactérias e fungos, a gomesina tem atuação na membrana celular. “Geralmente a membrana desses microrganismos é carregada negativamente e a gomesina é um peptídeo catiônico, carregado positivamente. Por ação eletrostática, eles são atraídos para a superfície do organismo e acabam se inserindo na sua membrana, provocando o aparecimento de poros, ou removendo pedaços. Com essa ação, os organismos perdem a ligação com o exterior e acabam morrendo”, disse.
Pesquisadores australianos, em trabalho independente do realizado na USP, também estão estudando a gomesina. Em artigo publicado no periódico científico Cell Death Discovery , do grupo Nature, a equipe de pesquisadores australianos afirma que tanto o peptídeo gomesina (AgGom) encontrado em aranhas e o homólogo de tipo gomesina (HiGom) têm atividade tóxica e antiproliferação para as células do tumor facial do diabo-da-tasmânia.
Os pesquisadores australianos encontraram o peptídeo em outra espécie de aranha na Austrália, a Hadronyche infensa, e também sintetizaram a substância. O estudo testou, pela primeira vez, as propriedades antiproliferação da gomesina in vitro e de seu análogo sintético com possíveis candidatos para o tratamento do tumor facial do diabo-da-tasmânia.
A comprovação de que a gomesina previne a proliferação de células para o tumor facial do diabo-da-tasmânia é um ótimo indicativo para a perpetuação da espécie, que atualmente, de acordo com a Lista vermelha, é vulnerável.
Desde 1996, quando a doença emergiu, estima-se que 80% da população de diabo-da-tasmânia tenha sido morta. Os tumores primários aparecem na face ou dentro da boca do animal e se desenvolvem em grandes tumores globulares que evoluem para metástase rapidamente. A doença é altamente contagiosa, pois ocorre a transferência de células vivas de câncer entre os animais, por meio de mordidas. Estima-se que o animal chegue a óbito de três a seis meses após o aparecimento dos primeiros sintomas.
Um modelo de projeção da doença estima que, sem intervenção, o diabo-da-tasmânia pode ser extinto em 15 ou 25 anos, já que até agora não existe um tratamento para bloquear o avanço da doença.
Silva diz que, na época da descoberta da gomesina, a substância foi patenteada, porém projetos de parceria com empresas da indústria farmacêutica para a criação de um produto não foram adiante. “As empresas não tinham interesse em investir em testes clínicos, uma parte muito cara da pesquisa e essencial para o desenvolvimento de medicamentos”, disse.
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