Berçário de tubarões em Noronha
22 de março de 2004

Estudo mostra que uma típica espécie de tubarão associada a recifes de corais se utiliza do arquipélago de Fernando de Noronha para se acasalar e reproduzir, tornando a preservação ambiental da região ainda mais necessária

Berçário de tubarões em Noronha

Estudo mostra que uma típica espécie de tubarão associada a recifes de corais se utiliza do arquipélago de Fernando de Noronha para se acasalar e reproduzir, tornando a preservação ambiental da região ainda mais necessária

22 de março de 2004

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Ele é bastante conhecido dos mergulhadores do Caribe e do sul da Flórida, mas em Fernando de Noronha o tubarão cabeça-de-cesto (Carcharhinus perezi) também está presente. Mesmo sendo conhecido dos observadores dos oceanos, um dos grandes enigmas da biologia populacional dessa espécie típica dos recifes de corais ainda precisava ser desvendado.

Os cientistas, pelo menos nos domínios do Atlântico Sul, não conheciam nenhuma área usada pelo C. perezi para acasalamento e reprodução. Mas, como revela uma nova pesquisa, uma dessas áreas acaba de ser descoberta.

"Nossos resultados mostram que a região costeira do arquipélago é utilizada pelo C. perezi como área de nascimento – ou parto – e crescimento de exemplares jovens, além de existir indícios de que os animais usam o arquipélago como local de cópula", disse o biólogo Ricardo Garla, autor do estudo, à Agência FAPESP.

Garla, cujo estudo foi tema de tese de doutorado apresentada no Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro, acredita que Fernando de Noronha seja um dos principais berçários naturais da espécie no Atlântico Sul.

Segundo as pesquisas, já foram registradas as capturas de 143 exemplares do tubarão cabeça-de-cesto na área investigada, com tamanhos entre 71 a 224 centímetros. Todos encontrados entre 5 e 30 metros de profundidade.

"Os dados mostram que a reprodução dessa espécie está muito associada a regiões insulares", explica o pesquisador, que vive em Ribeirão Preto (SP). Segundo ele, o estudo mostrou um outro dado, que também começa a preocupar.

Os tubarões, de acordo com o biólogo, que também analisou a presença de outras espécies encontradas no arquipélago, não freqüentam muito o trecho da Área de Proteção Ambiental (APA). "Isso pode estar relacionado com o aumento das atividades antrópicas nos últimos três ou quatro anos", afirmou.

Durante a amostragem dos pontos de coleta de tubarões, surgiu uma outra indicação de que algumas áreas de Fernando de Noronha estão deixando para trás os conceitos de desenvolvimento sustentável. "Percebemos a ocorrência de uma explosão na população do ouriço-branco, o que é um efeito indireto do aumento da pesca", disse o biólogo. O crescimento das atividades dos pescadores levou à diminuição da presença dos predadores principais dos ouriços e o conseqüente aumento populacional.

Seja para a preservação de todo o arquipélago, ou pela sobrevivência dos exemplares de C. perezi, Garla não tem dúvidas de que um novo plano de manejo precisa ser implantado na região. Além da proibição da pesca em alguns pontos ao redor da ilha principal de Fernando de Noronha, ele defende a adoção de uma política decisiva de educação ambiental que inclua visitantes e a população local.

"Apesar de ainda não termos provas genéticas, é possível afirmar que a população de tubarões, que sofreu com a pesca artesanal entre 1992 e 1997, está se recuperando. Mas isso é um processo lento, que pode demorar várias décadas", disse Garla. "Estamos muito próximos do ponto de viragem e ainda é possível impedir que a situação piore".


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