Representantes de 81 agências de fomento à pesquisa de 63 países estão reunidos esta semana em Haia, nos Países Baixos, para a Reunião Anual do Global Research Council (foto: Julie Yang/Agência FAPESP)

Enfrentamento de problemas globais requer colaboração internacional e evidencia papel estratégico do GRC
01 de junho de 2023
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Representantes de 81 agências de fomento à pesquisa de 63 países estão reunidos esta semana em Haia, nos Países Baixos, para a Reunião Anual do Global Research Council; evento discutirá temas que ajudarão a moldar o futuro da pesquisa no mundo

Enfrentamento de problemas globais requer colaboração internacional e evidencia papel estratégico do GRC

Representantes de 81 agências de fomento à pesquisa de 63 países estão reunidos esta semana em Haia, nos Países Baixos, para a Reunião Anual do Global Research Council; evento discutirá temas que ajudarão a moldar o futuro da pesquisa no mundo

01 de junho de 2023
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Representantes de 81 agências de fomento à pesquisa de 63 países estão reunidos esta semana em Haia, nos Países Baixos, para a Reunião Anual do Global Research Council (foto: Julie Yang/Agência FAPESP)

 

Karina Toledo, de Haia | Agência FAPESP – “Sejam todos bem-vindos à 11ª Reunião Anual do Global Research Council [GRC], aqui no Palácio da Paz. Em tempos de guerra e conflito, que lugar encorajador para estarmos reunidos, compartilhando e discutindo ideias para moldar e desenvolver ainda mais a colaboração global em pesquisa.”

Com essas palavras a presidente do Conselho Administrativo (Governing Board) do GRC, Katja Becker, deu início ao encontro anual das principais agências de fomento público à pesquisa do mundo, que em 2023 ocorre na cidade de Haia (Países Baixos), onde está sediado o Tribunal de Justiça das Nações Unidas. O evento tem como anfitriões a Organização Neerlandesa para a Pesquisa Científica (NWO) e a FAPESP. Participam 175 representantes de 81 instituições de fomento à pesquisa oriundas de 63 países.

Em sua fala introdutória, Becker, que também é presidente da German Research Foundation (DFG), afirmou que a necessidade de cooperação global está se tornando cada vez mais evidente, o que torna as atividades conjuntas realizadas no âmbito do GRC ainda mais importantes. Por outro lado, disse ela, cresce a percepção de que a liberdade de pesquisa e o intercâmbio científico estão ameaçados.

Em nome da NWO, Marcel Levi deu boas-vindas aos participantes e disse estar orgulhoso pelo fato de o evento organizado em seu país – em colaboração com parceiros brasileiros – ter reunido número recorde de organizações e de países.

“Estamos hoje no Palácio da Paz, um verdadeiro ícone para a paz e a justiça. De fato, uma das melhores maneiras possíveis de alcançar a colaboração internacional e o entendimento transfronteiriço é a pesquisa. Ciência e paz estão intimamente ligadas”, afirmou Levi, lembrando que a construção do Palácio da Paz foi financiada por um filantropo norte-americano chamado Andrew Carnegie, que buscava aproximar a população mundial por meio da reunião de pessoas inspiradoras. “E isso é exatamente o que desejamos para esta semana: reunir colegas para encontrar soluções internacionais para problemas comuns e inspirar uns aos outros.”

A mesa de abertura também contou com a participação de Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, que ressaltou a coincidência de o evento ocorrer no ano em que se celebram 100 anos da morte de Rui Barbosa (1849-1923), político e diplomata brasileiro que ficou conhecido como a “Águia de Haia” por sua forte atuação na Segunda Conferência da Paz, em 1907, realizada na tentativa de evitar um conflito mundial que, alguns anos depois, se tornaria a Primeira Guerra Mundial.

“Ao nos aproximarmos do final do primeiro quarto do século 21, cabe perguntar até que ponto é verdadeira a percepção que nós cientistas temos sobre o papel da ciência na sociedade. E talvez ainda mais relevante: esse papel está mudando? A ciência ainda está progredindo tão fortemente quanto no final do século passado? Devemos reconhecer a complexidade da realidade atual, que é mais do que nunca definida por fenômenos globais, como a pandemia, as guerras, a crise energética e alimentar global, as migrações em grande escala”, afirmou Zago, ressaltando em seguida que nenhum país ou sistema de ciência nacional ou regional é capaz de definir seu próprio futuro de forma solitária ou independente. “Este contexto destaca a relevância do Global Research Council e de todas essas reuniões, pois representa um foro privilegiado de interação, colaboração e iniciativas conjuntas.”

