Um dos focos do laboratório será a esporotricose, doença causada pelo fungo Sporothrix brasiliensis e transmitida pela arranhadura do gato doméstico (imagem: Manuela Gómez-Gaviria et al./Journal of Fungi/Wikimedia)
FAPESP passa a apoiar Centro de Micologia Médica da América Latina, rede global de laboratórios capitaneada pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, que conta ainda com unidade na África do Sul e em breve terá outra na Ásia. Fundação vai aportar cerca de 750 mil libras em cinco anos, enquanto instituição britânica investirá mais 1 milhão de libras
FAPESP passa a apoiar Centro de Micologia Médica da América Latina, rede global de laboratórios capitaneada pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, que conta ainda com unidade na África do Sul e em breve terá outra na Ásia. Fundação vai aportar cerca de 750 mil libras em cinco anos, enquanto instituição britânica investirá mais 1 milhão de libras
Um dos focos do laboratório será a esporotricose, doença causada pelo fungo Sporothrix brasiliensis e transmitida pela arranhadura do gato doméstico (imagem: Manuela Gómez-Gaviria et al./Journal of Fungi/Wikimedia)
André Julião | Agência FAPESP – Apesar de uma incidência anual de 6,5 milhões de infecções fúngicas invasivas no mundo, com 3,8 milhões de mortes, segundo levantamento recente, as micoses são subnotificadas e ainda pouco estudadas.
Com pesquisadores respeitados nesse campo e contando com a ocorrência de quase todas as micoses endêmicas do mundo, o Brasil é estratégico para o estudo dessas infecções e foi escolhido pela Universidade de Exeter, do Reino Unido, para a instalação da unidade da América Latina do Centro de Micologia Médica (CMM).
Inaugurado na Universidade de São Paulo oficialmente em setembro de 2024 para avançar na compreensão, prevenção e tratamento das infecções fúngicas no continente, o Centro de Micologia Médica da América Latina (CMM Latam) conta agora com apoio da FAPESP.
A Fundação vai aportar, nos próximos cinco anos, cerca de 750 mil libras (em torno de R$ 5,5 milhões) em bolsas e material de pesquisa para pesquisadores e pós-graduandos atuando no Estado de São Paulo. A contrapartida da Universidade de Exeter, idealizadora da rede, será de 1 milhão de libras (cerca de R$ 7,5 milhões) para financiar materiais e pesquisadores fora do Estado e em outros países da América Latina.
O CMM já conta com uma unidade na África do Sul, voltada para o estudo das micoses no continente africano, e em breve deve inaugurar mais uma unidade, na Ásia, em local ainda a ser definido.
“Somos um centro virtual, uma rede internacional de laboratórios que trabalha em sinergia para compreender a história natural dos fungos patogênicos, a prevenção e para propor novas estratégias diagnósticas e terapias”, explica à Agência FAPESP Arnaldo Colombo, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) e coordenador-geral do CMM Latam.
Colombo coordena ainda o Instituto Paulista de Resistência a Antimicrobianos (ARIES), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP na EPM-Unifesp. O ARIES vai trabalhar em estreita colaboração com o CMM Latam.
Na USP, compõem ainda o CMM Latam pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo da Faculdade de Medicina (FM), sob coordenação de Carlos Pelleschi Taborda; da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), coordenados por Fausto Almeida, e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), com o professor Sandro Rogério de Almeida à frente.
O projeto do CMM Latam aprovado pela FAPESP inclui ainda pesquisadores da Fiocruz e Universidade Federal Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e de centros nos Estados Unidos, Espanha, Colômbia e Argentina.
“A partir de 2025 vamos receber submissões de projetos dentro de um sistema próprio, já utilizado pela Universidade de Exeter, em que pesquisadores de toda a América Latina poderão pedir financiamento para pesquisas dentro do escopo do CMM Latam”, conta Taborda, atual vice-diretor do ICB-USP e diretor a partir de julho.
Os projetos deverão envolver pelo menos dois pesquisadores trabalhando em diferentes locais. Projetos interdisciplinares envolvendo colaborações com cientistas de fora do Estado de São Paulo, incluindo o resto da América Latina e/ou o Reino Unido, terão preferência.
Focos
As pesquisas iniciais do CMM Latam serão focadas em três micoses presentes no Brasil. Uma delas, a esporotricose, é considerada uma epidemia no Brasil, tendo até uma variante nacional, Sporothrix brasiliensis. É transmitida para humanos pela arranhadura de gatos domésticos.
“Estudos epidemiológicos mostram que as infecções foram da costa brasileira, passando pelo interior do país e chegando a Argentina, Paraguai e Uruguai”, conta Taborda.
A criptococose, transmitida por leveduras do gênero Cryptococcus, está presente no mundo todo, mas tem um foco importante em pacientes com Aids, transplantados e diabéticos, com sistema imune comprometido.
A terceira, a histoplasmose, causada pelo fungo Histoplasma capsulatum, está presente principalmente nas Américas, dos Estados Unidos à Argentina, mas com casos na África e em alguns pontos da Europa. No Brasil, tem especial interesse devido à infecção de pacientes imunodeprimidos.
Estes e outros modelos de micoses serão abordados em cinco principais dimensões: evolução microbiana e patogênese; estudo de biomarcadores e novas estratégias diagnósticas; carga de doença, história natural e abordagem terapêutica; interface de saúde ambiental, veterinária e humana em doenças fúngicas; educação e capacitação de centros para diagnóstico, prevenção e tratamento.
“Nossa expectativa é ser o maior centro de ensino e pesquisa da América Latina em micoses endêmicas. Para isso, estamos criando esse grupo multidisciplinar e multi-institucional para desenvolver novas estratégias no combate a essas infecções. É uma causa justa, importante para a sociedade”, afirma Colombo.
A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.