Para se tornar democrático, modelo atual de ensino público superior não deve ter foco exclusivo na universidade que faz pesquisa, nem elitizar ensino tecnológico, diz Eunice Durham (foto: Fábio de Castro)
Para se tornar democrático, modelo atual de ensino público superior não deve ter foco exclusivo na universidade que faz pesquisa, nem elitizar ensino tecnológico, diz Eunice Durham, do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP
Para se tornar democrático, modelo atual de ensino público superior não deve ter foco exclusivo na universidade que faz pesquisa, nem elitizar ensino tecnológico, diz Eunice Durham, do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP
Para se tornar democrático, modelo atual de ensino público superior não deve ter foco exclusivo na universidade que faz pesquisa, nem elitizar ensino tecnológico, diz Eunice Durham (foto: Fábio de Castro)
Agência FAPESP – Para ter um ensino superior democrático de qualidade, o Brasil precisará mudar seu modelo e dar mais atenção aos cursos tecnológicos, segundo Eunice Ribeiro Durham, professora titular do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (Nupps) da Universidade de São Paulo (USP).
A análise abriu o Seminário Internacional Ensino Superior numa Era de Globalização nesta segunda-feira (3/12), na sede da FAPESP. O evento, que será encerrado nesta terça-feira, é promovido pelo Nupps em parceria com a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.
De acordo com a antropóloga, no Brasil o ensino superior público é focado demais no modelo da universidade que faz pesquisa, dedicando poucos recursos para a formação tecnológica.
"As vocações dos alunos são muito diferentes e todo o ensino básico é uniformizado. A diferenciação do currículo só ocorre no nível superior, que se resume ao sistema universitário, voltado para formar profissionais liberais. Precisamos de mais ensino tecnológico", disse à Agência FAPESP.
Segundo dados do Censo da Educação Superior brasileiro e da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), nos últimos dez anos menos de 1% dos estudantes no país se formou em cursos superiores tecnológicos. Enquanto isso, nos países desenvolvidos o índice chega a 29%.
Segundo Eunice, seria preciso criar mais cursos tecnológicos e corrigir uma distorção que começa no ensino técnico de segundo grau, cujo acesso requer a conclusão do ensino médio.
"Isso é um contra-senso: o aluno quer formação mais imediata para o mercado, mas, para ter acesso a um curso técnico de segundo grau, é obrigado a adquirir a qualificação formal suficiente para entrar na universidade", explicou.
Com isso, o acesso às escolas técnicas federais, que têm alto nível, é feito por um exame de entrada. Segundo a professora da USP, essa alta demanda para poucas vagas pressiona o sistema e elitiza o acesso.
"Quem vai procurar esses cursos é a classe média, não para ter acesso ao mercado de trabalho, como seria a finalidade do curso, mas para ter um ensino gratuito de boa qualidade de segundo grau e chegar à universidade pública. Ou seja, o ensino tecnológico é elitizado", afirmou.
Além disso, segundo a pesquisadora, há um preconceito no Brasil contra o ensino técnico e tecnológico. "É como se ele não permitisse aprender, desenvolver a criatividade e a inteligência. Só que é o contrário: o ensino técnico promove essas qualidades, de forma casada com as necessidades."
Ela cita os cursos de administração como exemplo da necessidade de mais cursos técnicos. "O curso mais procurado no Brasil é o de administração. Quem o procura quer espaço no mercado de trabalho ou quer abrir uma firma. Não é preciso criar universidades para atender a essas necessidades. Seria melhor fazer bons cursos técnicos de administração."
A raiz do problema seria o fato de o país ter suas políticas públicas de ensino superior voltadas para a universidade de pesquisa. "Todo nosso ensino médio é organizado e pensado com foco na universidade", destacou.
"Não podemos desmantelar nossas universidades, que dão imensa contribuição social, mas focar o ensino público ali nos impede de democratizar o ensino", disse.
Citando o educador Anísio Teixeira, Eunice afirmou que, com a heterogeneidade da população brasileira, uma escola democrática só é possível quando não é igual para todos. "Precisamos ter uma variedade de alternativas para as diferentes necessidades."
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