Análise do genoma mitocondrial do morcego vampiro, principal transmissor de raiva para o gado, aponta que alta variabilidade genética seria uma das causas do descompasso entre controle do morcego e número de casos da doença (foto: Fiocruz)

Diferenciação gênica na colônia
12 de fevereiro de 2008

Pesquisador do IB-USP analisa genoma mitocondrial do morcego-vampiro, principal transmissor de raiva para o gado, e aponta que alta variabilidade genética do animal seria uma das causas do descompasso entre o controle do morcego e o número de casos da doença no país

Diferenciação gênica na colônia

Pesquisador do IB-USP analisa genoma mitocondrial do morcego-vampiro, principal transmissor de raiva para o gado, e aponta que alta variabilidade genética do animal seria uma das causas do descompasso entre o controle do morcego e o número de casos da doença no país

12 de fevereiro de 2008

Análise do genoma mitocondrial do morcego vampiro, principal transmissor de raiva para o gado, aponta que alta variabilidade genética seria uma das causas do descompasso entre controle do morcego e número de casos da doença (foto: Fiocruz)

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – No Brasil, o morcego-vampiro (Desmodus rotundus), principal transmissor de raiva para o gado, é tradicionalmente combatido por meio de sua captura com redes para posterior aplicação de uma pasta com arsênico nos animais, que, em seguida, são soltos e vão para suas colônias contaminar outros indivíduos.

Estima-se que para cada animal que recebe a pasta com o veneno, cujo efeito anticoagulante faz com que tenham hemorragia interna, sejam mortos 20. Segundo Felipe de Mello Martins, pesquisador do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP), essa tem sido a única forma para controlar as populações do animal em diferentes biomas do país.

Em artigo publicado no Journal of Zoological Systematics and Evolutionary Research, Martins descreve a alta variabilidade genética do Desmodus rotundus que, associada à falta de diversidade do método de combate ao animal, pode estar relacionada com o aumento, no fim da década de 1990, dos casos de raiva em bovinos identificados em todo o país.

"Só no Estado de São Paulo foram notificados, em 1998, pelo Instituto Pasteur, 180 casos de raiva em bovinos transmitidos por morcegos. No ano seguinte, esse número subiu para 450 casos", disse ele à Agência FAPESP. O estudo inclui dados até 1999.

"Não podemos afirmar que a diferenciação genética dos morcegos é responsável diretamente pelo aumento dos casos de raiva, mas certamente os procedimentos atuais de controle do animal não estão tendo o efeito desejado na diminuição da doença", afirmou.

O pesquisador estudou a distribuição geográfica e a variabilidade genética do morcego, por meio do seqüenciamento de seu DNA, a fim de detectar mutações genéticas em populações de diferentes regiões. Martins coletou amostras de tecido de animais que habitam as cinco regiões do país, além de analisar indivíduos capturados em São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

"A análise do genoma mitocondrial desses animais mostrou que cada grupo de indivíduos, dependendo da região do país, tem ancestrais distintos. Além disso, do ponto de vista quantitativo, o número de diferenças encontradas nos genes do morcego-vampiro é equivalente às variações genéticas encontradas em outros tipos animais de espécies distintas", explicou Martins.

"Esse é um indício de que o Desmodus rotundus possivelmente abriga espécies crípticas que são morfologicamente semelhantes, mas geneticamente diferentes, e por isso seu controle deveria ser específico em cada região do país", disse. As análises foram feitas no Laboratório de Biologia Evolutiva e Conservação de Vertebrados do IB.

O extermínio indiscriminado dos morcegos estaria contribuindo ainda, segundo o cientista, para a eliminação de populações com características únicas, que nem sequer são conhecidas na literatura científica.

"O extermínio de animais silvestres é proibido por lei e nem todos os morcegos eliminados estão infectados com o vírus da raiva e, por isso, não chegam a comprometer o gado. Além de investirmos em novas técnicas de controle dos morcegos, a sugestão é que sejam criados novos programas de vacinação dos rebanhos, de modo a achar um ponto de equilíbrio que minimize os danos causados para o morcego e também para o gado", apontou.

Para ler o artigo Filogeografia de DNA mitocondrial revela acentuada estruturação populacional no morcego-vampiro comum, Desmodus rotundus, publicado no Journal of Zoological Systematics and Evolutionary Research, clique aqui.


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