Pesquisa do Inpe e Nasa mostra regiões do mundo com maior incidência de raios

O Brasil é o nº 1. O inédito estudo identificou todos os raios que chegam ao solo nas 24 horas do dia. Em termos de raios por km², as cidades africanas são as mais afetadas

Por Thiago Romero

Agência FAPESP - Pesquisa divulgada esta semana pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Nasa, a agência espacial norte-americana, aponta as regiões mais atingidas por descargas elétricas atmosféricas em todo o mundo. O estudo, realizado pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat), do Inpe, teve seus resultados publicados na edição de janeiro da revista norte-americana Geophysical Research Letters.

Os pesquisadores analisaram dados obtidos pelo satélite Optical Transient Detector (OTD). Lançado pela NASA em 1995, o satélite esteve em órbita até 2001. Os resultados foram extremamente precisos, pois o sensor à bordo do OTD registrou pela primeira vez na história da Nasa os relâmpagos a qualquer hora do dia. Antes, o que existia eram dados das descargas ocorridas apenas à noite. O satélite da NASA, entretanto, não foi capaz de distinguir os diferentes tipos de relâmpagos existentes no espaço, porque o aparelho mediu os raios que estavam dentro das nuvens e também aqueles que chegaram até o solo.

"A parceria com a NASA foi um grande progresso pois foi a primeira vez que se conseguiu fazer um mapeamento da atividade de relâmpagos no mundo inteiro", disse Osmar Pinto Júnior, chefe do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Inpe, à Agência FAPESP. Segundo o cientista, o instituto brasileiro ficou responsável em detectar todas as ocorrências de raios que atingem o solo. "Apenas as descargas que chegam à terra trazem conseqüências diretas na sociedade", disse Pinto Júnior.

Segundo o ranking das regiões afetadas, as cidades situadas na África Central são as mais atingidas em todo o mundo, sendo a primeira delas Kamembe, em Ruanda, com 33 raios por km², seguido pelos municípios de Boende e Lusambo, no Congo. A Argentina lidera o ranking da América do Sul, com a cidade de Posadas, que tem 17 raios por km² por ano. No Brasil, o município recordista é Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, com 13 raios por km² anuais. Campo Grande é a quarta cidade sul-americana e ocupa a posição de número 20 no ranking mundial.

Apesar dos municípios brasileiros não aparecerem na tabela com altos índices de incidência de raios por cidade, o Brasil pode ser considerado o campeão mundial se for considerado o número total de raios que atingem o país. "As regiões tropicais são as áreas de maior incidência de raios. Se olharmos o mapa do mundo veremos que o Brasil é o maior país da região tropical que recebe estes raios", diz Pinto Júnior. "Apesar de as áreas de maior ocorrência de raios por km² serem os pequenos países da África central, a grande extensão territorial do Brasil acaba fazendo com que caiam mais raios aqui do que na região africana", conclui. Segundo o pesquisador, caem anualmente em todo o Brasil entre 50 e 70 milhões de raios.

Segundo o pesquisador do INPE, morrem em média 100 pessoas atingidas por raios no país, por ano. Em termos econômicos, os prejuízos chegam aos R$ 500 milhões. "Os setores elétrico, industrial e de telecomunicações são os mais afetados", disse Pinto Júnior.

As 10 cidades na América do Sul em incidência de raios são:

1) Posadas - Argentina
2) Ocana - Colômbia
3) Concepción - Paraguai
4) Campo Grande (MS) - Brasil
5) Reconquista - Argentina
6) Porto Nacional (TO) - Brasil
7) Belém (PA) - Brasil
8) Juiz de Fora (MG) - Brasil
9) Maipures - Colômbia
10) Yurimagiuas - Peru

As 10 cidades do mundo em incidência de raios são:

1) Kamembe - Ruanda
2) Boende - Congo
3) Lusambo - Congo
4) Kananga - Congo
5) Kuala Lampur - Malásia
6) Calabar - Nigéria
7) Franceville - Gabão
8) Posadas - Argentina
9) Ocana - Colômbia
10) Concepción – Paraguai