Cinquenta pesquisadores de 26 instituições de pesquisa mostraram que não existe um tamanho único de área de preservação permanente válido para todo o país ( riachos representativos dos quatro biomas abrangidos no estudo: Amazônia, Cerrado, Pampa e Mata Atlântica; fotos: Renato T. Martins, Frederico Salles, Fernando G. Becker e Carina Vogel)
Cinquenta pesquisadores de 26 instituições de pesquisa mostraram que não existe um tamanho único de área de preservação permanente válido para todo o país
Cinquenta pesquisadores de 26 instituições de pesquisa mostraram que não existe um tamanho único de área de preservação permanente válido para todo o país
Cinquenta pesquisadores de 26 instituições de pesquisa mostraram que não existe um tamanho único de área de preservação permanente válido para todo o país ( riachos representativos dos quatro biomas abrangidos no estudo: Amazônia, Cerrado, Pampa e Mata Atlântica; fotos: Renato T. Martins, Frederico Salles, Fernando G. Becker e Carina Vogel)
José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Além de modificar fortemente a cobertura do solo, fatores como a urbanização, a pecuária e a agricultura em larga escala podem levar os ecossistemas aquáticos ao colapso, comprometendo a oferta de água doce, o fornecimento de alimentos e a preservação da biodiversidade. E, no contexto da mudança climática global, as previsões indicam que essas ocorrências deverão se tornar cada vez mais frequentes.
Uma estratégia adotada em vários países é a proteção de faixas de vegetação nativa no entorno de riachos, rios e lagos. No Brasil, a legislação determina que essas faixas – denominadas Áreas de Preservação Permanente (APPs) – sejam mantidas, tanto em espaços públicos quanto em propriedades privadas, com largura variando em função do tamanho do corpo d´água.
Existem, porém, incertezas sobre como tornar a medida de fato eficiente. Quanto deve ser protegido para prevenir o colapso? Há um tamanho único válido para todas as grandes regiões? O artigo Thresholds of freshwater biodiversity in response to riparian vegetation loss in the Neotropical region, publicado no Journal of Applied Ecology, buscou responder a estas e outras perguntas.
“Já sabíamos que proteger a vegetação ripária [adjacente aos corpos de água] é chave para manter os ecossistemas de água doce saudáveis. O que nosso estudo procurou responder é se existem ou não padrões consistentes de reservas que sejam válidos para diferentes áreas de grandes regiões e mesmo para diferentes regiões”, diz Renato Dala-Corte, pós-doutorando na Universidade Federal de Goiás e primeiro autor do artigo.
Trata-se do maior e mais completo estudo desse tipo já feito no Brasil. Foram utilizados dados coletados, ao longo de anos de trabalho, por 50 pesquisadores de 26 instituições de pesquisa. A iniciativa contou com apoio da FAPESP ao projeto ScaleBio, liderado por Tadeu Siqueira, do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Rio Claro, um dos autores do artigo, e a vários outros projetos relacionados ao tema.
“Combinamos imagens de satélite, que mostravam o tamanho das faixas ripárias no entorno de rios, com indicadores biológicos obtidos em pesquisa de campo, para estimar pontos em que a biodiversidade muda de maneira abrupta ao longo de um gradiente de 0% até 100% de vegetação. Os resultados foram muito claros. Não existe um valor único de largura de vegetação ripária que possa proteger a biodiversidade aquática das pressões de uso do solo. Não existe um número mágico para todos os biomas”, afirma Siqueira à Agência FAPESP.
Esse resultado contraria as disposições da legislação, que estabelecem um tamanho para as APPs sem levar em conta as diferenças regionais e as formas locais de ocupação do solo. “Seria mesmo surpreendente encontrar um valor pouco variável para todo o Brasil, um país que engloba vários biomas diferentes”, diz.
“O problema é que isso sugere que muitos de nossos ecossistemas aquáticos podem estar próximos ou já tenham ultrapassado os limites que levam a grandes perdas de biodiversidade. Nossa legislação é relativamente boa em alguns aspectos, mas o estudo indica que pode ser aperfeiçoada”, comenta Siqueira.
O estudo mostrou também que existe um gradiente de impacto em função da distância do corpo aquático. Dentro da menor unidade espacial avaliada, de 50 metros, uma perda de apenas 6,5% de vegetação nativa foi suficiente para promover um forte declínio em muitas comunidades de invertebrados aquáticos. Esse percentual, de 6,5%, é um valor médio para o Brasil. Em escala regional, percentuais ainda menores de degradação já levam a impactos significativos. Na Amazônia, em alguns casos, bastaram 2,9%.
“À medida que nos aproximamos dos riachos, pouca alteração já é suficiente para afetar a biodiversidade aquática negativamente. Ou seja, é preciso concentrar a intensificação do uso do solo, que é inevitável, longe dos rios se quisermos conservar nossa biodiversidade e usufruir dos serviços que estes ecossistemas nos fornecem”, afirma Siqueira.
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