Em testes com animais, estudo do Centro de Pesquisa em Alimentos constatou que os arabinoxilanos encontrados na farinha também apresentaram ação antitumoral (imagem: divulgação)

Farinha de trigo mantém compostos prebióticos mesmo após a moagem
11 de abril de 2023

Em testes com animais, estudo do Centro de Pesquisa em Alimentos constatou que os arabinoxilanos encontrados na farinha também apresentaram ação antitumoral

Farinha de trigo mantém compostos prebióticos mesmo após a moagem

Em testes com animais, estudo do Centro de Pesquisa em Alimentos constatou que os arabinoxilanos encontrados na farinha também apresentaram ação antitumoral

11 de abril de 2023

Em testes com animais, estudo do Centro de Pesquisa em Alimentos constatou que os arabinoxilanos encontrados na farinha também apresentaram ação antitumoral (imagem: divulgação)

 

Agência FAPESP * –  Estudo do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC) e da Universidade de Córdoba (Argentina) constatou que os arabinoxilanos, uma classe de fibra alimentar com efeito prebiótico e em abundância no trigo, mantêm-se íntegros na farinha após o processamento do trigo. E mais: em quantidade suficiente para gerar dois efeitos positivos: ação prebiótica e antitumoral.

O FoRC é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São Paulo (USP).

“De maneira geral, o trigo tem uma quantidade grande de fibras alimentares solúveis e insolúveis, com benefícios diversos para o organismo. Entre as solúveis, prevalecem os beta-glucanos, cujos efeitos biológicos são bem conhecidos, e os arabinoxilanos, ainda pouco explorados pela ciência. Por isso, nossos estudos foram focados nos arabinoxilanos”, conta o coordenador da pesquisa, João Paulo Fabi, professor da FCF-USP e pesquisador do FoRC.

Foram cinco anos de pesquisa e vários artigos publicados que resultaram em diversas descobertas. Na Universidade de Córdoba, foi desenvolvido o método de extração dos compostos e confirmada sua efetividade prebiótica por meio de análises in vitro e com animais. Na FCF-USP foi feita a caracterização da estrutura química dos arabinoxilanos do trigo e os testes in vitro que mostraram sua ação antitumoral.

Os trabalhos tiveram apoio da FAPESP, no Brasil, e do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas, na Argentina.

“O método de extração que desenvolvemos usa tratamento químico e térmico para a retirada dos arabinoxilanos das farinhas dos trigos de grão mole e duro. A extração foi feita em um ambiente levemente alcalino, sem uso de solventes tóxicos”, conta Candela Paesani, pesquisadora do Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade de Córdoba e pós-doutoranda no FoRC.

Efeitos comprovados

Depois de isolados e purificados, os arabinoxilanos do trigo duro foram colocados em uma cultura de bactérias do trato intestinal, quando foi constatado o efeito prebiótico. “Verificamos que os compostos serviam de alimento para as bactérias, facilitando a reprodução e o aumento da população dos microrganismos benéficos e diminuindo o crescimento de cepas bacterianas menos favoráveis ao intestino”, afirma Paesani.

Em comparação com o grupo-controle, que recebeu apenas glicose, a população de bactérias benéficas (lactobacilos e bifidobactérias) foi 25% maior e a de bactérias maléficas (Clostridium) foi 10% menor. “Ambas as amostras demonstraram efeitos iguais ou maiores que aqueles observados com a inulina, fibra com forte efeito prebiótico”, acrescenta a pesquisadora.

Nos experimentos in vivo, os ratos foram alimentados com a dieta complementada com esses polissacarídeos durante quatro meses e os resultados comparados com um grupo de animais que recebeu alimentação convencional. “Os efeitos prebióticos se repetiram. Os ratos que receberam os arabinoxilanos não demonstraram alterações no peso e no apetite e obtiveram um perfil de bactérias microbióticas similar aos testes in vitro, além de potencializarem a liberação de ácidos graxos de cadeia curta”, afirma Paesani.

No intestino, os ácidos graxos de cadeia curta têm efeitos benéficos na manutenção da saúde do órgão, como o controle do crescimento de microrganismos patogênicos, o fornecimento de energia para crescimento das células intestinais e a proteção das mesmas células contra o surgimento de câncer.

Segundo a pós-doutoranda, com base nos resultados obtidos e nas quantidades consumidas de arabinoxilanos pelos ratos, uma pessoa teria que consumir 320 mg de arabinoxilanos para cada quilo de peso corporal, o que equivale a 24 g para uma pessoa com 75 kg. “Sabendo que a ingestão diária recomendada de fibras está entre 25 g e 35 g por dia, isso torna viável pensar no desenvolvimento de alimentos enriquecidos com esses extratos.”

Outro estudo usou os arabinoxilanos na fermentação de fezes humanas para descobrir se os efeitos poderiam ser observados além dos ratos. “Observamos a mesma coisa: um aumento no número de bactérias benéficas e na liberação de ácidos graxos de cadeia curta, o que indica os possíveis efeitos benéficos e também uma redução no risco de prisão de ventre e de desconfortos ao defecar”, detalha a pesquisadora.

Já os estudos in vitro, feitos em células tumorais que simulavam condições do câncer de intestino humano, mostraram que foi possível reduzir em até 35% o número de células doentes. Isso ocorreu por dois fatores: a inibição da reprodução de células e o estímulo à morte celular. “Os compostos [arabinoxilanos e beta-glucanos] começaram a impedir a divisão celular ainda na primeira etapa de seu ciclo de reprodução, o que levou à morte celular precoce em cerca de um terço dos casos", detalha Paesani.

Suplemento prebiótico

A partir dos resultados obtidos, os pesquisadores decidiram dar um passo além: extrair os arabinoxilanos do farelo de trigo, um subproduto do processamento do cereal que hoje é usado principalmente na ração para animais. Para tanto, está sendo utilizada uma estratégia parecida de extração, isolamento e purificação dos arabinoxilanos que foi desenvolvida para a farinha.

“Se conseguirmos isolar uma fração suficiente desses compostos, será possível produzir um suplemento que irá suprir as necessidades de pessoas que não podem consumir farinha, a exemplo de pessoas intolerantes ao glúten ou celíacos”, afirma Fabi. “Já repetimos os estudos in vitro e conseguimos obter efeitos prebióticos similares e reduzir em até 50% a proliferação de células cancerosas”, detalha.

Hoje, a parte do farelo que não é utilizada para o consumo animal geralmente é jogada fora após a moagem. “Um suplemento deste tipo será uma alternativa para agregar valor ao farelo de trigo e ampliar o aproveitamento desse subproduto”, afirma o professor.

* Com informações do FoRC, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão da FAPESP.
 

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