A gênese da violência contra a mulher
01 de agosto de 2003

Pesquisa do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero, da USP, revela que 50% dos casos de violência contra a mulher enviados aos tribunais são arquivados. Apenas 14% dos homens julgados por assassinar pessoas do sexo feminino são condenados à prisão

A gênese da violência contra a mulher

Pesquisa do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero, da USP, revela que 50% dos casos de violência contra a mulher enviados aos tribunais são arquivados. Apenas 14% dos homens julgados por assassinar pessoas do sexo feminino são condenados à prisão

01 de agosto de 2003

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP - Investigar a violência contra a mulher para colaborar com políticas públicas que fortaleçam os direitos humanos. Este é o objetivo do estudo "Direitos Humanos e Homicídio de mulheres", da socióloga Eva Alterman Blay, coordenadora científica do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero (Nemge), da Universidade de São Paulo. O trabalho é um instrumento importante para se começar a entender a gênese da violência provocada contra o sexo feminino.

A pesquisadora comparou dados coletados em três segmentos: notícias de jornal, boletins de ocorrência de várias delegacias de policia e processos judiciais. Segundo a pesquisadora, a imprensa apresentou nos últimos anos uma mudança de postura muito grande. "Hoje, os jornalistas são mais investigativos e a culpa, nos crimes, acaba recaindo menos sobre a mulher do que ocorria há 20 anos", disse à Agência FAPESP. "No passado, os jornalistas achavam que, se alguma mulher havia sido morta, era porque tinha algum tipo de culpa." A maior parte dos assassinos e das vítimas, na amostra estudada pela socióloga, é branca.

Nos casos analisados pelo estudo, as condenações apresentam uma porcentagem muito baixa. "Apenas 14% dos homens julgados por praticar homicídios contra mulheres foram condenados. Entre os assassinos, 50% fugiram da Justiça", disse Eva. Os números mostram ainda que 50% dos casos enviados aos tribunais foram arquivados (os criminosos não foram identificados) e 24% estão suspensos (porque o réu estava foragido).

Para Eva, o melhor caminho, não para resolver, mas para atacar o problema, é elaborar políticas transversais e abrangentes. "Não estamos falando apenas de um problema de polícia, mas sim de mídia e de educação", disse. A socióloga discute também o combate à formação de estereótipos, que são criados facilmente na sociedade. "É preciso fazer um trabalho multidisciplinar, pois esses modelos tendem a ser repetidos pelos jovens. O filho que vê um pai agredindo a mãe também poderá fazer isso no futuro", disse.

Conhecer o quadro da violência contra a mulher é melhor caminha para que políticas eficientes possam ser elaboradas, concluiu no estudo que teve incentivo financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). "Não adianta imaginar que podemos acabar com violência contra as mulheres no Brasil sem que existam propostas eficientes baseadas em estudos de campo", disse.

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