Nature Biotechnology analisa o panorama atual da biotecnologia em saúde nos países em desenvolvimento. Brasil e FAPESP são citados como exemplos de sucesso

Força biotecnológica
07 de dezembro de 2004

Revista Nature Biotechnology analisa, em especial que levou três anos para ser concluído, o panorama atual da biotecnologia em saúde nos países em desenvolvimento. Brasil e FAPESP são citados como exemplos de sucesso

Força biotecnológica

Revista Nature Biotechnology analisa, em especial que levou três anos para ser concluído, o panorama atual da biotecnologia em saúde nos países em desenvolvimento. Brasil e FAPESP são citados como exemplos de sucesso

07 de dezembro de 2004

Nature Biotechnology analisa o panorama atual da biotecnologia em saúde nos países em desenvolvimento. Brasil e FAPESP são citados como exemplos de sucesso

 

Agência FAPESP - Os países mais ricos do mundo dominam a biotecnologia, não há novidade alguma em dizer isso, mas e quanto às nações em desenvolvimento? A revista Nature Biotechnology procura dar uma resposta detalhada à questão, em reportagem especial que apresenta os resultados de um estudo de três anos sobre a situação atual do setor – e as perpectivas para o futuro – em sete países: Brasil, África do Sul, China, Coréia do Sul, Cuba, Egito e Índia.

O estudo, conduzido por pesquisadores de diversos países, financiados por instituições canadenses e norte-americanas, inclui análises detalhadas dos cenários nacionais, tanto em relação aos mecanismos que possibilitaram a construção de uma infra-estrutura que permitisse o desenvolvimento da biotecnologia, quanto de exemplos que apontam haver muitas – e boas – novidades além do Hemisfério Norte.

O Brasil é destacado enfaticamente na edição, que lembra a importância histórica dada à ciência e à tecnologia no país e a biodiversidade sem igual, "combinação que dá ao país um grande potencial em promover a biotecnologia em saúde", dizem os autores no artigo sobre o país.

O estudo detalha problemas vividos pelo Brasil – como a dependência à importação de produtos médicos e farmacêuticos – e destaca alternativas que estão sendo tentadas para reverter os quadros desfavoráveis. Cita o exemplo da Biobrás, que, junto com a Universidade Federal de Minas Gerais, desenvolveu e patenteou um processo para produção de insulina humana recombinante na década de 1990. Na época, apenas outras três empresas no mundo detinham tecnologia semelhante.

A Nature Biotechnology ressalta também que o crescimento da biotecnologia no Brasil está intimamente ligado aos esforços do setor público: "Em nenhum exemplo isso é mais evidente do que no seqüenciamento da bactéria Xylella fastidiosa, que instilou confiança nacional e trouxe reconhecimento internacional para a capacidade da genômica brasileira". O trabalho de seqüenciamento foi financiado pela FAPESP.

A revista traça um breve histórico da atuação das agências de fomento à pesquisa nas últimas décadas, como o lançamento pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na década de 1970, de programas em genética e para estudos de doenças tropicais. Destaca também a liderança conduzida pelas fundações de amparo à pesquisa (FAPs), principalmente a da FAPESP, "que tem sido especialmente ativa e instrumental em organizar e financiar projetos de biotecnologia". O artigo aponta ainda a importância, declarada nas entrevistas feitas pelos autores com representantes do setor de C&T do Brasil, da atuação do diretor científico da FAPESP, José Fernando Perez.

A reportagem considera outro destaque brasileiro a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). "Essa instituição se tornou um importante produtor de novos conhecimentos no campo da biotecnologia em saúde. Seus cientistas foram responsáveis por mais de 16% de todos os artigos científicos publicados em periódicos internacionais de 1991 a 2002", disseram.

Outro ponto ressaltado é a importância das universidades brasileiras. Os destaques, levando em conta a proporção em relação ao total de artigos publicados no setor, ficam para a Universidade de São Paulo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade Federal de Minas Gerais.

O artigo sobre o Brasil conclui afirmando ter o país plenas condições de "construir um sistema eficiente em biotecnologia que encoraje o fluxo de conhecimento e de inovação", mas aponta que o sucesso dependerá grandemente de um "desenvolvimento sistêmico" dessa base.


Exemplos mundiais de inovação

De acordo com o especial da Nature Biotechnology, apesar de os resultados verificados na biotecnologia em saúde serem bastante diferentes nos países analisados – principalmente quando se leva em conta os indíces de desenvolvimento humano –, todos podem ser considerados exemplos de inovação.

Os autores exploraram particularmente como as nações analisadas conseguiram desenvolver soluções no setor, encontrando caminhos para o promover a saúde. Depois da escolha dos países – Brasil, África do Sul, China, Coréia do Sul, Cuba, Egito e Índia –, os pesquisadores partiram para a coleta de dados, que foi feita com base em diversas fontes. Além de documentos, recorreram a entrevistas, indíces de citações de trabalhos científicos e números sobre informações relacionadas com patentes.

As entrevistas feitas com fontes-chaves, em cada um dos sete países, foram consideradas centrais para a obtenção dos resultados. A escolha dos entrevistados se deu com base em análises prévias realizadas pelos autores e colaboradores. No Brasil, por exemplo, foram entrevistadas 33 pessoas. Na China foram 22 e na Índia, 38.

As citações bibliográficas relacionadas com os países foram estudadas por uma firma contratada especificamente para realizar a medição. O índice utilizado foi o Thomson ISI Science Citation Index Expanded Database, que conta com 6 mil revistas científicas publicadas em todo o mundo.

De forma bastante esquemática, os resultados da análise foram divididos por países. Os autores preferiram listar as lições que podem ser úteis para outras nações a partir dos estudos de caso investigados.

O estudo mostra que o Brasil acerta quando investe fortemente em sua capacidade científica, promove e explora as oportunidades existentes em diversos campos, usa sua biodiversidade para a área da saúde e busca acesso aos atores principais do processo de desenvolvimento científico. Nos casos de China e Cuba, o suporte governamental às políticas públicas também foi considerado positivo pelos pesquisadores.

Algumas contradições também foram identificadas. Apesar do desenvolvimento da biotecnologia em saúde em países como Brasil e Índia, nesses dois o acesso a medicamentos por parte da população pobre, por exemplo, continua baixo. O contrário ocorre na China, no Egito, na África do Sul, em Cuba e na Coréia do Sul.

Nature Biotechnology: www.nature.com/nbt


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