Livro Routes to Cellulosic Ethanol reúne conhecimento consolidado em workshop do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia sobre um dos principais desafios da área: a produção do etanol a partir da celulose (Foto: Eduardo Cesar)

Plataforma para o etanol celulósico
21 de janeiro de 2011

Livro Routes to Cellulosic Ethanol reúne conhecimento consolidado em workshop do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia sobre um dos principais desafios da área: a produção do etanol a partir da celulose

Plataforma para o etanol celulósico

Livro Routes to Cellulosic Ethanol reúne conhecimento consolidado em workshop do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia sobre um dos principais desafios da área: a produção do etanol a partir da celulose

21 de janeiro de 2011

Livro Routes to Cellulosic Ethanol reúne conhecimento consolidado em workshop do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia sobre um dos principais desafios da área: a produção do etanol a partir da celulose (Foto: Eduardo Cesar)

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Cientistas de todo o mundo estão em busca de uma tecnologia para a produção em escala industrial do etanol derivado da celulose da cana-de-açúcar. Atualmente, só se pode fabricar etanol a partir da sacarose, que corresponde a um terço da biomassa da planta.

O etanol celulósico permitiria aproveitar os outros dois terços, aumentando a produtividade sem alterar a área plantada. Atingir esse objetivo, no entanto, não é tarefa trivial.

O conhecimento adquirido até agora na busca do etanol celulósico foi consolidado no livro Routes to Cellulosic Ethanol, que acaba de ser lançado pela editora norte-americana Springer.

Reunindo textos de alguns dos principais especialistas do mundo em etanol celulósico, o livro foi editado por Marcos Buckeridge, professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), e Gustavo Goldman, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, em Ribeirão Preto.

O livro é um produto do 1º Simpósio sobre Etanol Celulósico, realizado em setembro de 2008 com o objetivo de definir estratégias para obtenção do etanol celulósico por meios genéticos e bioquímicos. A obra também agregou o conhecimento gerado posteriormente, com o lançamento do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) do Bioetanol, coordenado por Buckeridge.

“O foco principal do livro é a ciência básica originária do BIOEN e do INCT, que buscam construir a plataforma de conhecimento necessária para que sejam desenvolvidas as tecnologias de etanol celulósico. No livro, procuramos consolidar o que foi conquistado até agora”, disse o cientista à Agência FAPESP.

Segundo Buckeridge – que também é diretor científico do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em Campinas (SP) –, a obra reúne textos de cientistas japoneses, norte-americanos, mas, sobretudo, de brasileiros. “O Brasil é o maior produtor mundial de etanol de cana-de-açúcar e pioneiro no desenvolvimento de tecnologias para o uso de etanol para geração de energia. O país tem décadas de estudos acumulados sobre o tema”, disse.

A obra é dividida em três partes: “Bioenergia”, “Parede celular das plantas, enzimas e metabolismos” e “Genética da parede celular das plantas”. A primeira parte contextualiza o tema da bioenergia e as outras duas tratam de aspectos ligados a uma questão crítica para o desenvolvimento do etanol celulósico: dominar o conhecimento sobre a degradação da parede celular da planta.

“Se pudermos entender a síntese das paredes celulares, os geneticistas e biólogos moleculares poderão desenvolver plantas com polissacarídeos atualmente inexistentes na cana-de-açúcar, mas que serão introduzidos a fim de facilitar a hidrólise do etanol celulósico”, afirmou.

Bioenergia no Brasil e no mundo

Na primeira parte, a obra apresenta uma visão geral sobre as rotas para o etanol celulósico. O físico José Goldemberg discute a questão da energia no mundo, a fim de mostrar a posição brasileira no contexto internacional da bioenergia.

Em seguida, Buckeridge, Wanderley dos Santos e Edgardo Gómez – ambos pesquisadores do CTBE – discutem a produção de etanol celulósico pela via bioquímica. Luiz Nogueira, da Universidade Federal de Itajubá, Joaquim Seabra, do CTBE, e Isaías Macedo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), finalizam a parte introdutória discutindo a produção de etanol celulósico pela via da gaseificação.

Alternativas de degradação

A segunda parte reúne os capítulos que tratam da degradação da parede celular por diferentes métodos. Takahisa Hayashi, da Universidade Agrícola de Tóquio (Japão), e Rumi Kaida, da Universidade de Kioto (Japão), escreveram sobre seus experimentos com madeira na Ásia. “Hayashi é um dos grandes pesquisadores da área no mundo. Nesses experimentos, eles utilizaram transgênicos para alterar a parede celular”, disse Buckeridge.

O contraponto brasileiro à experiência asiática é feito por um grupo da Escola de Engenharia de Lorena, da USP, liderado por Adriane Milagres. “Eles tratam especificamente do ataque enzimático em materiais lignocelulósicos, revelando a experiência que acumularam ao longo dos anos”, contou.

Um grupo da Universidade de Brasília (UnB), liderado por Edivaldo Filho, faz uma revisão sobre a atividade enzimática na degradação da parede celular. Em seguida, o artigo de Igor Polikarpov e Viviane Serpa – ambos do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), da USP, trata da estrutura das proteínas. “Polikarpov é um dos melhores especialistas brasileiros em cristalização e enzimas, entre elas as hidrolases”, disse Buckeridge.

Maria de Lourdes Polizeli lidera o grupo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), da USP, que contribuiu com um artigo sobre hidrolases de microrganismos usadas para a degradação da parede celular. “Ela tem uma das maiores coleções do mundo de enzimas e fungos bem caracterizados”, disse Buckeridge.

Richard Ward, também da FFCLRP-USP, é o autor de um artigo sobre engenharia de celulase para sacarificação de biomassa. “É um trabalho que eu considero espetacular: ele constrói proteínas que não existem na natureza e conta a história dessa engenharia, que já aplicou em plantas e microrganismos”, disse o membro da coordenação do BIOEN-FAPESP.

A segunda parte é encerrada com o artigo de Goldman sobre o melhoramento genético do uso da xilose – um açúcar de cinco carbonos – pelas leveduras. “É um tema muito importante, envolvendo um problema crítico para o processo do etanol celulósico. No artigo, Goldman conta seus experimentos, retrata o que já existe e indica o que ainda pode ser feito”, disse.

Brasil e Estados Unidos

A terceira parte tem o objetivo de traçar um paralelo entre o que está sendo feito no Brasil e nos Estados Unidos. “Em um dos capítulos, um grupo de autores norte-americanos mostra como eles estão explorando a maravilhosa diversidade do milho com uma abordagem genética muito avançada. O objetivo é chegar a uma planta ideal para a bioenergia”, contou Buckeridge.

Eric Lam, da Universidade de New Jersey (Estados Unidos), liderou o grupo que discutiu o desenvolvimento de “plantas inteligentes” para a produção de bioetanol. “Trata-se de uma área na qual eu e Hayashi também atuamos: buscar plantas capazes de degradar sua própria parede celular”, disse.

O grupo liderado por Marcelo Loureiro, da Universidade Federal de Viçosa, foi responsável por um artigo relacionado à seleção de plantas para uma conversão mais eficiente em bioetanol. “Eles coordenam um trabalho muito importante de busca de variedades que tenham modificações na parede celular para, a partir daí, produzir etanol celulósico”, contou Buckeridge.

O livro é encerrado com o artigo de Michel Lawton e Hemalatha Saidasan – ambos da Universidade Rutgers (Estados Unidos) – sobre genômica e parede celular. “Trata-se de um modelo de um musgo que tem um genoma muito pequeno e que pode servir para estudar o etanol celulósico”, disse.

 

 

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