Pesquisa da UFSCar compara a prevalência e os fatores associados à doença, diagnosticada ou não, em amostra representativa de ingleses e brasileiros (foto: UFSCar/Freepik)

Prevalência de diabetes acima de 50 anos é duas vezes maior no Brasil do que na Inglaterra, aponta estudo
17 de novembro de 2020

Pesquisa da UFSCar compara a prevalência e os fatores associados à doença, diagnosticada ou não, em amostra representativa de ingleses e brasileiros

Prevalência de diabetes acima de 50 anos é duas vezes maior no Brasil do que na Inglaterra, aponta estudo

Pesquisa da UFSCar compara a prevalência e os fatores associados à doença, diagnosticada ou não, em amostra representativa de ingleses e brasileiros

17 de novembro de 2020

Pesquisa da UFSCar compara a prevalência e os fatores associados à doença, diagnosticada ou não, em amostra representativa de ingleses e brasileiros (foto: UFSCar/Freepik)

 

Agência FAPESP * – Um estudo desenvolvido na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) revelou que o Brasil tem o dobro da prevalência de diabetes – diagnosticado e não diagnosticado – em pessoas acima dos 50 anos em comparação com a Inglaterra.

A pesquisa utilizou uma amostra representativa de ingleses e brasileiros entre os anos de 2012 e 2015. O trabalho, apoiado pela FAPESP, é fruto de um projeto de iniciação científica conduzido pela gerontóloga Eilane Souza Marques dos Santos e pela fisioterapeuta Roberta de Oliveira Máximo, sob orientação de Tiago da Silva Alexandre, do Departamento de Gerontologia (DGero) da UFSCar.

O diabetes está relacionado a um conjunto de complicações que comprometem a saúde e habilidades de autocuidado, principalmente em pessoas com mais de 50 anos. No entanto, duas outras condições também têm chamado a atenção da comunidade científica devido à sua relação com resultados adversos nessa população: o pré-diabetes e o diabetes não diagnosticado. "Já se sabe que o pré-diabetes é um estado de alto risco para o desenvolvimento do diabetes mellitus e o diabetes não diagnosticado aumenta o risco de complicações devido ao descontrole dos níveis de glicose no sangue; assim é fundamental a implementação de políticas de saúde e realização de triagens para minimizar ou evitar os danos causados por essas condições", destaca Alexandre.

Baseada nessas evidências, a pesquisa comparou a prevalência e os fatores associados ao pré-diabetes, diabetes não diagnosticado e diabetes diagnosticado em amostra representativa de ingleses e brasileiros com 50 anos ou mais.

Utilizando dados de estudos harmonizados sobre o envelhecimento, o projeto contou com 5.301 participantes do English Longitudinal Study of Ageing (Elsa) em 2012 e 1.595 participantes do Estudo Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros (Elsi) em 2015.

Os indivíduos foram questionados sobre o conhecimento do diagnóstico médico de diabetes e realizaram exames de sangue para confirmar o nível de hemoglobina glicada (HbA1c), sendo classificados em quatro grupos: não diabéticos – aqueles que apresentaram níveis normais de hemoglobina glicada (<5.7%) e não relataram diabetes; pré-diabéticos – que apresentaram níveis limítrofes de hemoglobina glicada (≥5.7% e <6.5%) e não relataram diabetes; diabéticos não diagnosticados – apresentaram níveis alterados de hemoglobina glicada (≥6.5%) e não relataram diabetes; e diabéticos diagnosticados – relataram diabetes, independentemente dos valores de hemoglobina glicada.

Os resultados apontaram que o Brasil e a Inglaterra apresentam diferenças nas prevalências e fatores associados a três condições de saúde, sendo que a Inglaterra possui maior prevalência de pessoas na condição limítrofe (pré-diabéticos), enquanto o Brasil possui maior prevalência de pessoas doentes, sejam eles diabéticos diagnosticados ou não diagnosticados. Em números, a prevalência de pré-diabetes, diabetes não diagnosticado e diabetes diagnosticado foi de, respectivamente, 48,6%, 3% e 9,6% na Inglaterra e 33%, 6% e 20% no Brasil.

Em relação aos fatores associados, os resultados indicaram que elementos-chave para o surgimento de doenças crônicas, incluindo a obesidade abdominal, hipertrigliceridemia, tabagismo e sedentarismo, foram comuns em ambos os países, embora a amostra inglesa tivesse mais condições adversas de saúde relacionadas aos três estados de diabetes, como, por exemplo, acidente vascular cerebral (AVC), doença cardiovascular, níveis baixos de HDL e hipertensão.

"O fato de o Brasil concentrar o maior número de pessoas com diabetes, diagnosticado ou não, pode ser devido a mudanças de hábitos de vida e ao elevado consumo de alimentos com baixa qualidade nutricional e de alto valor energético, uma vez que o diabetes teve forte associação com o sedentarismo e a obesidade", acrescenta Alexandre.

De acordo com o orientador, a pesquisa oferece uma oportunidade valiosa para comparações entre os países e gera discussões importantes para aprimorar as estratégias voltadas à melhoria dos serviços de saúde. "O diabetes é uma doença crônica que pode desencadear outros problemas, sendo essencial para os gestores dos serviços de saúde, bem como para os usuários desse serviços o reconhecimento dos fatores que podem levar ao aparecimento do pré-diabetes, diabetes não diagnosticado e diabetes diagnosticado", conclui ele.

Aprovada pelo London Multicentre Research Ethics Committee e pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Centro de Pesquisas René Rachou da Fundação Oswaldo Cruz, a pesquisa foi publicada na Public Health Nutrition.

* Com informações da Assessoria de Comunicação da UFSCar

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