Pesquisa lingüística no interior de São Paulo vai gerar um inédito banco de dados

Dialeto paulista
26 de abril de 2005

Estudo desenvolvido pela Unesp com 132 voluntários resulta em grande banco de dados com amostras lingüísticas da região Noroeste do Estado de São Paulo

Dialeto paulista

Estudo desenvolvido pela Unesp com 132 voluntários resulta em grande banco de dados com amostras lingüísticas da região Noroeste do Estado de São Paulo

26 de abril de 2005

Pesquisa lingüística no interior de São Paulo vai gerar um inédito banco de dados

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - A peculiaridade na pronúncia da letra R talvez seja o maior símbolo da fala de cidades do interior de São Paulo. Estudar essa e outras características regionais da fala é o objetivo de um grande estudo que está sendo conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do campus de São José do Rio Preto, dentro do Projeto Alip (Amostra Lingüística do Interior Paulista).

"O resultado será um banco de dados constituído de amostra de fala (arquivos sonoros) de 152 informantes da região de São José do Rio Preto, que inclui sete cidades circunvizinhas", disse Sebastião Leite Gonçalves, coordenador da pesquisa, à Agência FAPESP.

A lista fornecida pelo professor do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce) é formada por moradores das cidades de Bady Bassit, Cedral, Guapiaçu, Ipiguá, Mirassol e Onda Verde, além da própria São José do Rio Preto.

Cada um dos chamados informantes, explica Gonçalves – um dos integrantes do Grupo de Pesquisa em Gramática Funcional do Ibilce – produzirá cinco tipos de textos orais, que serão catalogados como arquivos sonoros. Esses registros serão acompanhados com a transcrição de cada uma das amostras e do diário de campo das coletas. "Os participantes foram estratificados por quatro variáveis sociais: gênero, idade, escolaridade e renda familiar", explica o pesquisador.

Depois de tudo pronto, o que deve ocorrer no início de 2006, Gonçalves espera que muitas novas portas possam se abrir para o estudo da língua falada no interior de São Paulo e especificamente em São José do Rio Preto.


Natureza sociolingüística

"A característica mais facilmente apreensível, que qualquer indivíduo pode notar, é a presença do R retroflexo, uma manifestação fonológica. Como as outras características precisam de um estudo mais aprofundado, esse banco de dados ajudará muito nesses outros estudos", disse.

Um dos desdobramentos possíveis do projeto, segundo Gonçalves, é fazer um estudo de natureza sociolingüística para caracterizar o falar da região, tentando verificar a influência social na manifestação de determinados fenômenos lingüísticos variáveis. "Não existe comunidade em que todos os seus falantes se expressem sempre da mesma forma, sem qualquer tipo de variação."

Mesmo enquanto o banco de dados não fica pronto, o grupo do Ibilce já esmiuça o dialeto do Noroeste de São Paulo. Entre as várias propostas do projeto Alip, que tem como sub-coordenadora a professora Luciani Tenani, duas se dedicam também a variações do nível fonológico.

Segundo Gonçalves, há alunos estudando fenômenos chamados de alçamento de vogais pré e pós-tônicas. "Do tipo ‘menino’ e ‘meninu’, ‘cozinha’ e ‘cuzinha’. Queremos determinar se aqui no nosso dialeto essa é uma regra variável mesmo", conta. Além disso, o grupo do Alip tem feito também pesquisas nos níveis morfossintático e sintático.

Como no Brasil existem vários grupos de estudos socioliongüísticos, Gonçalves está com boas expectativas para o futuro, principalmente depois que o banco de dados estiver totalmente concluído. "O importante é que vamos poder fazer comparações interdialetais. O banco servirá ainda para a comprovação empírica de estudos lingüísticos de natureza teórica."


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