Para FHC, o caminho é investir no multilateralismo e nas instituições mundiais
(foto: E.Geraque)

Natureza da globalização
06 de maio de 2004

De volta à USP na quarta (5/5), onde é professor emérito, Fernando Henrique Cardoso foi o protagonista da conferência do mês no Instituto de Estudos Avançados. Em pauta, a nova ordem internacional. Para o sociólogo e ex-presidente, o caminho é investir no multilateralismo e nas instituições mundiais

Natureza da globalização

De volta à USP na quarta (5/5), onde é professor emérito, Fernando Henrique Cardoso foi o protagonista da conferência do mês no Instituto de Estudos Avançados. Em pauta, a nova ordem internacional. Para o sociólogo e ex-presidente, o caminho é investir no multilateralismo e nas instituições mundiais

06 de maio de 2004

Para FHC, o caminho é investir no multilateralismo e nas instituições mundiais
(foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Manter uma relação estável com os Estados Unidos, apesar da política externa unilateral do presidente George W. Bush. Investir em parceriais multilaterais regionais com os parceiros latino-americanos. Olhar para o mundo e procurar novas oportunidades econômicas e não apenas buscar o poder pelo poder.

A saída para que o Brasil continue com chances de não se tornar irrelevante no cenário internacional desse início de milênio passa por esses três caminhos. A assinatura da receita é do sociólogo e ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que esteve ontem (5/5) de volta à Universidade de São Paulo, onde tem o cargo de professor emérito.

Durante a conferência do mês do Instituto de Estudos Avançados (IEA), Cardoso falou por mais de uma hora – sobre política, apenas nas entrelinhas. Coerente com o título da conferência, Desafios da Ordem Internacional, procurou mostrar como o mundo mudou, principalmente nos últimos dez anos.

Para ele, não adianta mais competir com a China e a Índia pelo investimento externo. "Essa competição o Brasil já perdeu", disse. Olhar para os vizinhos brasileiros é um destino e não deve ser apenas uma circunstância qualquer. "Vejam casos positivos, como a compra de petróleo da Argentina e da Venezuela ou o gasoduto Brasil-Bolívia". Continuar olhando para o norte é também essencial, mas isso não significa a ausência de conflitos entre Brasil e Estados Unidos.

Dentro do conjunto de forças nacional, regional e global, Cardoso, que falou para um auditório quase lotado, não tem dúvidas. "É preciso estar preparado para participar, com agressividade, nas instituições de decisão global, como é o caso da Organização Mundial de Comércio", alerta. Bancos internacionais, como o FMI, já estariam ultrapassados. "Não se toma uma decisão no Fundo, hoje, sem o aval dos Estados Unidos. O FMI, criado em um contexto totalmente diferente, no pós-guerra, precisa se modernizar. É preciso que exista mais independência e transparência em órgãos como esse", afirmou.

Cardoso não acha também que a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) seja algo sem importância. "Em relação às nossas exportações, vendemos manufaturas apenas para a América Latina e Estados Unidos. Para a Europa e China, o que exportamos, na verdade, são commodities. Isso mostra que a discussão da Alca é muito importante."

No contexto do mundo assimétrico desenhado pelo ex-presidente, aproximações do Brasil com a China devem ser consideradas estratégias essenciais. "Temos que ser negociadores, sempre. E, ainda mais, termos em mente que uma estratégia errada, tomada em determinado ponto, poderá ter conseqüência terríveis. Não agora, mas daqui a 30 anos", disse.


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