Um dos principais personagens da construção do estudo de filosofia no país morreu na madrugada de sexta-feira (12/1), em São Carlos (SP)
Um dos principais personagens da construção do estudo de filosofia no país morreu na madrugada de sexta-feira (12/1), em São Carlos (SP)
O professor teve uma parada cardiorrespiratória decorrente de complicações de um câncer de laringe, segundo informações divulgadas pela UFSCar, que decretou luto oficial de três dias. O sepultamento foi realizado no mesmo dia, no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, em São Carlos.
Segundo o chefe do Departamento de Filosofia da UFSCar, José Eduardo Marques Baioni, Prado foi um dos principais personagens da construção do estudo de filosofia no país. "Ele atuava em uma área de fronteira muito interessante, entre a filosofia, a literatura e as artes, e fazia isso com grande maestria, pois era um grande escritor", disse à Agência FAPESP.
Uma das maiores contribuições de Bento Prado Júnior à filosofia foi seu trabalho sobre o filósofo francês Henri Bergson (1859-1941). Sua tese de livre-docência, Presença e campo transcendental: consciência e negatividade na filosofia de Bergson, defendida em 1965, permanece como referência internacional sobre o tema. O livro foi traduzido e publicado na França em 2002.
"Todos os estudos que versam sobre Bergson, assim como sobre a fenomenologia francesa do século 20, que inclui autores como Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty, precisam manter uma interlocução com os livros e ensaios de Bento Prado", disse Baioni.
Nascido em Jaú, no interior paulista, Bento Prado de Almeida Ferraz Júnior foi professor na Universidade de São Paulo (USP) de 1961 a 1969, quando foi cassado pela ditadura militar e desligado da universidade por um decreto presidencial. O mesmo decreto aposentou 23 docentes da instituição, incluindo Caio Prado Júnior, Octavio Ianni e Fernando Henrique Cardoso. Em 1998, ganhou o título de professor emérito da USP.
De 1970 a 1974, o filósofo fez pós-doutorado como pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França. Em 1977, ingressou na UFSCar.
Acima de tudo, um professor
Recentemente, Prado desenvolvia pesquisas que mostravam pontos de contato e raízes comuns entre a fenomenologia francesa do século passado e a filosofia analítica anglo-saxã.
"Até o último semestre de 2006, continuou lecionando e orientando alunos de pós-graduação. Ele deixou uma importante herança na UFSCar, por ter sido o principal inspirador para a montagem do curso de graduação em filosofia, que será lançado em 2007", disse Baioni.
"Com Bento Prado aprendi o sentido de uma existência filosófica docente formadora, pois com ele aprendi que há ensino filosófico quando o professor não se interpõe entre o estudante e o saber (...) Há ensino filosófico quando o estudante também se tornou professor, porque o professor não é senão o signo de uma busca infinita, aberta a todos. Em outras palavras, com o mestre Bento Prado descobri o sentido da liberdade que preside ensinar e aprender", declarou a filósofa Marilena Chauí, em artigo publicado na revista Estudos Avançados, em 2003. A professora da USP foi orientada por Bento Prado em seu mestrado, em 1967.
O filósofo também colaborou com instituições como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).
Além da filosofia de Bergson, Bento Prado Júnior atuou em áreas como história da filosofia, filosofia da mente e da linguagem e epistemologia da psicologia e da psicanálise. Entre suas obras mais importantes estão Alguns ensaios: Filosofia, literatura e psicanálise, Erro, ilusão, loucura e Filosofia da psicanálise.
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