Diretora do Center for Global Food Security, da Purdue University, nos Estados Unidos, Brouder falou sobre papel do nitrogênio na agricultura e nas mudanças climáticas (foto: Erika de Faria/Temporal Filmes)
Durante Escola Interdisciplinar FAPESP, Sylvie Brouder falou sobre a importância do nitrogênio para as plantas e a segurança alimentar, mas também de como o uso excessivo de fertilizantes contribui para o aumento das emissões de gases do efeito estufa
Durante Escola Interdisciplinar FAPESP, Sylvie Brouder falou sobre a importância do nitrogênio para as plantas e a segurança alimentar, mas também de como o uso excessivo de fertilizantes contribui para o aumento das emissões de gases do efeito estufa
Diretora do Center for Global Food Security, da Purdue University, nos Estados Unidos, Brouder falou sobre papel do nitrogênio na agricultura e nas mudanças climáticas (foto: Erika de Faria/Temporal Filmes)
André Julião, de Itatiba | Agência FAPESP – As mudanças de uso do solo realizadas pela atividade agrícola são algumas das maiores responsáveis pelas emissões de gases do efeito estufa na atmosfera.
Como plantas e solo estocam carbono e um solo não balanceado em nutrientes gera mais emissões, nos últimos anos a agricultura entrou para o cardápio das soluções para mitigação das mudanças climáticas. Em 2009 surgiu o termo climate-smart agriculture (“agricultura inteligente em termos climáticos”, numa tradução livre), durante um evento da FAO, agência da Organização das Nações Unidas para alimentação e agricultura.
“Não que a agricultura tenha sido, até agora, climaticamente agnóstica, ignorante ou neutra. Ela sempre dependeu do clima”, disse Sylvie Brouder, diretora do Center for Global Food Security, da Purdue University, nos Estados Unidos, em palestra na Escola Interdisciplinar FAPESP 2024: Ciências Exatas e Naturais, Engenharias e Medicina, encerrada no dia 12 de dezembro (leia mais em: https://agencia.fapesp.br/53533).
A exposição da pesquisadora, ocorrida no dia 10, teve mediação de Ciro Rosolem professor da Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (FCA-Unesp).
Brouder contou que o que caracteriza a climate-smart agriculture não é diferente do que se chamava até então de conservation agriculture. “É o que no Brasil chamamos de agricultura de baixo carbono”, explicou Rosolem à Agência FAPESP.
Segundo Brouder, a mudança de nome foi uma forma de pôr as ciências agronômicas em evidência para o financiamento de pesquisas. Pelo menos nos Estados Unidos. “Queriam chamar a atenção de quem tem o dinheiro, falando de mitigação e adaptação climática. Basta lembrar que o financiamento à pesquisa em agricultura [nos Estados Unidos] tende a ser pouco quando comparado às outras áreas”, contou.
A pesquisadora apresentou números da literatura científica sobre mudanças climáticas, “reflexo do que a ciência está pautando em termos de políticas públicas”. Em 2015, segundo a base de dados Scopus, quase todos os estudos publicados eram sobre biologia, geofísica, meteorologia ou clima. E os dez artigos mais citados eram sobre sistemas naturais, hábitats, extinção etc. “Não sobre agricultura. Isso quando a mudança climática está obviamente afetando a agricultura”, apontou.
O papel do nitrogênio
A agricultura tem papel fundamental no balanço de nitrogênio no solo. Ao mesmo tempo que é um nutriente essencial, o excesso gera emissões de gases como o óxido nitroso. Este é um dos mais potentes causadores do efeito estufa.
Em sua experiência com produtores norte-americanos, ela conta que o temor de que suas plantações não rendam a colheita esperada faz com que muitos apliquem mais nutrientes no solo do que o necessário.
As consequências podem ser tanto econômicas, com gastos excessivos em fertilizantes, até ambientais, com poluição de rios e mares pelo excesso de nitrogênio e o aumento das emissões de gases de efeito estufa.
“Não há dúvida de que nitrogênio, fósforo e enxofre no solo são necessários para sequestrar o carbono. Mas é preciso saber a dose certa, ou o excedente vai gerar emissões indiretas, água de baixa qualidade, entre outros problemas”, explicou.
Brouder disse que foca no nitrogênio, pois, ao comparar as emissões de óxido nitroso nos Estados Unidos, a região conhecida como Cinturão do Milho é uma das grandes emissoras. Isso porque os fertilizantes são aplicados em quantidade muito maior do que a necessária.
“As razões pelas quais as pessoas fazem isso são socioculturais. É o que sempre aplicaram e elas querem colheitas ainda maiores, o que leva a crer que precisam aplicar ainda mais. Somado a isso, até recentemente os fertilizantes nitrogenados eram relativamente baratos”, notou.
O pensamento é uma herança direta da chamada Revolução Verde, conjunto de inovações que levaram a uma explosão de produtividade em diversas culturas no pós-guerra. “Muitos pensam na Revolução Verde apenas em termos de genética e sementes, mas foi um conjunto de fatores, incluindo irrigação, maquinário, fertilizantes químicos, este último agora associado como uma consequência ruim daquele momento”, lembrou.
É preciso lembrar, disse, que houve também investimentos em infraestrutura social, pesquisa, crédito para os produtores. Essa confluência proporcionou o aumento massivo de produtividade.
Mas nem todos se beneficiaram da Revolução Verde, o que suscitou nos anos 1980 a noção de segurança e insegurança alimentar. Os desafios agora se somam com os fatores climáticos, gerando pressão na produção de alimentos por conta de disponibilidade de água, mudanças no regime de chuvas e aumento das temperaturas médias, entre outras consequências das mudanças climáticas globais.
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