Zago destacou ainda que a ciência é uma ferramenta-chave para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que incluem o combate às mudanças climáticas, um dos principais temas do evento. “Para alcançar esse objetivo serão necessários uma ação sinérgica dos governos, o engajamento da sociedade e uma forte contribuição da ciência, da tecnologia e da inovação”, sublinhou.

Um tema em discussão neste ano – como aprimorar a forma de avaliar e recompensar pesquisadores – tem, na avaliação do presidente da FAPESP, o potencial de moldar o futuro da pesquisa.

“Vejo um caminho produtivo para a colaboração conjunta nos próximos anos, caso consigamos ser bem-sucedidos em solucionar dois problemas proeminentes na comunidade científica de hoje: a desaceleração da ciência disruptiva e o desencantamento das gerações mais jovens com a carreira científica”, concluiu.

Além das métricas

A cerimônia de abertura foi seguida por uma palestra proferida por Robbert Dijkgraaf, que além de físico e estudioso da Teoria das Cordas é professor da Universidade de Amsterdã e, atualmente, ministro da Educação, Cultura e Ciência dos Países Baixos.

Um dos pontos centrais de sua fala foi o apego exagerado dos cientistas aos indicadores de desempenho, aos números e a outros tipos de métrica que, segundo o ministro, se “espalhou como fogo e hoje está presente em muitos aspectos da sociedade”.

“Hoje há gerentes que focam exclusivamente em metas quantitativas. Enfermeiras passam mais tempo registrando suas atividades do que cuidando dos pacientes. E os governantes – digo isso por experiência – às vezes perdemos de vista a história humana por trás de todos esses números, dados e métricas”, afirmou. “E no mundo acadêmico, é claro, criamos índices numéricos para medir o impacto das publicações na carreira. Alguns se referem aos estudiosos modernos como ‘les mesurables’ [trocadilho com a palavra mesure, que em inglês significa medir]. Muitas vezes reduzimos a complexidade da vida a um único número. As métricas têm seu valor, mas é importante permanecer crítico.”

Na avaliação de Dijkgraaf, serão dados durante a Reunião Anual do GRC importantes passos em direção a novos princípios para o reconhecimento e a recompensa de pesquisadores, em um esforço para capturar todas as dimensões do trabalho acadêmico.

“Ver esse tema na agenda me enche de orgulho, uma vez que os Países Baixos foram um dos primeiros a abordar a questão. O fato de que este movimento agora está ganhando aceitação internacional é claro pela distinta companhia reunida aqui hoje. Não há nada mais poderoso do que uma ideia cuja hora já chegou.”

A agenda da 11a reunião trata de uma série de temas estratégicos, incluindo questões transversais sobre igualdade, diversidade e inclusão, bem como a avaliação responsável da pesquisa científica, além das questões relativas à colaboração internacional e às atividades futuras do GRC. “Vamos nos concentrar em inovar as formas de reconhecer e recompensar cientistas, bem como em discutir as responsabilidades e oportunidades dos financiadores na abordagem da mudança climática. Acredito firmemente que as declarações de princípios sobre ambos os tópicos, que serão apresentadas nas sessões subsequentes, vão inspirar cada um de nós, nossas organizações e o GRC como um todo, enquanto nos esforçamos para possibilitar que a pesquisa científica seja feita da melhor maneira possível”, afirmou a presidente do Conselho Administrativo (Governing Board) do GRC.

“A ciência nos fornece conhecimento, ferramentas inovadoras e soluções criativas para combater as mudanças climáticas e a perda da diversidade biológica, para erradicar a pobreza, reduzir a desigualdade, promover a justiça e trazer à tona a lógica da paz global. Que nosso trabalho conjunto contribua para um espírito global de cooperação pacífica”, acrescentou.

Para mais informações sobre a 11a Reunião Anual do GRC acesse: fapesp.br/grc23.
 

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