Cerca de 90% das pessoas com doença de Parkinson apresentam distúrbios como insônia, sonolência diurna e síndrome das pernas inquietas (foto: Freepik*)

Saúde
Estudo constata efeito positivo de medicamento dopaminérgico no sono de pessoas com Parkinson
09 de agosto de 2024
EN ES

Análise conduzida na Unesp mostrou que, quando os indivíduos dormiram sob efeito do fármaco, houve redução média de 25% das vezes que despertaram durante a noite e de 30% do tempo que permaneceram acordados

Saúde
Estudo constata efeito positivo de medicamento dopaminérgico no sono de pessoas com Parkinson

Análise conduzida na Unesp mostrou que, quando os indivíduos dormiram sob efeito do fármaco, houve redução média de 25% das vezes que despertaram durante a noite e de 30% do tempo que permaneceram acordados

09 de agosto de 2024
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Cerca de 90% das pessoas com doença de Parkinson apresentam distúrbios como insônia, sonolência diurna e síndrome das pernas inquietas (foto: Freepik*)

 

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Estudo realizado com 22 pessoas acometidas pela doença de Parkinson mostrou que o uso do medicamento dopaminérgico (levodopa) melhora a qualidade de sono. Na comparação, quando os participantes dormiram sob efeito do fármaco, eles apresentaram uma redução média de 25% das vezes que despertaram durante a noite e de 30% do tempo que permaneceram acordados.

A investigação foi conduzida com apoio da FAPESP por pesquisadores das universidades Estadual Paulista (Unesp) e de Grenoble (França). Os resultados foram divulgados no Journal of Sleep Research.

Os padrões de vigília e sono de pacientes com a doença foram monitorados durante quatro noites com auxílio de um equipamento denominado actígrafo (sensor similar a um relógio de pulso que detecta movimentos). Foram avaliadas três noites dormindo sob o efeito do fármaco e uma sem a última dose da medicação. Curiosamente, e ao contrário dos resultados obtidos com o auxílio do equipamento, na análise subjetiva (relato dos participantes) não foi percebida mudança na qualidade do sono quando foram comparadas as duas condições.

“Este é o primeiro estudo a avaliar de modo objetivo [por meio de equipamentos] os efeitos do medicamento na qualidade do sono dos pacientes com doença de Parkinson e comparar o resultado com o da análise subjetiva. Apesar de o actígrafo mostrar melhora na qualidade do sono quando o paciente dormiu sob efeito da medicação, o benefício não foi percebido pelos participantes do estudo. Isso é importante para o atendimento clínico. Médicos devem levar em consideração esses resultados quando forem decidir se devem ou não remover o uso de levodopa de seus pacientes durante a noite”, afirma Fábio Barbieri, coordenador do Laboratório de Pesquisa em Movimento Humano (Movi-Lab) e do projeto de extensão “Ativa Parkinson” na Unesp de Bauru.

Segundo o cientista, a discrepância entre os resultados das análises objetiva e subjetiva não surpreende. “A percepção do paciente com Parkinson é prejudicada pela doença. Como a média de despertares é de dez vezes por noite, é compreensível que a melhora não seja notada. Daí a importância de considerar os resultados obtidos com o actígrafo”, sublinha.

Tira-teima

O uso de dopaminérgicos, como é o caso do levodopa, tem sido o tratamento de primeira linha para os sintomas motores da doença de Parkinson, como os tremores característicos da doença. Estes parecem estar ligados aos despertares noturnos, uma vez que o sistema dopaminérgico tem também um papel importante na regulação do sono. É sabido, por exemplo, que mudanças substanciais nos níveis de dopamina ocorrem à medida que o cérebro progride no ciclo sono-vigília.

Embora a medicação dopaminérgica possa também melhorar a qualidade do sono, reduzindo o período de latência e o tempo de despertar em pessoas com doença de Parkinson, o tratamento com levodopa tem sido documentado como potencial exacerbador de distúrbios do sono. Vale ressaltar que o uso do medicamento só deve ser feito mediante prescrição e orientação médica. Entre os potenciais efeitos colaterais estão confusão, sonolência, insônia, pesadelos, alucinações, ilusões, agitação, ansiedade, euforia.

De acordo com Barbieri, cerca de 90% das pessoas com doença de Parkinson apresentam distúrbios como insônia, sonolência diurna e síndrome das pernas inquietas, por exemplo. Estudos já demonstraram que uma melhor qualidade do sono está associada a melhor mobilidade matinal e a uma melhor cognição em pessoas com doença de Parkinson.

“Por isso foi tão importante termos realizado essa análise objetiva, com auxílio de equipamentos. Era preciso aferir, de fato, qual é o impacto desse medicamento no sono. E verificamos que dormir sem tomar a última dose é pior”, diz.

Sono e mobilidade

A piora na qualidade do sono também está relacionada com um dos sintomas mais incapacitantes da doença de Parkinson: o congelamento da marcha, que consiste na perda repentina da capacidade de mover os pés, podendo levar a quedas.

Após uma revisão sistemática de 20 estudos, um grupo internacional de pesquisadores observou que pacientes com Parkinson que apresentam congelamento da marcha acordam mais vezes durante a noite, sentem maior necessidade de dormir durante o dia e apresentam um déficit de movimento dos olhos que pode afetar o sono REM, fundamental para a manutenção das funções cognitivas (leia mais em: agencia.fapesp.br/50893).

Outro estudo conduzido pelo grupo de Barbieri conseguiu, por meio de inteligência artificial e a partir de parâmetros de variação na marcha, predizer se o indivíduo tem doença de Parkinson, algo que poderia ajudar no diagnóstico e tratamento da doença (leia mais em: agencia.fapesp.br/39864).

Nesse trabalho, foram avaliados parâmetros como comprimento, velocidade, largura e consistência da largura do passo. Os dados foram disponibilizados on-line para que possam ser utilizados por outros grupos.

O artigo Sleep “ON”, sleep better! Positive effects of levodopa on sleep behavior in people with Parkinson’s disease pode ser lido em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jsr.14240.

Imagem de Drazen Zigic no Freepik

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