Resultados do trabalho conduzido na Univap apontam caminhos para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes contra a doença do tipo cutânea (imagem de experimentos conduzidos com macrófagos infectados; crédito: Juliana Ferreira-Strixino/Univap)
Resultados do trabalho conduzido na Univap apontam caminhos para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes contra a doença do tipo cutânea
Resultados do trabalho conduzido na Univap apontam caminhos para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes contra a doença do tipo cutânea
Resultados do trabalho conduzido na Univap apontam caminhos para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes contra a doença do tipo cutânea (imagem de experimentos conduzidos com macrófagos infectados; crédito: Juliana Ferreira-Strixino/Univap)
Luciana Constantino | Agência FAPESP – Uma pesquisa publicada na revista Antibiotics mostra que o uso da curcumina, substância encontrada no açafrão-da-terra (Curcuma longa), aliada à terapia fotodinâmica foi eficaz na redução da carga parasitária e até na eliminação do protozoário Leishmania. O resultado aponta um caminho para futuras pesquisas em humanos buscando tratamentos mais eficazes e direcionados para a leishmaniose.
O estudo, que teve apoio da FAPESP, aponta que aplicações de 7,8 a 15,6 microgramas por ml (µg/mL) de curcumina associada à irradiação de LED azul (λ = 450 ± 5 nm), com uma dose de luz de 10 J/cm2, conseguiram inativar células do sistema imune (macrófagos) infectadas com Leishmania braziliensis, a espécie mais comum no país, e Leishmania major.
As células saudáveis não foram afetadas. Quando administradas separadamente – a substância e a luz –, o resultado não foi satisfatório.
A terapia fotodinâmica (TFD) consiste em um processo químico decorrente da interação de luz, oxigênio e um fármaco sensível à luz (fotossensibilizador). Baseia-se na administração de um composto fotossensível, na forma de pomada ou injetável.
Após um determinado período, o tecido é irradiado por uma fonte de luz, com determinado comprimento de onda, dependendo do composto usado. A luz torna esse composto mais energético, possibilitando que ele reaja com o oxigênio presente na célula, levando-a à morte.
“A curcumina apresentou boa distribuição nos macrófagos, bem como nos amastigotas [uma das formas do parasita] dentro deles, nas concentrações testadas, após uma hora de incubação. A TFD com curcumina foi capaz de reduzir a viabilidade de amastigotas dentro dos macrófagos, além de alterar sua atividade mitocondrial, o que resultou em impacto significativo na morfologia dessas células, causando intensa destruição”, concluem os pesquisadores da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), em São José dos Campos.
E complementam: “Um ponto interessante é a baixa recuperação de parasitas após o tratamento com TFD, o que permite inferir que o uso da terapia associada à curcumina nos parâmetros testados foi eficaz na redução e eliminação da carga parasitária com uma única aplicação”.
Parasita que se estabelece no interior da célula e consegue escapar do sistema de defesa do hospedeiro, a Leishmania apresenta em seu ciclo de vida duas formas evolutivas: a promastigota, que é flagelada, extracelular e encontrada no vetor do protozoário; e a amastigota, intracelular, sem movimentos e que infecta o organismo humano.
A professora Juliana Ferreira-Strixino, coordenadora da pesquisa e do Laboratório de Fotobiologia Aplicada à Saúde (Fotobios), da Univap, explica que um dos objetivos do estudo era entender o funcionamento da forma promastigota, que apresenta vários tipos de proteção contra o sistema imunológico, e depois como funcionaria a terapia nos amastigotas.
“In vitro percebemos uma redução grande da carga parasitária, o que significa a destruição de macrófagos infectados e também do parasita na forma amastigota”, diz ela.
No artigo, o grupo aponta que, “se a terapia eliminasse apenas os macrófagos hospedeiros, haveria o risco de liberação de parasitas viáveis para infectar novas células". "No entanto, o estudo mostrou que as aplicações podem eliminar completamente os parasitas das lesões locais.”
Antes de testar a curcumina, os pesquisadores analisaram outras substâncias fotossensibilizadoras, como clorina, azul de metileno e porfirina. Esse último também resultou na publicação de artigo.
O Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado no Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP), contribuiu na realização do projeto com o fornecimento do fotossensibilizador.
“A curcumina se mostrou eficiente e mais barata. Sua aplicação poderia reduzir o custo das medicações usadas atualmente contra a leishmaniose”, afirma a professora.
Substância ativa da cúrcuma (planta muito usada na culinária indiana e conhecida por sua cor amarelo-ouro e sabor picante), a curcumina tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.
A doença
A leishmaniose cutânea é a forma mais comum do tipo tegumentar, transmitida por insetos que se alimentam de sangue (flebótomos), conhecidos como mosquito-palha. Começa como um pequeno nódulo no local da picada, podendo evoluir para uma ferida em algumas semanas.
Considerada uma Doença Tropical Negligenciada (DTN) por afetar populações vulneráveis socioeconomicamente, a leishmaniose tegumentar é classificada como um problema de saúde pública no Brasil. Foram confirmados 15.484 novos casos em 2019 no país, com coeficiente de detecção de 7,37 registros a cada 100 mil habitantes, segundo dados do Ministério da Saúde.
A prevenção da doença depende do combate ao mosquito, assim como acontece, por exemplo, com o Aedes aegypti em relação à dengue – ambas consideradas DTNs.
Estima-se que as doenças negligenciadas afetem 1,5 bilhão de pessoas em mais de 150 países, mas os investimentos em pesquisas básica e clínica na área ainda são baixos. Por isso, muitos tratamentos disponíveis são reaproveitados de outras doenças, com efeitos colaterais e custo elevado para as populações carentes, mais afetadas.
Nas últimas décadas, análises epidemiológicas da leishmaniose tegumentar têm sugerido mudanças no padrão de transmissão da doença, inicialmente considerada zoonose de animais silvestres. Agora, ela já passou a ser registrada em zonas rurais, praticamente desmatadas, e em regiões periurbanas.
Próximos passos
Segundo Ferreira-Strixino, agora seu grupo de pesquisa está começando a montar um estudo visando a trabalhar com roedores. Ainda será preciso estabelecer o modelo a ser usado – rato, camundongo ou hamster, por exemplo.
No futuro, a ideia é testar a curcumina como uma alternativa para o tratamento da doença, já que pode ser uma terapia de baixo custo e de aplicação somente no local afetado, tornando possível tratar as lesões individualmente, sem o impacto que as drogas administradas sistemicamente podem apresentar.
O artigo Evaluation of the Photodynamic Therapy with Curcumin on L. braziliensis and L. major Amastigotes, de André Henrique Correia Pereira, Luciana Maria Cortez Marcolino, Juliana Guerra Pinto e Juliana Ferreira-Strixino, pode ser lido em www.mdpi.com/2079-6382/10/6/634/htm.
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