Participantes integram o braço paulista de um estudo conduzido em seis Estados brasileiros desde 2008. Objetivo é comparar o estado mental antes e durante a pandemia, tanto em indivíduos saudáveis quanto em portadores de ansiedade e depressão (foto: Daniel de Oliveira/Agência FAPESP)

Estudo vai monitorar impacto da pandemia e do isolamento social na saúde mental de 4 mil pessoas
07 de julho de 2020
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Participantes integram o braço paulista de um estudo conduzido em seis Estados brasileiros desde 2008. Objetivo é comparar o estado mental antes e durante a pandemia, tanto em indivíduos saudáveis quanto em portadores de ansiedade e depressão

Estudo vai monitorar impacto da pandemia e do isolamento social na saúde mental de 4 mil pessoas

Participantes integram o braço paulista de um estudo conduzido em seis Estados brasileiros desde 2008. Objetivo é comparar o estado mental antes e durante a pandemia, tanto em indivíduos saudáveis quanto em portadores de ansiedade e depressão

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Participantes integram o braço paulista de um estudo conduzido em seis Estados brasileiros desde 2008. Objetivo é comparar o estado mental antes e durante a pandemia, tanto em indivíduos saudáveis quanto em portadores de ansiedade e depressão (foto: Daniel de Oliveira/Agência FAPESP)

 

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Pesquisadores vão monitorar o impacto do distanciamento social e da pandemia causado pelo novo coronavírus na saúde mental de 4 mil pessoas do Estado de São Paulo. O objetivo do estudo é avaliar os efeitos da maior carga de estresse – seja por mudanças de hábito, luto, incertezas econômicas ou risco de contágio – tanto na população saudável quanto em pessoas com transtornos como depressão e ansiedade.

“Ainda é cedo para avaliar, pois estamos no começo do estudo. No entanto, o que percebemos até agora é que a pandemia e a quarentena têm funcionado como uma espécie de catalisador, sobretudo quando se trata de saúde mental. Basicamente, o que já não estava lá tão bem, tende a piorar. Por outro lado, fatores considerados positivos podem também ser reforçados”, diz André Brunoni, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e coordenador da pesquisa.

O acompanhamento da saúde mental durante a pandemia integra o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto - ELSA Brasil, que monitora a saúde de 15 mil funcionários públicos de seis universidade e centros de pesquisa do país desde 2008. O projeto multicêntrico, que investiga a incidência e os fatores de risco para doenças crônicas, como as cardiovasculares e o diabetes em seis Estados do país, tem financiamento do Ministério da Saúde. O Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP coordena a pesquisa em São Paulo, sendo responsável por um terço dos participantes do estudo.

O monitoramento da saúde mental durante a pandemia será realizado com apoio da FAPESP apenas com os participantes do ELSA no Estado de São Paulo – todos eram servidores ou aposentados da USP quando a pesquisa começou e têm idade entre 35 e 74 anos. A coleta de informações será realizada até dezembro de 2020 e a previsão é que a análise do estudo completo dure dois anos.

Questões relacionadas à saúde mental na pandemia têm sido investigadas desde o surgimento da COVID-19 na cidade chinesa de Wuhan. Porém, de acordo com Brunoni, um dos diferenciais da pesquisa do ELSA, em relação à maioria dos estudos que estão surgindo, está no fato de as pessoas pesquisadas serem monitoradas já há vários anos. “Em outras palavras, trata-se de um estudo de coorte, que é considerado mais robusto do que estados de prevalência, os quais fazem apenas uma avaliação pontual sem conhecer o histórico psiquiátrico do sujeito”, diz o pesquisador à Agência FAPESP.

A cada onda da pesquisa, realizada desde 2008 e atualmente indo para a quarta onda, os participantes fazem exames e entrevistas nas quais são avaliados aspectos como condições de vida, diferenças sociais, relação com o trabalho, gênero e especificidades da dieta da população brasileira.

