Físico experimental trabalhou com Wataghin, Marcello Damy e Cesar Lattes e teve passagem importante pela USP, Unicamp, CBPF e Cern (foto: FAPESP)

Morre Jean Meyer, diretor-presidente da FAPESP de 1976 a 1980
27 de setembro de 2010

Físico experimental trabalhou com Wataghin, Marcello Damy e Cesar Lattes e teve passagem importante pela USP, Unicamp, CBPF e Cern

Morre Jean Meyer, diretor-presidente da FAPESP de 1976 a 1980

Físico experimental trabalhou com Wataghin, Marcello Damy e Cesar Lattes e teve passagem importante pela USP, Unicamp, CBPF e Cern

27 de setembro de 2010

Físico experimental trabalhou com Wataghin, Marcello Damy e Cesar Lattes e teve passagem importante pela USP, Unicamp, CBPF e Cern (foto: FAPESP)

 

Agência FAPESP – O físico Jean Albert Meyer, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP de 1976 a 1980, morreu na sexta-feira (24/9), aos 85 anos, em Paris, em decorrência de um derrame. O velorio será no crematório do cemitério Père-Lachaise, na capital francesa, na quarta-feira (29/9) às 10h20.

“Físico experimental de grande capacidade científica e de organização de pesquisa, apesar de ter feito grande parte de sua carreira no exterior – na Itália e em importantes laboratórios europeus –, deu contribuições significativas na Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), nas universidades federais da Bahia e do Rio de Janeiro, no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (membro fundador), e em diversos órgãos de fomento à pesquisa no Brasil, como Finep, CNPq e FAPESP”, destacou Amélia Império Hamburger no livro FAPESP 40 anos – Abrindo Fronteiras (2004).

"A FAPESP lamenta profundamente o falecimento do doutor Meyer, um físico de grande qualidade, com contribuição muito grande em sua área de estudo e de importante participação na FAPESP no periodo em que ocupou a diretoria da presidência do CTA da Fundação", disse Celso Lafer, presidente da FAPESP.

Meyer nasceu em Dantzig (atualmente Gdansk), na Polônia, em 25 de maio de 1925. Com as perseguições nazistas contra os judeus, veio com a família a São Paulo, em 1940. Estudou no Colégio Franco-Brasileiro e trabalhou como operário em uma indústria química, até terminar o curso universitário.

“Esse intermezzo operário foi extremamente interessante porque aprendi a fazer coisas que dificilmente aprenderia na universidade”, disse em entrevista ao professor Shozo Motoyama, diretor do Centro Interunidade de História da Ciência da USP, no livro organizado por Amélia.

Indeciso entre física e filosofia, conheceu o professor Gleb Wataghin (1899-1986), então diretor do Departamento de Física da Universidade de São Paulo, e entrou para o curso de física. Começou a trabalhar em experiências sobre raios cósmicos, construindo detectores geiger.

“Era um curso com muito poucos alunos e muito bons professores. A iniciação com raios cósmicos foi dirigida por Wataghin, Marcello Damy e Cesar Lattes. Fizemos experiências que tiveram uma repercussão internacional. Participei desse começo”, disse.

Depois da volta de Wataghin à Itália, em 1949, Meyer tentou continuar o grupo de raios cósmicos, mas não teve apoio. De 1951 a 1953, esteve na França, no Laboratório do professor Leprince Ringuet na Escola Politécnica de Paris.

Voltou à USP, mas em 1956 partiu novamente para a Europa, primeiro em Pádua, Itália, e em seguida na França, em Saclay, onde trabalhou com física nuclear e física de partículas elementares. Em 1968, recebeu convite para retornar à USP, “mas veio o AI-5 e não voltei”, disse.

"Meyer não é muito conhecido no meio brasileiro. Provavelmente, isso ocorre, sobretudo, por três razões: pela evidência internacional de alguns colegas da sua geração como César Lattes, José Leite Lopes e Roberto Salmeron; por ter vivido a maioria do seu tempo fora do país e, por isso, a sua atuação ter ocorrido mais no estrangeiro; e pela sua modéstia e senso crítico em relação ao seu trabalho. Entretanto, os seus numerosos trabalhos na área de raios cósmicos, física nuclear, de partículas elementares, criogenia e de energias alternativas não deixam dúvidas quanto a sua capacidade como pesquisador", disse Motoyama.

Em 1969, trabalhou no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), na Suíça, em experiências com aceleradores de partículas. Organizou um programa de pesquisas apoiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), sobre fontes de energias alternativas e, em 1975, voltou ao Brasil, dessa vez na Unicamp, para liderar um grupo no então novo campo de pesquisa. Foi nessa época que assumiu o cargo de diretor-presidente da FAPESP.

"Jean Meyer foi, desde o início, um dos impulsionadores do projeto do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). Não apenas no âmbito político, onde seu apoio (dentro e fora do laboratório) foi fundamental, mas também em questões organizacionais e técnicas. Sua experiência de trabalho em 'big science' no Cern, seu bom senso e seu bom humor, sua apreciação irônica e, ao mesmo tempo, generosa da natureza humana e sua extensa rede de relacionamentos estiveram sempre à disposição da jovem e inexperiente equipe do LNLS. Era um prazer trabalhar com ele. A comunidade usuária do LNLS deve mais a Jean Meyer do que sabe ou imagina", disse Cylon Gonçalves da Silva, presidente da Ceitec, professor emérito do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador adjunto de Programas Especiais da FAPESP.

Em 1980, Meyer voltou à França para o Comissariado de Energia Atômica, onde já tinha estado. Aposentou-se em 1990, “acabando a carreira como diretor do Laboratório da Escola Politécnica de Paris, onde comecei com Leprince Ringuet. Fechei o ciclo. É complexa a vida”, disse.
 

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