Equipe de Peter Ratcliffe na Universidade de Oxford conta com a brasileira Joanna Darck Carola Correia Lima, que investiga relação entre baixos níveis de oxigênio nas células de tumores e o desenvolvimento de caquexia (foto: arquivo pessoal)

Bolsista da FAPESP realiza estágio com ganhador do Nobel de Medicina
08 de outubro de 2019

Equipe de Peter Ratcliffe na Universidade de Oxford conta com a brasileira Joanna Darck Carola Correia Lima, que investiga relação entre baixos níveis de oxigênio nas células de tumores e o desenvolvimento de caquexia

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08 de outubro de 2019

Equipe de Peter Ratcliffe na Universidade de Oxford conta com a brasileira Joanna Darck Carola Correia Lima, que investiga relação entre baixos níveis de oxigênio nas células de tumores e o desenvolvimento de caquexia (foto: arquivo pessoal)

 

André Julião | Agência FAPESP – O pesquisador da Universidade de Oxford Peter Ratcliffe, anunciado nesta segunda-feira (07/10) como um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2019, tem em sua equipe uma estudante brasileira.

A piauiense Joanna Darck Carola Correia Lima, graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), realiza atualmente estágio no laboratório de Ratcliffe, no Reino Unido, como parte do seu doutorado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), com apoio de bolsa FAPESP.

Lima tenta descobrir como baixas taxas de oxigênio nas células (hipóxia) de tumores colorretais podem levar os pacientes a desenvolver caquexia, síndrome que consiste em uma perda severa de gordura e de massa muscular associada a uma extrema debilitação física, que pode aumentar o risco de complicações e de morte em diversos tipos câncer.

“Ela é uma aluna muito dedicada. Não por acaso é considerada pelo professor Ratcliffe a melhor que teve nos últimos anos”, disse Marilia Cerqueira Leite Seelaender, orientadora de Lima no ICB-USP.

“Durante os primeiros anos do doutorado, verificamos que a hipóxia era um dos fatores que poderiam levar pacientes com câncer a desenvolver caquexia. A fim de compreender melhor o fenômeno, procuramos saber quem seria o especialista mais adequado e chegamos ao professor Ratcliffe”, disse Lima, que estudou em escolas públicas no ensino básico, antes de ingressar na UFPI.

O gene principal que regula o processo de hipóxia é o HIF (Fator indutor de hipóxia), descoberto pelo grupo de Seelaender, professora do ICB-USP, nos tumores de pessoas com caquexia. Por conta dessa descoberta, elas entraram em contato com o britânico, que aceitou receber Lima para um estágio de um ano, iniciado em dezembro de 2018 com apoio de Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE) da FAPESP.

“Vimos que a proteína HIF pode atuar em inúmeros processos, como fibrose, aumento da proliferação [das células tumorais] e desenvolvimento de inflamação sistêmica. O que temos observado é que talvez a HIF seja a moderadora principal nesses casos”, disse Lima, que publicou em julho um artigo com parte das descobertas do seu projeto de doutorado.

O estágio da brasileira será concluído em dezembro, mas ela acredita que este seja apenas o começo de uma longa colaboração com o vencedor do Nobel.

“É o ano mais incrível da minha vida. Nunca imaginei ter a oportunidade de estar na melhor universidade do mundo. O laboratório é espetacular, o professor Ratcliffe é uma mente incansável de ideias e extremamente disponível para os alunos do mundo todo. É uma oportunidade sem igual”, disse.

Nos últimos meses, Lima participou de um estudo chefiado por Ratcliffe em que foi usado um antagonista da proteína HIF. Nos resultados, submetidos recentemente a uma revista científica, observou-se principalmente que a inibição farmacológica do gene HIF contribui diretamente para a inibição do crescimento do tumor, entre outros achados.

O resultado pode ser o início do desenvolvimento de um novo tratamento, trabalho que deverá contar com a participação das brasileiras.

Prêmio

Sir Peter Ratcliffe é diretor de pesquisa clínica no Francis Crick Institute, em Londres, e do Target Discovery Institute, em Oxford, além de membro do Ludwig Institute for Cancer Research. Ficou conhecido por ter descoberto como as células podem sentir e se adaptar a mudanças na disponibilidade de oxigênio. Junto com os norte-americanos William G. Kaelin Jr., da Harvard Medical School, e Gregg L. Semenza, do Johns Hopkins Institute for Cell Engineering, que dividem o prêmio com ele, identificou a maquinaria molecular que regula a atividade dos genes em resposta a níveis variáveis de oxigênio.

A descoberta estabeleceu as bases para a compreensão de como os níveis de oxigênio afetam o metabolismo celular e a função fisiológica. As descobertas abriram caminho para estratégias promissoras não só contra o câncer, como contra anemia e outras doenças.
 

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