Experimentos foram feitos com camundongos por grupo do ICB-USP. Os resultados, divulgados na revista Endocrinology, podem ter implicações futuras em terapias para controle do peso (imagem: acervo dos pesquisadores)

Estudo mostra como o ‘hormônio do crescimento’ age no cérebro e ajuda a estimular o apetite
24 de setembro de 2021
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Experimentos foram feitos com camundongos por grupo do ICB-USP. Os resultados, divulgados na revista Endocrinology, podem ter implicações futuras em terapias para controle do peso

Estudo mostra como o ‘hormônio do crescimento’ age no cérebro e ajuda a estimular o apetite

Experimentos foram feitos com camundongos por grupo do ICB-USP. Os resultados, divulgados na revista Endocrinology, podem ter implicações futuras em terapias para controle do peso

24 de setembro de 2021
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Experimentos foram feitos com camundongos por grupo do ICB-USP. Os resultados, divulgados na revista Endocrinology, podem ter implicações futuras em terapias para controle do peso (imagem: acervo dos pesquisadores)

 

Luciana Constantino | Agência FAPESP – Pesquisa realizada com camundongos mostrou como o hormônio do crescimento (GH, do inglês growth hormone) age no cérebro e desempenha importante papel no estímulo do apetite, além de suas funções já conhecidas. O GH regula a capacidade da grelina, molécula conhecida como hormônio da fome, de induzir o aumento na ingestão de alimentos.

O trabalho, conduzido no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), revelou que a grelina atua na glândula hipófise, estimulando a liberação de GH. Esses dois hormônios têm receptores no hipotálamo, região na base do cérebro com várias funções, entre elas a regulação do apetite.

“O rótulo de estimulador da fome deve ser, no mínimo, compartilhado entre grelina e GH. Isso porque, sem o efeito de estimulação da secreção de GH, a grelina também perde a capacidade de estimular o apetite”, afirma o pesquisador do ICB-USP José Donato Junior, um dos orientadores do estudo.

A pesquisa recebeu o apoio da FAPESP por meio de duas Bolsas de Pós-Doutorado (16/20897-3 e 17/25281-3) e de um Projeto Temático (20/01318-8). Os resultados foram divulgados na revista científica Endocrinology.

“Nossas descobertas podem ter implicações futuras em terapias para controle de peso corporal e regulação da ingestão alimentar”, diz o pesquisador à Agência FAPESP.

Donato lembra que outro grupo de cientistas já havia mostrado, em 2019, que quanto maior a taxa de GH, mais o cérebro produz o peptídeo AgRP, potente estimulador de apetite.

O estudo foi realizado com indivíduos com acromegalia – doença crônica provocada por uma disfunção da glândula hipófise, que passa a produzir o GH em excesso e provoca aumento anormal de extremidades do corpo, como mãos, pés e rosto.

Esse trabalho se baseou em parte nos resultados de outra pesquisa desenvolvida no ICB-USP que apontou a atuação do GH diretamente no cérebro para conservar energia quando se perde peso, além de sua função de desenvolvimento ósseo e aumento de estatura (leia mais em agencia.fapesp.br/29906/).

Mecanismo

Para entender a atuação dos dois hormônios, os pesquisadores da USP geraram camundongos machos geneticamente modificados que não possuíam receptor para o GH – especificamente em neurônios.

Embora esses camundongos tenham mostrado aumento normal do GH após injeção de grelina, eles não apresentaram a resposta de estímulo do apetite esperada.

Além disso, exibiram níveis hipotalâmicos reduzidos de neuropeptídeos que estimulam a fome, como o Y. Com isso, os resultados revelam que a ação do GH no cérebro dos camundongos é necessária para o efeito estimulador da grelina na ingestão de alimentos.

A grelina, o único hormônio ligado à sensação de fome, é produzido pelo estômago, enquanto outros hormônios gerados no intestino ou no tecido adiposo costumam causar sensação de saciedade. Descoberta em 1999, a grelina também está relacionada ao estresse, ajudando a entender o motivo de a fome mudar quando o organismo está exposto a situações extremas.

Já o GH foi descoberto há mais tempo, sendo que estudos da década de 1950 mostraram pela primeira vez sua estrutura. Até hoje é apontado como o fator mais importante ligado ao crescimento corporal.

A falta desse hormônio pode provocar nanismo, quando o corpo não se desenvolve como deveria, fazendo com que a pessoa tenha uma altura máxima abaixo da média da população da mesma idade e sexo, podendo variar entre 1,40 e 1,45 metro. O excesso leva ao gigantismo (menos comum atualmente, pois tem tratamento aplicado desde os primeiros anos da criança) ou à acromegalia.

Futuro

Donato afirma que os próximos passos da pesquisa estão voltados a compreender melhor como o GH atua no cérebro.

“Isso nos aproxima de propostas terapêuticas. Estamos testando um medicamento usado em casos de acromegalia para bloquear a ação do hormônio estimulador da fome. O problema são os possíveis efeitos colaterais, por isso temos que entender os mecanismos celulares usados pelo GH para afetar os neurônios.”

O grupo do ICB-USP também publicou uma revisão de estudos na revista Frontiers in Neuroendocrinology, que compila informações sobre como o hipotálamo (controlador da ingestão alimentar e do metabolismo) regula o exercício físico ou é regulado por ele. O trabalho apontou que a combinação de abordagens fisiológicas e moleculares ajuda a entender a fisiologia do exercício em pontos como estratégias de perda de peso, aderência ao treinamento e desempenho.

O artigo Ghrelin-induced Food Intake, but not GH Secretion, Requires the Expression of the GH Receptor in the Brain of Male Mice pode ser lido em https://academic.oup.com/endo/article-abstract/162/7/bqab097/6273366.
 

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