A utilização de métodos alternativos ao uso de animais de experimentação é tendência mundial (Foto: Wikipedia)
Entre as vantagens das novas metodologias está a possibilidade de utilização de células humanas, propiciando maior taxa de sucesso na transição de testes pré-clínicos para clínicos
Entre as vantagens das novas metodologias está a possibilidade de utilização de células humanas, propiciando maior taxa de sucesso na transição de testes pré-clínicos para clínicos
A utilização de métodos alternativos ao uso de animais de experimentação é tendência mundial (Foto: Wikipedia)
Ricardo Muniz | Agência FAPESP – Em artigo publicado no Journal of Fungi, pesquisadores de instituições do Brasil, dos Estados Unidos e da Colômbia que investigam interações entre fungos e hospedeiros apresentaram uma exposição abrangente de diversas aplicações empregando metodologias alternativas ao uso de animais mamíferos.
Os métodos alternativos in vitro e in vivo, atualmente mais acessíveis e em disseminação, têm grande potencial para substituir o uso de animais. São, em muitos casos, mais rápidos e baratos, além de terem condições experimentais altamente controladas e resultados quantificáveis, diferentemente de alguns testes em animais, que demandam mais tempo e gastos.
“Outra vantagem é a possibilidade de usar células humanas – linhagens primárias e comerciais usadas para pesquisa, as últimas compradas de bancos de células. O uso dessas células elimina o problema da distância filogenética entre animais e humanos e leva a maior taxa de sucesso na transição dos testes pré-clínicos para clínicos”, explica Maria José Soares Mendes Giannini, professora titular do Laboratório de Proteômica e Micologia Clínica do Departamento de Análises Clínicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (FCFAr-Unesp), apoiada em suas pesquisas pela FAPESP (19/23622-3, 21/14839-9 e 21/03805-6).
Suas atividades são realizadas em parceria com Ana Marisa Fusco Almeida, responsável pelo Laboratório de Desenvolvimento e Validação de Métodos Alternativos para Avaliação de Segurança e Eficácia de Bioprodutos (LaMABio), também da Unesp e apoiada pela FAPESP.
As pesquisadoras desenvolvem metodologias in vitro e in vivo para avaliação de toxicidade utilizando cultivo celular em 2D e 3D de diversas linhagens celulares e modelos animais alternativos como zebrafish (Danio rerio), Galeria mellonella (traça-da-cera), Tenebrio molitor (bicho-da-farinha) e Caenorhabditis elegans (verme encontrado no solo). Esses modelos são usados para estudar infecções fúngicas no contexto de virulência, resposta imune inata, eficácia terapêutica e segurança toxicológica. Entre suas vantagens estão o baixo custo, ausência de problemas éticos, facilidade de experimentação, eficiência em termos de tempo e a possibilidade de usar muitos animais por experimento em comparação com modelos de mamíferos.
As pesquisadoras também mantêm várias colaborações com indústrias farmacêuticas e veterinárias por meio de projetos específicos no desenvolvimento e avaliação de produtos antimicrobianos e metodologias para avaliação e quantificação de contaminantes de ambientes, de produção de insumos farmacêuticos e afins. Além disso, têm participado do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP, contribuindo para o desenvolvimento de metodologias preditivas e de segurança toxicológica e de formulações farmacêuticas.
A utilização de métodos alternativos ao uso de animais de experimentação é tendência mundial. Em outubro de 2008, o Brasil formalizou (Lei nº 11.794) a diretriz de redução do uso de animais em ensino e pesquisa e de monitoramento e avaliação da introdução de técnicas alternativas que o substituam. A ciência de animais de laboratório em todo o mundo é regida atualmente por três princípios, chamados “3R’s”: redução (reduction), refinamento (refinement) e substituição (replacement). Os 3R’s reforçam a necessidade de reduzir o número de animais utilizados, melhorar a condução dos estudos, minimizar o sofrimento o quanto possível e buscar métodos alternativos que, por fim, substituam testes in vivo.
Algumas agências regulatórias tais como o FDA nos EUA, a EMA na União Europeia e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, além da Rede Nacional de Métodos Alternativos (Renama, do CNPq/MCTI), possuem programas específicos para implementação de métodos in vitro visando à suplementação ou substituição de estudos em animais.
“A Renama tem papel fundamental na disseminação desses ensaios e na garantia da qualidade dos serviços ofertados ao setor produtivo, levando ao aumento da competitividade nacional e internacional, uma vez que os métodos alternativos ao uso de animais representam barreiras técnicas à exportação, por causa das legislações específicas de cada país”, diz Giannini, que é doutora em ciências biológicas (microbiologia) pela Universidade de São Paulo.
O artigo Alternative Non-Mammalian Animal and Cellular Methods for the Study of Host–Fungal Interactions, também assinado por cientistas das universidades da Flórida (EUA) e de Antioquia (Colômbia), pode ser lido em https://www.mdpi.com/2309-608X/9/9/943.
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