O diagnóstico laboratorial e sorológico e a distribuição epidemiológica da enfermidade são objetos de estudo realizado na Universidade Federal de São Paulo (imagem: Paracoccidioides brasiliensis/Wikimedia Commons)
O diagnóstico laboratorial e sorológico e a distribuição epidemiológica da enfermidade são objetos de estudo realizado na Universidade Federal de São Paulo
O diagnóstico laboratorial e sorológico e a distribuição epidemiológica da enfermidade são objetos de estudo realizado na Universidade Federal de São Paulo
O diagnóstico laboratorial e sorológico e a distribuição epidemiológica da enfermidade são objetos de estudo realizado na Universidade Federal de São Paulo (imagem: Paracoccidioides brasiliensis/Wikimedia Commons)
José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Com nome difícil de pronunciar e praticamente ausente do noticiário, a paracoccidioidomicose é uma doença endêmica grave que afeta um a três de cada 100 mil habitantes do Brasil – em especial trabalhadores rurais. O contágio ocorre quando, ao revolverem a terra na lida do campo, as pessoas inalam o aerossol formado pela poeira e outros componentes do solo, entre eles, os fungos do gênero Paracoccidioides.
O diagnóstico laboratorial e sorológico e a distribuição epidemiológica da doença são objetos do Projeto Temático “Biologia molecular e proteômica de fungos de interesse médico: Paracoccidioides brasiliensis e Sporothrix schenckii”, coordenado por Zoilo Pires de Camargo, professor da Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), com apoio da FAPESP.
“A paracoccidioidomicose (PCM) é adquirida por via inalatória. Os fungos podem ficar em vida latente nos pulmões durante cerca de cinco anos antes de se manifestarem. Se a pessoa infectada não consegue eliminar o agente invasor nos pulmões, a tendência é que este alcance os vasos sanguíneos, se propague para diferentes órgãos e outras áreas do corpo, em especial as mucosas e a pele, gerando, eventualmente, casos bastante graves”, disse Camargo à Agência FAPESP.
A doença, que se tornou endêmica no Centro-Oeste do Brasil, mas se manifesta também em outras regiões brasileiras e em outros países da América Latina, em especial nas áreas de expansão da fronteira agrícola, afeta principalmente os homens, pois as mulheres são favorecidas pelo hormônio progesterona, que atua como protetor natural.
“Um dos sintomas é a falta de ar, devido ao comprometimento do parênquima pulmonar. Alcançando as mucosas e a pele, o fungo causa lesões horríveis”, afirmou o pesquisador.
O tratamento padrão consiste na administração de sulfa, fornecida gratuitamente aos pacientes. “Depois de alguns meses de tratamento com o antifúngico, os sintomas desaparecem. Mas isso não significa que a doença tenha sido debelada. De fato, o Paracoccidioides pode sobreviver no organismo durante anos e recidivar. Tivemos casos de pacientes que, após 10 anos de tratamento, suspenderam o uso da medicação e tiveram recidivas”, informou Camargo.
Essa incrível resiliência do Paracoccidioides tem consequências bastante severas. Porque, considerando-se o cansaço provocado por um tratamento tão prolongado, é compreensível que os pacientes, principalmente os menos informados, suspendam o uso da medicação após o desaparecimento dos sintomas. Mas, neste caso, além da recidiva, existe o agravante de o fungo apresentar resistência ao antifúngico anteriormente utilizado, o que exige a troca de medicamento. Deve-se registrar também que o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas favorecem a instalação da doença e desfavorecem a cura, devido à debilitação da resistência natural do organismo.
Um dos resultados do Projeto Temático foi o desenvolvimento de técnicas para os diagnósticos sorológico e molecular da doença.
“A paracoccidioidomicose estava bem caracterizada como uma doença causada pelo Paracoccidioides brasiliensis. E o diagnóstico sorológico era considerado um problema resolvido, porque, nos anos 1980, produzimos um antígeno considerado padrão para o teste sorológico e o distribuímos a laboratórios de toda a América Latina. Porém começaram a surgir casos no Centro-Oeste de pacientes comprovadamente acometidos pela PCM, mas que não reagiam à sorologia. Foi então que um grupo de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) descobriu que o agente causador da doença naquela região era de uma espécie diferente do Paracoccidioides brasiliensis, e o denominaram Paracoccidioides lutzii”, relatou Camargo.
O P. brasiliensis e o P. lutzii são duas espécies diferentes do gênero Paracoccidioides. E o P. lutzii foi assim chamado em homenagem ao médico e pesquisador Adolfo Lutz (1855 – 1940), grande pioneiro nas áreas de epidemiologia, pesquisa de doenças infecciosas e medicina tropical no Brasil. Foi Adolfo Lutz que, em 1908, descreveu, pela primeira vez, o fungo do gênero Paracoccidioides. Diante da descoberta do P. lutzii, o professor Camargo e seus colaboradores passaram a trabalhar no desenvolvimento de antígenos específicos para produzir reagentes capazes de diferenciar uma espécie da outra.
“Também estudamos cepas de toda a América Latina, para conhecer a variação genética e a epidemiologia molecular no sistema Paracoccidioides – Paracoccidioidomicose. Ao contrário do que se supôs inicialmente, nosso estudo mostrou que a ocorrência de Paracoccidioides lutzii não está restrita apenas ao Centro-Oeste. Conseguimos determinar sua distribuição geográfica, com ocorrências no Norte (Pará), no Sudeste (Espírito Santo), no Sul (Paraná e Rio Grande do Sul) e no Paraguai”, sublinhou o pesquisador.
O laboratório de Camargo, no Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Unifesp, apoiado pela FAPESP, tornou-se, informalmente, uma espécie de centro de referência na epidemiologia das micoses. Além de enviar antígenos aos laboratórios interessados de outros estados e países, o pesquisador também vem capacitando profissionais para poderem realizar os testes de forma independente.
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