Projeto-S vai monitorar no interior de São Paulo a variação da taxa de transmissão do novo coronavírus nos próximos dois meses. Um dos objetivos é descobrir o número de pessoas que será necessário imunizar para conter a circulação do vírus (transporte das vacinas para cidades do interior paulista; foto: Governo do Estado de São Paulo)
Projeto-S vai monitorar no interior de São Paulo a variação da taxa de transmissão do novo coronavírus nos próximos dois meses. Um dos objetivos é descobrir o número de pessoas que será necessário imunizar para conter a circulação do vírus
Projeto-S vai monitorar no interior de São Paulo a variação da taxa de transmissão do novo coronavírus nos próximos dois meses. Um dos objetivos é descobrir o número de pessoas que será necessário imunizar para conter a circulação do vírus
Projeto-S vai monitorar no interior de São Paulo a variação da taxa de transmissão do novo coronavírus nos próximos dois meses. Um dos objetivos é descobrir o número de pessoas que será necessário imunizar para conter a circulação do vírus (transporte das vacinas para cidades do interior paulista; foto: Governo do Estado de São Paulo)
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – O Instituto Butantan inicia hoje (17/02) em Serrana, município paulista com 48 mil habitantes, estudo inédito com o objetivo de avaliar o impacto da vacinação no combate à pandemia de COVID-19. Toda a população maior de 18 anos deverá ser vacinada nos próximos dois meses. Os primeiros resultados devem ser conhecidos em maio. A vacina utilizada será Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan.
Por meio desse estudo – denominado Projeto-S – os pesquisadores vão medir o impacto da vacinação na transmissão do vírus e na redução da sobrecarga no sistema de saúde, bem como outros efeitos indiretos da imunização na economia, na circulação de pessoas e também sobre as novas variantes do SARS-CoV-2. O estudo tem a parceria do Hospital Estadual de Serrana e da administração municipal.
“Não se trata de uma vacinação em massa pura e simplesmente. O estudo tem por objetivo acompanhar a efetividade da vacinação em uma comunidade e, com isso, identificar até que ponto a imunização individual tem efeito coletivo. Isso quer dizer que queremos identificar a queda da taxa de transmissão do novo coronavírus com a vacinação ou o número de pessoas que é necessário vacinar para que o vírus pare de circular e para que aquelas pessoas que não puderem tomar a vacina também fiquem protegidas”, diz Ricardo Palácios, diretor de Estudos Clínicos do Butantan.
Palácios afirma que as informações obtidas em Serrana servirão de base para o planejamento da campanha de vacinação. “Esse tipo de estudo é muito difícil de ser realizado. Ele demanda uma grande preparação prévia de logística, exige também o envolvimento de vários atores e da própria população que é a protagonista do estudo. Só conseguiremos os dados que buscamos se a população aceitar e se engajar na vacinação”, diz.
No primeiro dia de cadastramento da população de Serrana (11/02) cerca de 23 mil pessoas fizeram a inscrição, o que equivale a 76% do público-alvo do projeto. Atualmente, esse número é de cerca de 29 mil pessoas. Uma nova etapa de inscrição será iniciada hoje.
Para analisar os efeitos da vacinação, a cidade foi esquadrinhada e dividida em 25 setores ou aglomerações (clusters). Por meio de um sorteio, foi estabelecida a ordem de vacinação de cada setor nos próximos dois meses. A única priorização é a de que setores vizinhos não sejam vacinados ao mesmo tempo, justamente para avaliar o impacto da vacinação de um aglomerado no outro. O Instituto Butantan vai monitorar por meio de testagens a redução do contágio da COVID-19 conforme os moradores adultos da cidade forem vacinados.
Critério de escolha
A escolha de Serrana se deu por três motivos principais: trata-se de uma cidade pequena, com um alto índice de contaminação (o que permite avaliar a diferença entre imunidade obtida pela doença e adquirida pela vacina) e está próxima a um polo de pesquisa, como é o caso da cidade de Ribeirão Preto.
“Com isso, é possível verificar como se dá a evolução da vacinação e acompanhar variáveis importantes, levando-se em conta que a distribuição etária da população e a maneira como se deu a epidemia, com altas taxas de transmissão, internação e óbitos são representações do que ocorreu no Brasil como um todo”, diz.
A preparação para a realização do Projeto-S começou em setembro de 2020, quando os casos da doença e os contatos dos infectados em Serrana passaram a ser monitorados. Há testes disponíveis para toda a população em clínicas, hospitais e postos de saúde da cidade. Foi realizado ainda uma espécie de recenseamento (Censo da Saúde) que buscou informações em cada endereço sobre número de moradores, rotina de contato e disposição para se vacinar.
Antes disso, em junho de 2020, na primeira fase do inquérito epidemiológico, testes sorológicos e de RT-PCR realizados em 160 endereços mostraram que 8,75% dos habitantes tinham tido contato com o vírus e 5% estavam com a infecção ativa.
Também será realizado, com o apoio da FAPESP, uma ampla análise de imunidade prévia nos 30 mil habitantes que receberão a vacina, com o objetivo de identificar quem já tinha sido infectado e se ainda estão circulando no sangue os anticorpos para o SARS-CoV-2. O objetivo é ajudar na interpretação dos dados do estudo.
Para a realização do estudo, além das doses distribuídas como parte do plano nacional de vacinação iniciado em 17 de janeiro em todo o Brasil, foram destinadas mais 60 mil doses da Coronavac importadas pelo Instituto Butantan para a pesquisa.
“A cidade não é uma ilha. Diariamente pessoas saem de lá e vão trabalhar em outras cidades ou recebem visitas de moradores de fora. Isso é extremamente importante para o nosso estudo, pois poderemos mensurar o impacto desses deslocamentos e contatos no efeito da vacinação coletiva. Temos casos na história dessa pandemia da Nova Zelândia e de Taiwan em que foi possível barrar o vírus sem a vacina por serem ilhas e também, claro, pelo excelente trabalho de contenção da transmissão. Esse não é o caso do Brasil. Analisar o efeito desses contatos e deslocamentos em uma população vacinada é de extrema importância para o planejamento da imunização”, diz.
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