Autor de mais de 30 livros, três deles reconhecidos com o prêmio Jabuti, sua obra é considerada fundamental para entender o Brasil republicano, especialmente a era Getúlio Vargas (foto: Eduardo Cesar/Pesquisa FAPESP)
Autor de mais de 30 livros, três deles reconhecidos com o prêmio Jabuti, sua obra é considerada fundamental para entender o Brasil republicano, especialmente a era Getúlio Vargas
Autor de mais de 30 livros, três deles reconhecidos com o prêmio Jabuti, sua obra é considerada fundamental para entender o Brasil republicano, especialmente a era Getúlio Vargas
Autor de mais de 30 livros, três deles reconhecidos com o prêmio Jabuti, sua obra é considerada fundamental para entender o Brasil republicano, especialmente a era Getúlio Vargas (foto: Eduardo Cesar/Pesquisa FAPESP)
Agência FAPESP – Morreu na terça-feira (18/04) em São Paulo, aos 92 anos, o historiador, cientista político e escritor Boris Fausto, autor de obras fundamentais para a historiografia brasileira, como A Revolução de 1930: Historiografia e História (1970), Trabalho Urbano e Conflito Social (1976); Crime e cotidiano. A criminalidade em São Paulo (1984) e o livro didático História do Brasil (1994), entre muitas outras.
Nascido em 1930, na capital paulista, de uma família de imigrantes judeus, graduou-se (1953) em direito pela Universidade de São Paulo (USP), instituição em que atuou por muitos anos como consultor jurídico e onde, posteriormente, graduou-se em história (1966) e doutorou-se (1969) no Departamento de Ciência Política da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), pela qual obteve o título de livre-docente.
“Só quando me aposentei é que tive uma experiência como professor no Departamento de Ciência Política [1975]. Eu fui historiador além de advogado”, contou em entrevista concedida à Pesquisa FAPESP em 2011. “Eu fui meio como os historiadores do passado que raramente eram professores. Isso me deu liberdade de escrever o que queria, porque eu não tinha compromisso com carreira. Também me aproximou de São Paulo, porque eu não podia pesquisar fora da cidade”, acrescentou.
Em entrevista à Agência FAPESP, a professora da Faculdade de Direito da USP Nina Ranieri se referiu ao historiador como uma pessoa introspectiva, mas com enorme capacidade de crítica, síntese e reflexão, sem nenhuma arrogância. "Tinha um senso de humor incrível; pensava o mundo com humor”, comentou. Sobrinha de Boris Fausto, Ranieri lembra que ele foi importante nos rumos que tomou na vida. “Tivemos uma convivência estreita, com enorme identidade de interesses. Tinha uma capacidade enorme de fazer com que seu interlocutor se sentisse inteligente.”
A historiadora Maria Aparecida de Aquino, professora do Programa de Pós-Graduação em História Social da USP, ressaltou que Fausto era um grande estudioso do Golpe de 1930 e do período de Getúlio Vargas. “Sua obra mais significativa e mais importante para a historiografia é exatamente essa sobre os anos 1930 e 1940. Depois ele enveredou por uma série de outras batalhas. Fez trabalhos para livros didáticos, inclusive uma abordagem bastante ampla e plena sobre o Brasil republicano”, afirmou. “No trato pessoal, uma pessoa extremamente gentil, bastante atenciosa, um cavalheiro”, afirmou.
"Seus estudos marcaram a análise da revolução de 1930 e do Brasil, que saía da escravidão e ingressava no trabalho livre, com chagas indeléveis de um passado que insiste em persistir no presente. Destaco aqui seu excelente Crime e Cotidiano. A criminalidade em São Paulo, que fornece elementos empíricos e teóricos para a compreensão desse momento dramático. Foi generoso, organizando obras sobre a imigração e os volumes finais da História Geral da Civilização Brasileira. É ainda autor de memórias e obras mais acessíveis ao grande público, e sua História do Brasil foi traduzida em várias línguas e utilizada em vários países. Uma grande perda, mas um historiador que ficará, pois figura entre os mais significativos do Brasil na segunda metade do século 20 e início do 21", comentou a historiadora Laura de Mello e Souza, professora emérita da USP.
Em nota publicada no Jornal da USP, a Reitoria da universidade lamentou o falecimento “de um dos principais historiadores e cientistas políticos brasileiros”.
A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) também divulgou em seu site nota ressaltando a contribuição de Fausto aos estudos sobre as classes trabalhadoras. “É em seu livro Trabalho urbano e conflito social, de 1977, originalmente apresentado como tese de livre-docência à FFLCH, que pela primeira vez os estudos de Edward Thompson são referidos no Brasil. Onze anos depois, Boris Fausto volta a contribuir decisivamente nas reflexões acerca dos trabalhadores em seu artigo Estado, trabalhadores e burguesia (1920-1945), publicado na revista Novos Estudos, do Cebrap [Centro Brasileiro de Análise e Planejamento]". A nota afirma ainda que cada obra do autor é “ímpar e leitura obrigatória para todas e todos que pensam o Brasil do século 20. Toda a geração que veio a seguir a Boris Fausto é dele devedora”, sublinha o texto.
Foi membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), atuou como coordenador de Ciências Humanas da FAPESP, pesquisador sênior da Rockefeller Foundation e professor visitante da Brown University – as duas últimas nos Estados Unidos.
Em 1961, casou-se com a educadora e sócia-fundadora da Escola Vera Cruz, Cynira Stocco Fausto (1931-2010), com que teve dois filhos, o sociólogo Sérgio Fausto e o antropólogo Carlos Fausto.
Autor de mais de 30 livros, venceu três vezes o prêmio Jabuti. Em parceria com Sérgio Buarque de Holanda, organizou a coletânea História Geral da Civilização Brasileira, composta por 11 volumes.
“Boris Fausto, grande historiador e memorialista, além de cronista do cotidiano da memória, nos deixa com a certeza de que O medo do goleiro diante do pênalti [filme do cineasta alemão Wim Wenders], como ele escreve em Vida, morte e outros detalhes, é 'apenas o goleiro solitário que espera pela partida, sem nenhuma pressa'. E que, para grande tristeza nossa, partiu!, disse à Agência FAPESP Carlos Vogt, ex-presidente da FAPESP e diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel (FCW).
No Twitter, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, prestou condolências aos familiares do historiador: “Perdemos uma das maiores referências em nossas ciências sociais. Boris Fausto, historiador, deixa um legado brilhante, marcado pela coragem moral e o rigor acadêmico, no estudo da sociedade brasileira. Meu sincero pesar ao Sérgio Fausto e a toda a família”, disse.
“Perdemos hoje um brasileiro que nos ajudou a entender o que é Brasil. Sem Boris Fausto não saberíamos como o nosso país se formou”, comentou na mesma rede social o ex-ministro da Educação Cristovam Buarque.
Já o cientista político Sérgio Abranches o classificou na plataforma de mídia como “um dos mais lúcidos e coerentes pensadores brasileiros contemporâneos. Um intelectual público de muita relevância na vida brasileira”.
“Perdemos um homem humilde e sábio como poucos conseguem ser”, disse Luiz Schwarcz, editor e fundador da Companhia das Letras, no perfil da editora. A historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, uma das editoras de Fausto, completou: “Boris era um professor de vida”.
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