Fernando Peregrino (com o microfone), da Finep, fala sobre deep techs ao lado de Juliana Ceccato (CGEE), Patricia Rozenchan, Artur Pereira (Web Summit) e Plinio Targa (foto: Léo Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESP)
Proposta sobre empresas que desenvolvem tecnologias de ponta foi apresentada durante evento nacional
Proposta sobre empresas que desenvolvem tecnologias de ponta foi apresentada durante evento nacional
Fernando Peregrino (com o microfone), da Finep, fala sobre deep techs ao lado de Juliana Ceccato (CGEE), Patricia Rozenchan, Artur Pereira (Web Summit) e Plinio Targa (foto: Léo Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESP)
Sarah Schmidt, de Brasília | Revista Pesquisa FAPESP – Para que avancem no Brasil, as chamadas deep techs, startups baseadas em pesquisas científicas e em engenharia que procuram soluções avançadas para problemas complexos, como tratamentos de doenças ou aqueles relacionados a mudanças climáticas, é preciso desenvolver incentivos específicos para elas. Essa é a ideia central de uma proposta de diretrizes para a criação de uma “Estratégia Nacional de Apoio a Startups Deep Techs e seus ecossistemas no Brasil”, apresentada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) na terça-feira (30/07), em uma das sessões da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), que ocorre em Brasília.
Um dos maiores entraves enfrentados por essas empresas, segundo Fernando Peregrino, chefe de gabinete da presidência da Finep, que coordenou a sessão, é que elas precisam de ações de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de longo prazo e de investimentos elevados e de alto risco, mas obtêm retornos apenas em médio prazo. Por isso, exigem aportes maiores em suas fases iniciais quando comparadas a empresas nascentes de base tecnológica que oferecem soluções de rápida implementação. “As deep techs são um fenômeno que vem ocorrendo no mundo todo. Por serem menores e terem grande capital intelectual, conseguem focar em problemas sobre os quais as grandes corporações não pensam”, afirmou Peregrino.
A oncologista Patricia Rozenchan, diretora-executiva de P&D da Celluris, e o engenheiro de produção Plinio Targa, CEO da brain4care, duas deep techs brasileiras, participaram da mesa e endossaram as propostas para a estratégia nacional. A Celluris, de São Paulo, desenvolve tratamentos personalizados contra câncer de pulmão e de pâncreas, entre outros, por meio da imunoterapia por células CAR-T, que procura modificar as células do paciente a fim de que elas consigam combater os tumores. “São necessários outros tipos de incentivos, como as encomendas tecnológicas”, ponderou Rozenchan, em referência às soluções tecnológicas inovadoras talhadas para demandas da sociedade e do governo.
“É importante que essas inovações sejam incorporadas pelo próprio Estado”, observou Targa, da brain4care, de São Carlos, interior paulista. A empresa desenvolveu um sensor para monitorar a hipertensão intracraniana de maneira não invasiva, que é colocado sobre a cabeça do paciente e preso por uma faixa. Segundo o site da empresa, a tecnologia já é usada por 76 hospitais e clínicas. O dispositivo e a startup foram criados pelo físico Sérgio Mascarenhas Oliveira (1928-2021), da Universidade de São Paulo (USP), campus de São Carlos. “Há 50 centros de pesquisa fazendo estudos em parceria com a gente”, completou Targa (leia mais em: revistapesquisa.fapesp.br/cranio-preservado/).
O documento da Finep mostra que, na região da América Latina e do Caribe, Brasil e Argentina concentram o maior percentual desse tipo de iniciativa: 30% em cada país, segundo dados do relatório Deep tech: The new wave, de 2023. A proposta sugere que sejam feitos mapeamentos para ampliar o conhecimento sobre as deep techs brasileiras, propõe a simplificação de trâmites regulatórios e jurídicos e a criação de mecanismos de apoio adequados às características dessas empresas. Como exemplos, o documento enfatiza a necessidade de destinar recursos não reembolsáveis para essas startups; de criar modelos mistos de financiamento – com recursos públicos, privados e filantrópicos – e de se utilizar compras governamentais para impulsionar o mercado, entre outros.
O documento também destaca dados do relatório do Deep tech: The great wave of innovation, de 2021, elaborado pelo Boston Consulting Group (BCG), segundo os quais 97% das deep techs desenvolvem serviços e produtos que procuram contribuir com ao menos um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Algumas das medidas sugeridas no documento foram implementadas em Portugal com bons resultados”, disse o português Artur Pereira, que integrou a mesa da sessão e é vice-presidente do Web Summit, evento europeu de tecnologia e inovação realizado desde 2009. “Há alguns anos, o governo português criou um fundo em que colocava 50% de investimentos, e o setor privado, a outra metade, com o atrativo de que o retorno era de 20% para o Estado e 80% para o setor privado. Deixo aqui essa ideia.”
Ainda segundo Pereira, nessa iniciativa foram investidos € 400 milhões (cerca de R$ 2,44 bilhões), com a restrição de que seriam destinados apenas a empresas portuguesas. Pereira reforçou que o apoio público é fundamental. “Portugal é um laboratório de testes sobre o qual nos inspiramos para fazer essas propostas”, comentou Peregrino. Ele ainda ressaltou que o tema deve integrar as sugestões para o Plano Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, a ser elaborado com base nas discussões que ocorrem durante a conferência.
A proposta de diretrizes para a Estratégia Nacional ficará disponível no site da Finep. No final do dia, foi lançado o livro A Finep e a Neoindustrialização - Startups, Deep techs e seus ecossistemas - Uma contribuição à 5ª CNCTI.
Mais informações em: https://5cncti.org.br/.
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