Sílvia Daher, da Unifesp, discute as dificuldades da gravidez bem sucedida (foto: W.Castilhos)
Cerca de 5% dos casais que querem ter filhos sofrem de problemas de infertilidade e apenas de 35% a 45% obtêm sucesso na reprodução assistida. Sílvia Daher, da Unifesp, discute as dificuldades da gravidez bem-sucedida
Cerca de 5% dos casais que querem ter filhos sofrem de problemas de infertilidade e apenas de 35% a 45% obtêm sucesso na reprodução assistida. Sílvia Daher, da Unifesp, discute as dificuldades da gravidez bem-sucedida
Sílvia Daher, da Unifesp, discute as dificuldades da gravidez bem sucedida (foto: W.Castilhos)
Agência FAPESP – Pode ser muito mais difícil para uma mulher ter uma gravidez bem-sucedida do que se imagina, de acordo com especialistas reunidos no 13º Congresso Internacional de Imunologia, que está sendo realizado no Rio de Janeiro pela Sociedade Brasileira de Imunologia até sábado (25/8).
No Brasil, cerca de 5% dos casais que querem ter filhos sofrem de problemas de infertilidade e apenas de 35% a 45% obtêm sucesso no tratamento de reprodução assistida, segundo dados apresentados pela médica Sílvia Daher, professora do Departamento de Obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A pré-eclampsia – hipertensão durante a gestação – ocorre em 10% dos casos de gravidez no país, enquanto que de 10% a 20% dos casos de gravidez acabam em partos prematuros e 1% das mulheres grávidas têm gestação ectópica, ou seja, como não conseguem criar ambiente no útero, a gestação acaba acontecendo fora dele. O chamado aborto de repetição – que acontece espontaneamente mais de três vezes consecutivas durante o primeiro trimestre de gravidez – é registrado em 0,5% dos casos.
"São patologias da gravidez, muitas vezes relacionadas a causas imunológicas. Porém, existem testes que ajudam a definir o perfil imunológico da mulher e detectam o que pode favorecer o aparecimento de uma patologia", disse Sílvia à Agência FAPESP.
Segundo ela, em muitos casos não se consegue diagnosticar a causa de uma dessas doenças. "É isso que nos leva a pensar em comprometimento imunológico. Existem, por exemplo, reações auto-imunes, quando a mulher acaba reagindo contra ela mesma. É o que pode causar abortos de repetição", explica a pesquisadora. Outra causa estudada atualmente é a reação alo-imune, quando a mulher responde inadequadamente ao feto.
São fatores que podem gerar infertilidade ou um aborto espontâneo de repetição. No entanto, destaca a imunologista, existem estratégias para resolver esses problemas, como a transfusão de linfócitos paternos, tratamento controverso permitido apenas em alguns países.
"O problema desse tratamento é que o feto tem antígenos paternos, que são a marca do pai. Então, a mulher precisa estar com o sistema imunológico bem equilibrado para poder perceber a diferença e fazer a resposta imune sem abortar", disse Sílvia.
O papel do pai
Há casais que não conseguem engravidar, mesmo apresentando todas as condições ideais para isso, mas que acabam tendo filhos com outros parceiros. "São casos de pessoas que não combinam geneticamente. Podem até fazer fertilização in vitro, mas a mulher não engravida. É porque ela não consegue implantar o embrião", disse Sílvia.
Nesses casos, de acordo com a professora da Unifesp, a mulher pode estar com baixa quantidade de HLA-G, antígeno importante na gestação, que, se produzido em pouca quantidade, faz com que a mulher não consiga implantar.
"Muitos fatores influenciam o bom andamento de uma gravidez. Não se deve esquecer que o fator paterno também é importante nesse processo. Mas, ao contrário do que muitos pensam, não é somente o número de espermatozóides que se deve levar em conta. Tanto para a mulher quanto para o homem são importantes as citocinas, que são marcadores que também devem estar presentes no líquido seminal, para que não haja falha na implantação, o que gera a infertilidade", explicou Sílvia, lembrando que existem testes que identificam esses marcadores genéticos e revelam que quem tem um determinado gene poderá ter mais chances de apresentar uma determinada doença.
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