Ferramenta leva em consideração informações sobre o perfil de cada participante, criando diferentes padrões de público-alvo (foto: Freepik*)

Mudança Climática
Ferramenta elenca estratégias mais eficazes para aumentar a consciência e a ação climática
06 de maio de 2024

Estudo internacional envolveu mais de 59 mil participantes de 63 países, incluindo o Brasil. Ao analisar intervenções que mais impactam o comportamento das pessoas, trabalho resultou na criação de um instrumento que pode ser usado por formuladores de políticas e grupos de defesa do meio ambiente

Mudança Climática
Ferramenta elenca estratégias mais eficazes para aumentar a consciência e a ação climática

Estudo internacional envolveu mais de 59 mil participantes de 63 países, incluindo o Brasil. Ao analisar intervenções que mais impactam o comportamento das pessoas, trabalho resultou na criação de um instrumento que pode ser usado por formuladores de políticas e grupos de defesa do meio ambiente

06 de maio de 2024

Ferramenta leva em consideração informações sobre o perfil de cada participante, criando diferentes padrões de público-alvo (foto: Freepik*)

 

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Artigo publicado na revista Science Advances apresenta uma ferramenta web desenvolvida para auxiliar formuladores de políticas públicas a elencar temas e mensagens mais eficazes para aumentar a consciência e a ação climática no mundo. A ferramenta é resultado de um estudo amplo, que envolveu cerca de 250 pesquisadores e 59 mil participantes em 63 países do mundo, entre eles o Brasil.

“Além do grande investimento em pesquisas voltadas para a tecnologia e a inovação na área de ciências climáticas, é extremamente importante cuidar dos aspectos sociais do problema. As mudanças climáticas são um problema complexo, que demanda o entendimento e a aceitação da população. Por isso, estudos na área da psicologia, que avaliam a capacidade de aceitação e de ação das pessoas, são fundamentais. Até porque, se não houver aceitação em relação às mudanças climáticas, também não haverá em relação às novas tecnologias relacionadas ao armazenamento de carbono, a fontes renováveis ou à medição do efeito estufa, por exemplo”, afirma a pesquisadora Karen Mascarenhas, uma das responsáveis pela parte brasileira da pesquisa.

Mascarenhas é vice-coordenadora do projeto de percepção social das tecnologias de transição energética no Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) – um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

No trabalho, coordenado pelo Departamento de Psicologia da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, os pesquisadores testaram, por meio de questionários, o impacto de 11 intervenções e de uma situação-controle em relação a quatro tipos de comportamento: crença, apoio à política climática, vontade de compartilhar informações relacionadas ao clima nas redes sociais e esforço de plantar árvores.

“Foi testado o impacto que cada intervenção tinha sobre a percepção das pessoas de que existe a mudança climática ou sobre a capacidade de apoiar leis e políticas pelo clima. Tinha também a questão de quanto uma intervenção poderia influenciar na vontade pessoal de partilhar informações em suas redes sociais. Também foi mensurado o impacto das intervenções na vontade de uma pessoa contribuir, por meio de seu esforço, para que árvores sejam plantadas”, diz Mascarenhas.

A pesquisadora explica que esse último comportamento testado não exigia que os participantes plantassem árvores com as próprias mãos. “Foi criado um esquema que, caso os participantes concluíssem uma tarefa que exigia concentração, tempo e paciência [como fazer marcações em um texto], uma árvore seria plantada. Isso tudo para avaliar o grau de esforço que eles dispensavam sob a influência de cada intervenção. No final do estudo, foram mais de 300 mil árvores plantadas”, relata.

Entre os exemplos de intervenções avaliadas estavam: informar que mais de 99% dos cientistas concordam que o planeta está se aquecendo, que as mudanças climáticas existem e são causadas por ação do homem (consenso climático); enfatizar como uma única ação pode impactar o futuro do planeta; escrever uma carta para uma criança (filho, neto, sobrinho ou enteado) sobre o futuro; informar os participantes sobre fatos catastróficos relacionados às mudanças climáticas.

Público-alvo

A partir da análise, foi criada uma ferramenta que leva em consideração informações sobre o perfil de cada participante, criando diferentes padrões de público-alvo. Dessa forma, a variedade de perfis levava em conta desde nacionalidade e ideologia política até idade, sexo, escolaridade e nível de renda, por exemplo.

Segundo Mascarenhas, o estudo mostrou que, no geral, estratégias que tragam proximidade ao problema sem assustar têm se mostrado mais eficientes. “No geral, acreditar ou não acreditar nas mudanças climáticas é central, pois trata-se de uma crença muito difícil de ser mudada. No entanto, percebemos que estratégias como a de escrever uma carta para a geração futura, que aproximam o indivíduo do problema, tendem a ter maior impacto em ações e mudanças de comportamento. Mas existe também o risco de o assustar, podendo gerar uma reação negativa. É como se o indivíduo achasse que se trata de um problema muito grande, impossível de ser resolvido, do qual ele não consegue dar conta sozinho", explica.

O estudo revelou, sobretudo, que não existe uma estratégia única que instigue qualquer pessoa a mudar seus comportamentos e ações a favor do clima. “Apesar de as respostas revelarem um consenso global sobre os perigos das mudanças climáticas e a importância de se implementar ações de mitigação em nível sistêmico, elas também mostraram que existe uma variação muito grande na maneira mais efetiva de comunicar o problema. Isso varia de um país para o outro, mas também entre os diferentes perfis de pessoas em um mesmo país. Por isso é tão interessante termos construído, como resultado do estudo comportamental, uma ferramenta que consiga elencar as melhores estratégias de acordo com o perfil de cada pessoa”, explica Mascarenhas.

O estudo mostrou, por exemplo, que, enquanto enfatizar o consenso científico sobre as alterações climáticas aumentou o apoio a políticas favoráveis ao clima em 9% na Romênia, houve diminuição de 5% no Canadá. Outro exemplo: a estratégia de pedir que os participantes do estudo escrevessem uma carta a uma criança aumentou em grau diferente o apoio à política climática em países como Estados Unidos (10%), Brasil (10%), Gana (8%), Rússia (7%) e Nigéria (5%).

“Estudos anteriores já haviam avaliado o potencial de aceitação de comportamentos individuais, como separar o lixo para reciclagem, uso de transporte público e economia de luz. São exemplos de estudos realizados predominantemente no Hemisfério Norte. No entanto, o grande diferencial desse trabalho – além de sua amplitude, pois trata-se de um estudo global – está na investigação de estratégias, ações e soluções coletivas para as mudanças climáticas. Isso fez com que quiséssemos participar da pesquisa”, afirma Mascarenhas.

Vale ressaltar que a parte brasileira do trabalho contou com mais de mil participantes, constituindo uma mostra representativa da população do país. No entanto, os resultados regionais só serão divulgados em um segundo artigo, que ainda está para ser publicado.

O estudo Addressing climate change with behavioral science: A global intervention tournament in 63 countries pode ser lido em: www.science.org/doi/10.1126/sciadv.adj5778?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed.

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