Marco Antonio Zago (em pé), presidente da FAPESP, participou da abertura do evento (Felipe Maeda/Agência FAPESP)
Em cerimônia na FAPESP, também foram empossados os novos membros titulares e afiliados da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, além dos integrantes do Conselho Diretor para o próximo triênio
Em cerimônia na FAPESP, também foram empossados os novos membros titulares e afiliados da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, além dos integrantes do Conselho Diretor para o próximo triênio
Marco Antonio Zago (em pé), presidente da FAPESP, participou da abertura do evento (Felipe Maeda/Agência FAPESP)
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Em cerimônia realizada no auditório da FAPESP na última quinta-feira (14/09), o professor da Universidade de São Paulo (USP) Adriano D. Andricopulo tomou posse como presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) para o triênio 2023-2026, tendo como vice a bióloga Marie-Anne van Sluys, também da USP. Josué de Moraes, da Universidade Guarulhos (UNG), tornou-se o novo diretor-executivo da entidade e Norberto Peporine Lopes, da USP, assumiu como diretor financeiro.
Também foram eleitos os membros do Conselho Diretor para o próximo triênio: Maria Lúcia Carneiro Vieira (Ciências Agrárias), Carlos Alfredo Joly (Ciências Biológicas), Isolda Costa (Ciências da Engenharia), Maria de Fátima Andrade (Ciências da Terra), Renato Janine Ribeiro (Ciências Humanas e Sociais), Flavio Ulhoa Coelho (Ciências Matemáticas), Hernan Chaimovich (Ciências Químicas), Paulo Artaxo (Ciências Físicas) e Vanderlan S. Bolzani (ex-presidente da Aciesp).
Os suplentes eleitos são: Carlos F. O. Graeff (Ciências Físicas) e Ana Maria Fonseca de Almeida (Ciências Humanas e Sociais). Tomaram posse ainda os novos membros titulares e afiliados da academia. Com isso, a Aciesp fica com 274 membros titulares e 16 membros afiliados (grupo que inclui pesquisadores com menos de 40 anos).
"Queremos nos estabelecer como um centro de pensamento sobre o Estado de São Paulo, com estudos aprofundados em busca de soluções tecnológicas, inovadoras e de propostas de políticas públicas para questões estratégicas da sociedade paulista, como educação, saúde, meio ambiente, energia, diversidade, igualdade de gênero, cidades sustentáveis, segurança alimentar, entre outros temas que levem a um futuro sustentável e socialmente justo. É um momento de reconhecimento da excelência da ciência paulista. A Aciesp se reestruturou. Temos de reconhecer que muito foi feito, mas há ainda muito a se fazer", disse Andricopulo no discurso de posse.
O novo presidente da Aciesp foi vice de Bolzani na gestão anterior, quando foi aprovado o novo estatuto da Aciesp. Em seu discurso, ele ressaltou que a reestruturação ocorrida na entidade permitirá avançar em procedimentos administrativos, operacionais, financeiros, bem como no desenvolvimento de atividades mais amplas, como o estabelecimento de convênios e parcerias.
No ano passado, a entidade firmou uma parceria com a FAPESP para a elaboração do livro FAPESP 60 Anos: A ciência no desenvolvimento nacional. Para a obra comemorativa, a Aciesp reuniu pesquisadores seniores do Brasil e do exterior, além de jovens cientistas vinculados a instituições paulistas, para uma análise crítica do estado da arte da ciência em São Paulo e no Brasil. Outro objetivo da obra foi examinar as grandes oportunidades de pesquisa nos próximos anos. Os temas analisados foram debatidos em sete webinários realizados no decorrer de 2022.
"Hoje é uma festa para a ciência paulista e a ciência paulista está em festa há um bom tempo, pois tem destaque grande no que diz respeito à ciência, tecnologia e inovação [CT&I]. Somos responsáveis por quase 40% da produção de CT&I no país. Recentemente, comemoramos o resultado do ranking QS das melhores universidades da América Latina e do Caribe [QS University Ranking Latin America & The Caribbean], no qual as três universidades paulistas e a UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro] aparecem entre as dez melhores. Esse resultado é compreensível, pois é fruto de gestão, trabalho, educação, mas também de uma política do povo do Estado de São Paulo, que há 30 anos possibilita a essas universidades receber recursos previsíveis e permanentes do tesouro do Estado. O mesmo acontece com a FAPESP. Esse é o modelo que precisa ser adotado em outros lugares. Dinheiro não é tudo, mas sem dinheiro não se faz ciência", sublinhou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, durante a cerimônia.
Zago também destacou os avanços da Aciesp no último triênio, quando ocorreu a reestruturação da entidade.
Ao passar o cargo de presidente para Andricopulo, Vanderlan Bolzani falou sobre a importância política da Aciesp. "Nesses quatro anos como presidente aprendi que o cargo exige determinação, habilidade, entusiasmo e, sobretudo, o exercício da política. Só assim é possível destacar uma academia frente a diferentes grupos e a sociedade", disse.
Coube à presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, ressaltar os problemas que a ciência brasileira e, por consequência, a ciência paulista enfrentam atualmente.
