Pesquisa aponta que, em pouco mais de 30 anos, a mecanização da agricultura eliminou cerca de 670 mil postos de trabalho em áreas rurais no Estado de São Paulo (foto: Eduardo Cesar)

Cortes em série
06 de dezembro de 2007

Pesquisa aponta que, em pouco mais de 30 anos, a mecanização da agricultura eliminou cerca de 670 mil postos de trabalho em áreas rurais no Estado de São Paulo

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Pesquisa aponta que, em pouco mais de 30 anos, a mecanização da agricultura eliminou cerca de 670 mil postos de trabalho em áreas rurais no Estado de São Paulo

06 de dezembro de 2007

Pesquisa aponta que, em pouco mais de 30 anos, a mecanização da agricultura eliminou cerca de 670 mil postos de trabalho em áreas rurais no Estado de São Paulo (foto: Eduardo Cesar)

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – De 1971 a 2004, cerca de 670 mil postos de trabalho foram eliminados nas áreas rurais do Estado de São Paulo devido, principalmente, à progressiva mecanização da agricultura paulista. O número de trabalhadores no período caiu de 1,723 milhão para 1,050 milhão.

Os dados estão na tese de doutorado de José Marangoni Camargo, professor de economia na Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Marília (SP).

O trabalho, apresentado no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), teve como base indicadores do Instituto de Economia Agrícola, vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento.

Intitulado Relações de trabalho na agricultura paulista no período recente, o estudo destaca que o nível de emprego direto gerado pela agricultura depende de quatro fatores: área cultivada, composição das culturas, desempenho da safra e estágio tecnológico dos empreendimentos. Segundo Camargo, a área plantada ficou praticamente estagnada no estado entre 1971 e 2004, em torno de 6 milhões de hectares.

"O desaparecimento de 670 mil postos de trabalho nesse período pode ser explicado pelas mudanças nos processos técnico-produtivos e pelo avanço das inovações tecnológicas", disse o professor à Agência FAPESP. "Modificações na composição da agricultura para culturas como a cana-de-açúcar, que demandam tecnologias mais avançadas, também foram determinantes para o desemprego."

A categoria mais afetada pela mecanização são os trabalhadores temporários, também conhecidos como volantes ou bóias-frias. A tese indica que, devido à modernização dos métodos de produção, foram nos anos 1990 que ocorreram as mudanças mais significativas na ocupação agrícola paulista.

Segundo Camargo, em 2004 a cana-de-açúcar ocupava 48% de toda a área com culturas no estado, enquanto em 1990 esse índice era de 33%. "Uma colheitadeira chega a substituir o trabalho manual de até cem indivíduos e, como a mecanização da colheita da cana também acompanhou a evolução da área plantada, qualquer modificação nesse setor tem impacto direto na força de trabalho", disse.

De acordo com o economista, de 2000 a 2004, a cana impulsionou o aumento de 6 milhões para cerca de 7 milhões de hectares plantados com culturas agrícolas em São Paulo. Atualmente, o setor sucroalcooleiro, o que mais sofreu transformações no emprego, ocupa mais de 50% da área cultivada por ter se expandido para outras regiões, como pastagens, além de substituir culturas tradicionais como a laranja.

"Hoje, a cana-de-açúcar emprega em torno de 230 mil trabalhadores, o que representa cerca de 20% do total ocupado na agricultura paulista. Em 2007 tivemos quase 4 milhões de hectares plantados com cana, sendo que 45% da sua colheita já é mecanizada. Nos anos 1990 esse índice de mecanização não chegava a 30%", comparou.

Por outro lado, segundo o pesquisador, é possível dizer que hoje o número de trabalhadores empregados com a colheita da cana permanece estável porque, ao mesmo tempo em que a mecanização da colheita cresce, o plantio da cultura também avança em áreas com baixa ocupação de mão-de-obra, em especial na região oeste do estado.

Camargo aponta ainda que, mesmo que praticamente todas as regiões do estado tenham registrado redução do nível de emprego no campo de 1971 a 2004, as baixas nos empregos agrícolas não foram iguais.

"Nas cidades onde predominam a pecuária e a monocultura, como por exemplo em Presidente Prudente e Araçatuba, o desemprego foi mais acentuado do que nas regiões onde as culturas são diversificadas", afirmou.


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