“Com isso é possível saber não só se a pessoa tem a sensação de estar mais ou menos estressada, deprimida ou ansiosa. É possível comparar com antes da pandemia, saber quanto mudou e ir além de uma análise do estado agudo na quarentena e saber quanto é esse impacto”, diz.

Surpresas da quarentena

Embora exista a hipótese de sobrecarga de estresse por causa da pandemia e da quarentena, o pesquisador não descarta a possibilidade de que o estudo encontre respostas não tão óbvias.

“Diante deste cenário de distanciamento social, isolamento domiciliar e maior risco, é esperado que inúmeras repercussões psiquiátricas e psicológicas ocorram. No entanto, é preciso levar em conta também que a cidade de São Paulo já é altamente estressante, com muito trânsito e barulho, com extensa jornada de trabalho. Vários estudos mostram uma prevalência altíssima de ansiedade, entre 20 e 30%, e depressão, que varia de 5% a 10%. Então, também não seria totalmente surpreendente encontrar estabilização dessas taxas ou até mesmo melhoras nesses índices em indivíduos que conseguiram se adaptar à quarentena”, diz.

Além do estudo inédito sobre saúde mental durante a pandemia, o ELSA-Brasil vai permitir fazer relações entre questões associadas ao estado de saúde, de saúde mental e da própria COVID-19. “Sabemos tudo no que se refere à saúde dessas pessoas. Felizmente, ao longo desses anos, a adesão dos participantes tem sido muito boa. Portanto, além do estudo em saúde mental apoiado pela FAPESP, será possível também fazer futuramente conexões entre a ação do vírus e comorbidades, como diabetes e doenças cardiovasculares. Outra questão em que estamos interessados são os casos sem sintomas mentais, ou seja, entender por que determinadas pessoas são tão afetadas e outras não”, diz Isabela Benseñor , professora da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora-geral do ELSA-Brasil.

Teleatendimento e educação emocional

O estudo do ELSA direcionado à saúde mental será dividido em duas partes. A primeira consiste na pesquisa por meio de questionários on-line e por telefone sobre o impacto da pandemia e da quarentena na saúde mental das pessoas.

“Normalmente, o questionário é respondido presencialmente. Porém, em virtude da necessidade de isolamento social, foi preciso inovar e fazer o questionário on-line. Com isso, foi preciso alterar algumas questões e adaptá-las. Já recebemos mais de 1.500 respostas”, diz Brunoni.

Em quatro avaliações virtuais durante a pandemia, os pesquisadores pretendem avaliar, por meio de questionários, sintomas depressivos e ansiosos, ideação suicida, aumento de estresse, fatores de proteção e fatores de risco dessa população durante a pandemia da COVID-19.

“Tivemos de adaptar o questionário e incluir perguntas referentes à quarentena e à pandemia para entender melhor o que está acontecendo. Embora os pesquisados sejam funcionários da USP, com teoricamente maior estabilidade financeira, incluímos perguntas sobre incertezas econômicas e questões relacionadas aos companheiros ou companheiras, por exemplo”, diz Brunoni.

Já a segunda etapa será dedicada para a avaliação da eficiência de terapia a distância. Os pesquisados que apresentarem necessidade de atendimento psiquiátrico ou psicológico serão encaminhados para teleatendimentos com uma equipe de psicólogos e psiquiatras. Desde o início da quarentena, em março de 2020, os teleatendimentos passaram a ser autorizados pelo Conselho Federal de Psiquiatria e pelo Conselho Federal de Psicologia.

“Nessa etapa será possível avaliar as modalidades de teleatendimento e também a chamada psicoeducação para o manejo da ansiedade e do estresse”, diz.

No Brasil, os participantes realizarão exame sorológico para diagnóstico de COVID-19 em data a ser definida, provavelmente no início do próximo ano. “Essa etapa será realizada ao final da pandemia, de maneira presencial, no próprio centro de pesquisa, localizado no Hospital Universitário da USP”, afirma Benseñor.
 

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