Pesquisa feita no interior paulista constata que mais de 56% das crianças e jovens consomem remédios sem prescrição médica. A prática, segundo o estudo, é induzida por mães e funcionários de farmácias
Pesquisa feita no interior paulista constata que mais de 56% das crianças e jovens consomem remédios sem prescrição médica. A prática, segundo o estudo, é induzida por mães e funcionários de farmácias
Pesquisa feita no interior paulista constata que mais de 56% das crianças e jovens consomem remédios sem prescrição médica. A prática, segundo o estudo, é induzida por mães e funcionários de farmácias
Pesquisa feita no interior paulista constata que mais de 56% das crianças e jovens consomem remédios sem prescrição médica. A prática, segundo o estudo, é induzida por mães e funcionários de farmácias
Agência FAPESP – Uma pesquisa realizada no interior paulista constatou uma prevalência de automedicação entre crianças e jovens. A partir de entrevistas feitas nas zonas urbanas dos municípios de Limeira e Piracicaba, foi constatado que 56,6% de crianças e adolescentes consumiam remédios sem prescrição médica.
Segundo o estudo, os maiores responsáveis pela automedicação e indutores seriam as mães (51%) e funcionários de farmácias (20,1%). O objetivo do trabalho foi identificar a prevalência e o uso de automedicação em comparação com indivíduos da mesma faixa etária que consumiram medicamentos com prescrição médica.
De acordo com Fábio Bucaretchi, professor do Departamento de Pediatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e orientador da tese de doutorado de Francis Tourinho Pereira que deu origem à pesquisa, um dos aspectos que chamaram a atenção foi a constatação do alto consumo de antiinflamatórios não-hormonais nesse grupo etário.
"É um fato preocupante diante dos riscos associados ao consumo desses medicamentos. E esse alto consumo decorreu não somente da automedicação, mas também da prescrição médica, que é 3,6 vezes maior do que na Holanda, por exemplo", afirmou Bucaretchi à Agência FAPESP.
O estudo, publicado no Jornal de Pediatria, considerou uma amostra aleatória de 772 moradores procedentes de 85 áreas censitárias. Os participantes foram divididos em dois grupos: os que se automedicavam e os que consumiam medicamentos sob prescrição médica. Os critérios incluíam a entrevista obrigatória com os responsáveis pelo adolescente e o consumo de pelo menos um medicamento nos 15 dias prévios à data da entrevista.
Segundo Francis Tourinho Pereira, professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santana Catarina (UFSC), que desenvolve pesquisa de doutorado no Departamento de Pediatria da Unicamp, o consumo de medicamentos por conta própria é considerado um indicador indireto de qualidade dos serviços de saúde.
"A automedicação pode levar ao aparecimento de diversas enfermidades de conseqüências iatrogênicas [que causa danos em decorrência de procedimentos cirúrgicos ou terapêuticos], como resistência bacteriana, reações de hipersensibilidade, dependência, sintomas de abstinência", disse Francis à Agência FAPESP.
A automedicação pode levar também ao mascaramento de sintomas de doenças em evolução, atrasando o diagnóstico e tratamento corretos, além de oferecer risco para o uso de doses tóxicas. "É um problema de saúde pública com necessidade de prevenção", afirmou.
Os resultados apontaram prevalência de automedicação de 56,6% entre os entrevistados que consumiram medicamentos nos últimos 15 dias. As principais situações que motivaram a automedicação foram tosse, resfriado comum, gripe, congestão nasal ou broncoespasmo (17,2%), seguido de febre (15%), cefaléia (14%), diarréia, má digestão e cólica abdominal com 9%.
A pesquisadora cita como fatores que influenciam o uso da automedicação a grande disponibilidade de medicamentos, a publicidade indiscriminada, a qualidade da assistência de saúde, a dificuldade de acesso aos serviços e a venda livre de medicamentos nas farmácias.
"O medicamento é visto como símbolo da recuperação e obtenção de saúde. Mas vale ressaltar que a automedicação apresenta alta prevalência no Brasil e em todo o mundo", explicou Francis.
O levantamento destacou que os medicamentos ingeridos sem prescrição médica foram indicados pela mãe (51% dos casos) e pelos pais (7,8%). Os funcionários de farmácia se destacam como principais indutores. Cerca de 20,1% dos entrevistados disseram ter ingerido medicamentos sugeridos pelos farmacêuticos e 15,3% consumiram medicamentos a partir de prescrições médicas antigas. Mas, para surpresa dos pesquisadores, somente 1,8% disseram ter ingerido medicamentos por influência da mídia.
"Achamos que esse dado não retrate a realidade. Muitas vezes as pessoas não percebem a influência da publicidade no seu dia-a-dia. As propagandas de medicamentos muitas vezes só trazem informações gerais, não apresentando riscos e restrições do uso dos mesmos, mostrando uma falsa realidade de segurança", disse Francis. Celso Stephan e Ricardo Cordeiro, ambos professores do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Unicamp, contribuíram nas análises estatísticas do estudo.
Validade vencida
Outro resultado de destaque da pesquisa: embora a prevalência do consumo de medicamentos prescritos seja mais alta em lactantes e pré-escolares, quanto menor a faixa etária, maior a insegurança dos cuidados em aceitar uma orientação leiga. O estudo constatou menor freqüência de automedicação em crianças menores de 7 anos.
De acordo com Francis, a mãe assume o papel de administrar os medicamentos, sendo responsável também por "prover a saúde da família".
"A menor freqüência de automedicação em lactantes e pré-escolares leva a considerar que os responsáveis não estão seguros e apresentam maior precaução em administrar medicamentos sem a observação do médico", disse. Esse fato, segundo ela, não está relacionado ao grau de instrução.
"Embora algumas pesquisas correlacionassem a prática da automedicação com o grau de instrução e informação dos usuários sobre medicamentos – e também com o grau de acesso aos remédios e ao sistema de saúde –, nosso trabalho não encontrou influência dessa variável", afirmou a professora da UFSC.
A pesquisa observou que a freqüência do uso de analgésicos e antipiréticos e antiiflamatórios não-hormonais foi significativamente mais elevada nos usuários de automedicação, ao passo que o uso de antibióticos sistêmicos, vitaminas e antianêmicos e antagonistas H1 da histamina foi mais elevado entre aqueles com prescrição médica.
O estudo levantou ainda dados sobre armazenamento dos medicamentos no domicílio das famílias e encontrou uma série de problemas, do tipo armazenamento de remédios na cozinha e no banheiro, locais com risco de umidade e calor, medicamentos com prazo de validade vencido e quantidades insuficientes para um tratamento.
"O estudo suscita a importância da implementação efetiva dos processos de educação continuada dos prescritores (graduandos e médicos), visando ao uso racional de medicamentos. Esse tema, aliás, faz parte de um projeto de cooperação internacional envolvendo a Organização Mundial da Saúde, a Organização Pan-Americana de Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária", explicou o coordenador da pesquisa, Fábio Bucaretchi.
Para ler o artigo Automedicação em crianças e adolescentes, de
Fábio Bucaretchi e outros, na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.
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