Imagem de tecido adiposo de camundongos saudáveis obtida por microscopia de autofluorescência. Em magenta, os adipócitos; em ciano, mitocôndrias de macrófagos associados ao tecido adiposo (crédito: Monara Angelim/ Infabic)

FAPESP Week China
Estudo revela novo fator associado ao risco de COVID-19 grave em pessoas com obesidade
03 de julho de 2024
EN ES

Ao analisar amostras de obesos não diabéticos, pesquisadores da Unicamp descobriram que teores sanguíneos elevados de ácidos graxos saturados causam uma pré-ativação de células do sistema imune inato que, ao serem infectadas pelo SARS-CoV-2, produzem níveis aumentados de moléculas inflamatórias. Resultados foram apresentados durante a FAPESP Week China

FAPESP Week China
Estudo revela novo fator associado ao risco de COVID-19 grave em pessoas com obesidade

Ao analisar amostras de obesos não diabéticos, pesquisadores da Unicamp descobriram que teores sanguíneos elevados de ácidos graxos saturados causam uma pré-ativação de células do sistema imune inato que, ao serem infectadas pelo SARS-CoV-2, produzem níveis aumentados de moléculas inflamatórias. Resultados foram apresentados durante a FAPESP Week China

03 de julho de 2024
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Imagem de tecido adiposo de camundongos saudáveis obtida por microscopia de autofluorescência. Em magenta, os adipócitos; em ciano, mitocôndrias de macrófagos associados ao tecido adiposo (crédito: Monara Angelim/ Infabic)

 

Karina Toledo, de Shenzhen | Agência FAPESP – Ainda no início da pandemia de COVID-19, um grupo de pesquisadores brasileiros mostrou de forma pioneira por que a infecção pelo SARS-CoV-2 tende a ser mais grave em pacientes diabéticos. Agora, a mesma equipe sediada no Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp) descobriu um dos motivos pelos quais pessoas com obesidade que não têm diabetes ou mesmo resistência à insulina também apresentam risco aumentado de desenvolver a forma grave da doença.

“Novos experimentos mostram que os mecanismos moleculares são bem diferentes nos dois casos”, revela à Agência FAPESP Pedro Moraes-Vieira, professor do IB-Unicamp que coordena a investigação.

A pesquisa é apoiada pela FAPESP por meio de dois projetos (20/16030-0 e 20/04579-7) e também está vinculada ao Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) sediado na Unicamp.

Os dados foram apresentados no dia 29 de junho, em um painel dedicado a temas de saúde e biomedicina que integrou a programação da FAPESP Week China. Também participaram da sessão Zhang Zhiyong, da Universidade de Medicina de Guangzhou; Luciana Cezar de Cerqueira Leite, do Instituto Butantan; Xin Jin, cientista-chefe de Pesquisa da empresa chinesa BGI; e Dan Zhang, cofundador da empresa Hillgene BioPharma, também da China. Os mediadores foram Xin Jin e Simone Appenzeller, da Unicamp.

Em artigo publicado em maio de 2020, o grupo da Unicamp mostrou que, no caso de diabéticos infectados pelo SARS-CoV-2, o teor mais alto de glicose no sangue é captado por um tipo de célula de defesa conhecido como monócito e serve como uma fonte extra de energia que permite ao vírus se replicar mais do que em um organismo saudável. Em resposta à crescente carga viral, os monócitos passam a liberar uma grande quantidade de citocinas [proteínas com ação inflamatória], que causam uma série de efeitos, como a morte de células pulmonares. Os pesquisadores relataram ainda que, no pulmão de pacientes com COVID-19 grave, monócitos e macrófagos eram as células mais abundantes. E que a chamada via glicolítica, que metaboliza a glicose, estava bastante aumentada nesses leucócitos (leia mais em: agencia.fapesp.br/33237).

Já o trabalho mais recente, cujos resultados devem ser publicados em breve, mostra que no obeso não diabético o quadro de hiperinflamação está relacionado a níveis sanguíneos aumentados de ácidos graxos saturados – principalmente um tipo conhecido como palmitato. Também conhecido como ácido palmítico, ele é o principal componente do óleo de palma. Está presente na carne bovina, no leite e seus derivados.

“Por meio de experimentos in vitro, observamos que o palmitato promove uma pré-ativação das células da imunidade inata [a primeira que entra em ação diante de uma infecção]. Elas ficam num estado de alerta, prontas para responder de forma mais intensa se detectarem uma ameaça. Quando infectamos essas células pré-ativadas com o SARS-CoV-2, elas produzem uma quantidade de citocinas inflamatórias muito aumentada”, relata Moraes-Vieira.


Pedro Moraes-Vieira, professor da Unicamp, em palestra apresentada na FAPESP Week China (foto: Karina Toledo/Agência FAPESP)

Imunidade prejudicada

Em trabalhos anteriores, o grupo da Unicamp já havia observado que, no contexto da COVID-19, essa “tempestade de citocinas” produzidas por monócitos e macrófagos está na base de dois fenômenos bastante indesejados: a morte de células epiteliais pulmonares e a disfunção da resposta imune adaptativa – aquela que entra em ação cerca de duas semanas após a infecção e está relacionada à atuação de células (linfócitos T principalmente) capazes de reconhecer e matar patógenos de forma específica.

“Quando cultivamos as células T em um meio condicionado por monócitos infectados com o SARS-CoV-2, notamos uma menor capacidade proliferativa, secreção reduzida de citocinas inflamatórias e maior expressão de uma proteína chamada PD-1, cujo papel é sinalizar para os linfócitos T quando está na hora de parar de combater a infecção. A ideia é que essa sinalização ocorra após um tempo, para que não haja uma resposta imune exacerbada. No contexto da COVID-19 grave, porém, a PD-1 faz com que os linfócitos T parem de funcionar antes mesmo de resolvida a doença. Isso acarreta um processo chamado de exaustão, comumente encontrado em células T presentes em tumores, por exemplo, e associado a um pior prognóstico”, explica o pesquisador.

“Esses achados nos ajudam a entender por que pessoas com obesidade não diabéticas também têm maior predisposição a desenvolver o quadro grave da COVID. Claro que esse não é o único fator. Mas estamos contribuindo com mais um tijolinho para a construção dessa história”, avalia Moraes-Vieira.

Para saber mais sobre a FAPESP Week China acesse: fapesp.br/week/2024/china.
 

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