"Embora estejamos num momento de muita alegria por mudanças que ocorreram no país, há um cenário que preocupa e diversos dados mostram isso. Vou mostrar alguns números que nos preocupam. Hoje é um dia de festa, mas fazer ciência em um país como o nosso inclui também ter contato com a nação brasileira, que às vezes é um pouco diferente do Estado de São Paulo", avaliou Nader.
A presidente da ABC pontuou dois aspectos preocupantes: a perda da janela demográfica e a queda no orçamento federal para a ciência. "O Brasil já perdeu a janela demográfica e não foi por falta de aviso. A ciência avisou. E, como bem disse o demógrafo José Eustáquio Diniz em artigo no Estadão, não há experiência histórica de um país que envelheceu antes e enriqueceu depois."
No que concerne ao custeio da ciência, Nader focou no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). "O FNDCT é a única fonte de financiamento da ciência no âmbito federal. Virou a tábua de salvação, mas a conta não vai fechar. O orçamento do ministério que está no congresso é vergonhoso", afirmou Nader.
Artaxo, membro do Conselho Diretor, ressaltou a importância do trabalho dos novos membros da Aciesp frente aos desafios orçamentários. "Os desafios da ciência em uma sociedade cada vez mais complexa estão crescendo e se diversificando. Os cientistas se veem na obrigação de enfrentar negacionismo e fake news. Após seis anos de negacionismo, chegamos a ouvir que a ciência voltou. Mas olhando as últimas decisões do orçamento do país podemos dizer que não, a ciência não voltou. E por isso estamos trabalhando para que ela possa voltar. Nesse cenário de incerteza, os novos membros têm um papel importante", disse.
Em seu discurso, Almeida destacou três aspectos importantes que devem guiar as ações da Aciesp para colocar a ciência a serviço do desenvolvimento de São Paulo e do país.
“Em primeiro lugar, a Aciesp está em condições de avançar na discussão sobre o que é desenvolvimento. De modo que a discussão não se restrinja apenas a seus aspectos mais estreitos, materiais. Nossa história recente mostrou que o desenvolvimento sem aprofundamento da experiência democrática, sem a garantia de direitos para aqueles que foram historicamente excluídos da cidadania plena não vai nos levar muito longe", opinou.
Para a pesquisadora, cabe também ao cientista estabelecer um diálogo interdisciplinar que traga para o debate os impactos da ação humana, das relações sociais, da política sobre a segurança, o bem-estar e as oportunidades oferecidas à população.
"Em segundo lugar, importa apoiar ações que levem ao maior letramento científico da população. Investir esforços nas novas gerações, que é um alvo estratégico inquestionável, mas também investir na nossa população adulta, pois isso não é um desperdício", pontuou.
"Por fim, em terceiro lugar, vou falar de um aspecto que me é caro, e tomo a liberdade de expressar um argumento a favor de uma ciência mais inclusiva, pois o reconhecimento da ciência como um patrimônio coletivo, como ferramenta para avanços sociais, só é possível quando a população se vê representada no estabelecimento científico. Como sabemos, o ecossistema científico não está imune às desigualdades presentes na sociedade mais ampla."
A Aciesp foi fundada em 1974, tendo como objetivo consolidar o Estado de São Paulo como principal centro regional de excelência científica da América Latina. O mandato dos novos membros é permanente e, entre as atribuições do cargo, estão a participação em reuniões, pautar o direcionamento da pesquisa científica no Estado e organizar debates em torno de temas ligados à política técnico-científica.
Os novos membros foram eleitos por indicação dos demais titulares. Uma comissão seleciona as indicações, vota e elege os membros titulares de cada área do conhecimento.
Novos membros titulares
Ciências Agrárias
Maria Lúcia Carneiro Vieira (USP)
Ciências Biológicas
Cristina Simão Seixas (Universidade Estadual de Campinas – Unicamp) e Dario Simões Zamboni (USP)
Ciências Biomédicas
Everardo Magalhães Carneiro (Unicamp)
Ciências da Engenharia
Isolda Costa (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – Ipen) e Vahan Agopyan (USP)
Ciências da Saúde
Gabriela Marques Di Giulio (USP) e Josué de Moraes (UNG)
Ciências da Terra
Luiz Eduardo Oliveira e Cruz de Aragão (Inpe) e Maria de Fátima Andrade (USP)
Ciências Físicas
Iberê Luiz Caldas (USP) e Kaline Rabelo Coutinho (USP)
Ciências Humanas e Sociais
Ana Maria Fonseca de Almeida (Unicamp) e Renato Janine Ribeiro (USP)
Ciências Matemáticas
Luiz Renato Gonçalves Fontes (USP)
Ciências Químicas
Maysa Furlan (Universidade Estadual Paulista – Unesp) e Norberto Peporine Lopes (USP)
Novos membros afiliados
Juliana Ferreira de Brito (Unesp), Leandro Wang Hantao (Unicamp), Marilia Valli (USP), Micael Amore Cecchini (USP) e Raphael Nagao de Sousa (Unicamp).
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