Participação de cientistas paulistas no Cern era feita por meio de projeto individuais (imagem: Samuel J. Hertzog/Cern)

Cooperação internacional
FAPESP assina acordo de cooperação com o maior laboratório de física de partículas do mundo
29 de agosto de 2025

Parceria fortalece o apoio à participação de pesquisadores do Estado de São Paulo nas atividades desenvolvidas pela Organização Europeia para a Investigação Nuclear

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29 de agosto de 2025

Participação de cientistas paulistas no Cern era feita por meio de projeto individuais (imagem: Samuel J. Hertzog/Cern)

 

Elton Alisson | Agência FAPESP – A FAPESP assinou um acordo de cooperação com a Organização Europeia para a Investigação Nuclear (Cern, na sigla oficial em francês).

O acordo permite fortalecer o apoio à participação de pesquisadores e estudantes de pós-graduação vinculados a universidades e instituições de pesquisa no Estado de São Paulo em atividades em andamento, bem como as planejadas para as próximas décadas, no maior laboratório de física de partículas do mundo, situado em Meyrin, Genebra, na fronteira entre a Suíça e a França.

“A participação de pesquisadores paulistas no Cern era feita por meio de projetos individuais, submetidos à FAPESP. Por meio do acordo, a Fundação passa a ser a interlocutora direta. Isso coloca a Fundação em um outro patamar na relação com o Cern, que passa a ser mais institucional, e amplia o escopo de oportunidades de participação da comunidade científica do Estado de São Paulo em projetos colaborativos utilizando a fantástica infraestrutura de pesquisa do observatório”, avalia Marcio de Castro, diretor científico da FAPESP.

O acordo também representa uma importante etapa na integração do sistema brasileiro de pesquisa no Cern, possibilitada pela recente adesão do Brasil à condição de Estado-membro associado do centro de pesquisa, sendo o primeiro nas Américas, diz Salvatore Mele, conselheiro sênior de relações internacionais do Cern.

“Os primeiros passos na implementação deste acordo [com a FAPESP] já são extremamente positivos no que diz respeito ao compartilhamento dos custos de manutenção e operação das infraestruturas de pesquisa localizadas no Cern, que são utilizadas pela comunidade de pesquisadores do Estado de São Paulo em experimentos específicos realizados no acelerador LHC [Grande Colisor de Hádrons]”, celebra Mele em nota à Agência FAPESP.

“Também temos tido excelentes conversas sobre as empolgantes atualizações tecnológicas, em andamento e planejadas para a próxima década, pelas quais os detectores do LHC passarão a atender ao crescente potencial físico desse instrumento emblemático”, afirma.

Reconhecido com o maior e mais potente acelerador de partículas do mundo, o LHC consiste em um túnel subterrâneo circular, de 27 quilômetros de comprimento, no qual feixes de partículas são lançados e viajam a velocidades enormes até colidirem entre si. Na colisão, as partículas reagem produzindo novas partículas que, após a colisão, viajam através dos experimentos. O resultado é, então, monitorado por quatro detectores: Atlas (A Toroidal LHC Apparatus) e CMS (Compact Muon Solenoid), os dois maiores, e Alice (A Large Ion Collider Experiment) e LHCb. Os dados obtidos são analisados por cientistas do mundo inteiro que buscam por novas partículas e por explicações para alguns dos maiores mistérios da física, como a composição da matéria escura (leia mais em: agencia.fapesp.br/55383).

Participação paulista

Por meio de projetos apoiados pela FAPESP, pesquisadores vinculados a universidades e instituições de pesquisa no Estado de São Paulo participam das colaborações Atlas, Alice e CMS.

O CMS tem como objetivo detectar e medir subpartículas liberadas durante as colisões. A colaboração foi uma das responsáveis pela descoberta do bóson de Higgs, em julho de 2012, ao lado da colaboração Atlas.

No Núcleo de Computação Científica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), localizado no campus Barra Funda, uma equipe de professores, pesquisadores e técnicos colabora com o desenvolvimento e armazenamento de dados do CMS. As ações são desenvolvidas pelo Centro de Pesquisa e Análise de São Paulo (SPRACE), criado em 2003 com apoio da FAPESP.

Por meio do SPRACE, os pesquisadores brasileiros operam uma rede de processamento e participam da análise de dados produzidos pelo CMS.

O cluster de computadores do SPRACE também faz parte do Worldwide Computing Grid do LHC (WLCG).

O WLCG conecta 100 mil processadores em 34 países – incluindo o Brasil – que fazem transferências de dados em altíssima velocidade.

Já um grupo de pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), também por meio de um projeto apoiado pela FAPESP, desenvolveu um chip, chamado de Sampa, instalado em 2020 no sistema de detecção do Alice.

"A participação ao longo dos últimos anos das instituições de pesquisa paulistas em grandes colaborações de física de altas energias, em grande parte financiada pela FAPESP, tem apresentado resultados importantes para a ciência brasileira, como o próprio desenvolvimento do chip Sampa - um produto de alta tecnologia, empregado hoje em diversos experimentos similares pelo mundo -, bem como o estudo de aspectos fundamentais da natureza, como a origem da massa das partículas", diz à Agência FAPESP Marcelo Gameiro Munhoz, professor do Instituto de Física da USP e um dos participantes do projeto.

O pesquisador coordena um projeto, financiado pela FAPESP, que permite viabilizar a participação da comunidade de pesquisa paulista durante os próximos cinco anos nos experimentos Alice e Atlas e nas colaborações para pesquisa e desenvolvimento em instrumentação nuclear, batizada de DRD1 e DRD3, no CERN. Um dos objetivos do projeto é a pesquisa e desenvolvimento de instrumentação de detectores a gás do tipo MPGD (sigal de MicroPattern Gaseous Detectors) e de silício ultrarrápidos.

"A proposta do projeto é permitir uma participação relevante no design, construção e operação de novos sistemas de detectores nas colaborações Alice e Atlas, além de contribuir para reduzir estrategicamente a dependência do país em relação à tecnologia de ponta para detecção de radiação e processamento de sinais", explica Munhoz
  
Iniciado em 2010, o Alice foi concebido para estudar a física de interações que ocorrem em densidades extremas de energia, na qual se forma o chamado plasma de quarks e glúons, um estado da matéria que teria composto o Universo nos primeiros milionésimos de segundo após o Big Bang.

A partir do estudo detalhado das partículas produzidas nas colisões nucleares, será possível inferir as propriedades e o comportamento da matéria em condições extremas, além da evolução durante os primeiros microssegundos do nascimento do Universo.

“O acordo permite não só institucionalizar a relação da FAPESP com o Cern, como também abre portas para que a concepção e gestão de projetos colaborativos futuros sejam mais bem planejadas”, avalia Luiz Vitor de Souza Filho, coordenador-geral de Programas Estratégicos e Infraestrutura da FAPESP.
 

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