Pesquisa feita na ENSP aponta que, embora apenas 34% das gestantes tenham manifestado preferência pela cesariana no início da gravidez, 89,7% tiveram esse tipo de parto, destacando a forte influência dos médicos que fazem o acompanhamento pré-natal na hora da decisão
Pesquisa feita na ENSP aponta que, embora apenas 34% das gestantes tenham manifestado preferência pela cesariana no início da gravidez, 89,7% tiveram esse tipo de parto, destacando a forte influência dos médicos que fazem o acompanhamento pré-natal na hora da decisão
Agência FAPESP – Um estudo conduzido por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) apontou que, embora apenas 34% das gestantes atendidas em duas maternidades privadas do Rio de Janeiro tenham manifestado preferência pela cesariana nos primeiros meses de gravidez, 89,7% delas acabaram realizando esse tipo de parto operatório.
O trabalho, coordenado por Silvana Granado Nogueira da Gama e Maria do Carmo Leal, ambas do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da ENSP, foi realizado com base em entrevistas e consultas aos prontuários de 437 grávidas de diferentes classes sociais, faixas etárias e níveis de escolaridade.
As entrevistas foram realizadas em 2006 e 2007 e os dados foram comparados ao tipo de parto realizado. A pesquisa foi encomendada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e realizada em parceria com a Universidade Federal Fluminense e com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.
"Ao fim da gestação, o desejo pelo parto cesáreo havia crescido para 74%, comparado aos 34% do estágio inicial. Isso revela uma forte influência na decisão da mulher sobre o tipo de parto durante o período pré-natal, sobretudo por parte dos profissionais que fizeram o acompanhamento médico", disse Silvana à Agência FAPESP.
Segundo ela, entre os motivos para a escolha da cesariana estão medo da dor no parto normal, histórico familiar e experiência de partos anteriores. "Não se pode descartar também a influência de amigas e familiares, além da escolha de dias específicos para o nascimento do bebê", conta.
Do total de cesáreas realizadas (89,7%), em apenas 7,6% as pacientes haviam entrado em trabalho de parto. "As demais tiveram cirurgias pré-agendadas, o que é um enorme problema, especialmente para o recém-nascido, uma vez que eleva o risco de partos prematuros e óbitos neonatais", explicou a epidemiologista.
No Rio de Janeiro são realizados por volta de 82 mil partos por ano, sendo 20 mil em hospitais privados. "Desses, cerca de 90% são cesarianas, contra 35% de cesáreas realizadas na rede pública, dos cerca de 62 mil partos restantes. Considerando todo o país, a estimativa é que aproximadamente 40% dos partos sejam por cesariana", disse.
Segundo a pesquisadora, para a maioria dos médicos não é conveniente, do ponto de vista financeiro, aguardar pelo parto normal. "O trabalho de parto chega a demorar mais de dez horas e, nesse tempo, os profissionais podem realizar mais de uma cesariana e também outras atividades no consultório."
"Sabemos que tanto os serviços de saúde públicos como os privados pagam o mesmo valor para os dois tipos de parto. E a maior praticidade e rapidez acabam gerando uma banalização da cesariana no país", destacou.
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