Equipamentos instalados na Amazônia e em uma floresta temperada na Inglaterra (foto) vão simular uma elevação de 50% na concentração atmosférica de dióxido de carbono para avaliar os efeitos nos ecossistemas (foto: BIFoR FACE / Universidade de Birmingham)

Experimentos tentam descobrir como florestas reagem ao aumento de CO2 na atmosfera
09 de janeiro de 2020
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Equipamentos instalados na Amazônia e em uma floresta temperada na Inglaterra vão simular uma elevação de 50% na concentração atmosférica de dióxido de carbono para avaliar os efeitos nos ecossistemas

Experimentos tentam descobrir como florestas reagem ao aumento de CO2 na atmosfera

Equipamentos instalados na Amazônia e em uma floresta temperada na Inglaterra vão simular uma elevação de 50% na concentração atmosférica de dióxido de carbono para avaliar os efeitos nos ecossistemas

09 de janeiro de 2020
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Equipamentos instalados na Amazônia e em uma floresta temperada na Inglaterra (foto) vão simular uma elevação de 50% na concentração atmosférica de dióxido de carbono para avaliar os efeitos nos ecossistemas (foto: BIFoR FACE / Universidade de Birmingham)

 

André Julião | Agência FAPESP – Em uma área florestal ao norte de Manaus, no Amazonas, seis conjuntos de torres vão monitorar, 24 horas por dia, as condições da atmosfera e do solo na maior floresta tropical do mundo. Cerca de 8 mil quilômetros dali, em uma propriedade próxima de Birmingham, na Inglaterra, torres muito parecidas já efetuam o mesmo tipo de medida. Os experimentos buscam descobrir como as florestas tropical e temperada responderiam a um cenário em que a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera fosse 50% maior.

Para isso, tanques com 50 toneladas de CO2 foram acoplados às torres que integram o projeto FACE (sigla em inglês para Free-Air CO2 Enrichment). No AmazonFACE, o experimento da Amazônia, o gás será bombeado por 16 torres de 30 metros de altura – que ultrapassam a copa das árvores – em seis trechos de floresta, enquanto uma outra torre no centro, dotada de instrumentação científica, faz as medições. A configuração é a mesma no BIFoR FACE, em Birmingham. Espera-se, com os dados obtidos, subsidiar a tomada de decisões para mitigar ou mesmo evitar os impactos da elevação do CO2 atmosférico.

“A capacidade da floresta amazônica de absorver carbono foi reduzida em 30% desde os anos 1990. O cenário que prevíamos para 2050, portanto, deve acontecer muito mais cedo e a Amazônia vai se tornar neutra em carbono ou mesmo se tornar uma fonte emissora de CO2. Com o AmazonFACE buscamos entender como o aumento de dióxido de carbono afeta o funcionamento e a resiliência da floresta amazônica”, disse David Montenegro Lapola, professor do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Lapola apresentou o projeto, apoiado no âmbito do Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, durante o workshop FAPESP-Birmingham, em dezembro.

“A FAPESP vem colaborando com a Universidade de Birmingham desde 2010. Este é um momento tanto de celebrar o sucesso da parceria como de vislumbrar formas de obter novos resultados e oportunidades”, disse Roberto Marcondes Cesar Júnior, membro da coordenação do Programa Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP, durante a abertura do evento.

“A ideia do encontro é apresentar os projetos em andamento, em diferentes áreas do conhecimento, conduzidos em conjunto por pesquisadores de São Paulo e da Universidade de Birmingham. Nosso objetivo é que novas parcerias possam ser criadas para pesquisas executadas nos dois países”, disse à Agência FAPESP Robin Mason, pró-reitor de internacionalização da Universidade de Birmingham (UoB).

Lapola conduz a pesquisa em colaboração com Rob Mackenzie, diretor do BIFoR FACE. “Estamos interessados na resposta da floresta como um todo, não apenas de uma folha ou de uma árvore em particular, mas no ecossistema: as plantas e as comunidades de microrganismos e de invertebrados”, disse Mackenzie, professor da School of Geography, Earth and Environmental Sciences da UoB.

O britânico explicou que a floresta em que o experimento é realizado no Reino Unido é madura, tem árvores com mais de 150 anos de idade. Ainda assim, elas continuam respondendo ao aumento de dióxido de carbono. Uma das respostas mais evidentes, segundo o pesquisador, é no balanço de nitrogênio e fósforo.

“O dióxido de carbono é transformado em açúcar pelas plantas. À medida que aumenta a disponibilidade de CO2, porém, elas precisam aumentar também o consumo de outros nutrientes para manter o equilíbrio. Por isso, procuram no solo mais fósforo e nitrogênio”, disse.

Na Amazônia, portanto, o solo pobre em fósforo típico da região pode impedir as árvores de se adaptarem ao aumento de CO2 na atmosfera, conforme já mostrou um trabalho coordenado por Lapola (leia mais em: agencia.fapesp.br/31140).

Colaboração diversificada

O potencial tóxico de nanomateriais é tema de outro projeto financiado pela FAPESP e pela Universidade de Birmingham. Segundo os pesquisadores, com a expansão de produtos à base de nanotecnologia no mercado, aumenta a necessidade de conhecer os impactos ambientais que podem acarretar e de estabelecer padrões de segurança para inovações futuras.

“O projeto é sustentado em dois pilares. Entender a toxicidade de nanomateriais e como modificações em sua superfície alteram a toxicidade. Isso gera uma quantidade de dados muito grande. Por isso, estamos aproveitando essa conexão com Birmingham para anotar corretamente esses dados e disponibilizá-los em uma plataforma computacional aberta, que permitirá correlacionar dados de outros experimentos no mundo todo”, disse Diego Stéfani Teodoro Martinez, pesquisador do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, que realiza a pesquisa em Birmingham com bolsa da FAPESP.

Após ter a bolsa aprovada para o período de pesquisas em Birmingham, Martinez foi um dos contemplados na chamada 2018 do acordo FAPESP-University of Birmingham/University of Nottingham. O projeto será desenvolvido em colaboração com Iseult Lynch Yilmaz, da UoB.

Outro projeto aprovado na chamada de 2018 e apresentado durante o evento foi o “MODERN - Modelagem de Demanda para Redes Ferroviárias”, liderado por Cassiano Augusto Isler, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EP-USP), em colaboração com o professor Clive Roberts e o pesquisador Marcelo Blumenfled, da UoB, também presentes no evento.

Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), apresentou projeto realizado com Nicholas Loman, professor da School of Biosciences da University of Birmingham. Contemplado na chamada de 2016, o estudo possibilitou o sequenciamento em tempo real dos vírus da zika, dengue, chikungunya e febre amarela.

Joan Duda, da School of Sport, Exercise and Rehabilitation Sciences da UoB, e Regina Brandão, da Universidade São Judas Tadeu, apresentaram pesquisa focada na motivação de crianças e adolescentes em realizar exercícios. O objetivo do grupo é estimular hábitos de vida mais saudáveis.

Brunno Machado de Campos, do Laboratório de Neuroimagem da Unicamp, e Andy Bagshaw, do Centre for Human Brain Health da UoB, falaram sobre a colaboração em pesquisas que realizam com diferentes metodologias de processamento e interpretação de dados em neurociência. Campos lidera um projeto financiado pela FAPESP.

Claudia Hilsdorf Rocha, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, Jorge Vicente Valentim, do Centro de Educação e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Carlos (CECH-UFSCar), e Emanuelle Santos, da UoB, apresentaram pesquisas na área de Letras.
 

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