Homens fisicamente ativos e sem sobrepeso, mas com valores de relação cintura-estatura elevados, têm maior chance de desenvolver distúrbios no coração, aponta estudo feito na Unesp (foto: Vitor Engrácia Valenti)

Relação entre cintura e estatura pode indicar risco de doença cardiovascular mesmo em pessoas saudáveis
18 de janeiro de 2019
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Homens fisicamente ativos e sem sobrepeso, mas com valores de relação cintura-estatura elevados, têm maior chance de desenvolver distúrbios no coração, aponta estudo feito na Unesp

Relação entre cintura e estatura pode indicar risco de doença cardiovascular mesmo em pessoas saudáveis

Homens fisicamente ativos e sem sobrepeso, mas com valores de relação cintura-estatura elevados, têm maior chance de desenvolver distúrbios no coração, aponta estudo feito na Unesp

18 de janeiro de 2019
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Homens fisicamente ativos e sem sobrepeso, mas com valores de relação cintura-estatura elevados, têm maior chance de desenvolver distúrbios no coração, aponta estudo feito na Unesp (foto: Vitor Engrácia Valenti)

 

Elton Alisson  |  Agência FAPESP – Homens e mulheres com acúmulo excessivo de gordura na região do abdômen têm maior risco de desenvolver problemas cardiovasculares. O alerta tem sido feito há anos por especialistas da área da Saúde, mas não são apenas aqueles com a chamada obesidade abdominal que estão em perigo.

Um novo estudo verificou que pessoas fisicamente ativas e sem sobrepeso, mas com valores de relação cintura-estatura (RCE) próximos do limiar de risco, também têm maior probabilidade de desenvolver distúrbios no coração comparadas com pessoas com menores valores de RCE.

O trabalho foi feito por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente e Marília, em colaboração com colegas da Oxford Brookes University, na Inglaterra. Resultado de um projeto de pesquisa apoiado pela FAPESP, o estudo foi publicado na revista Scientific Reports.

“Observamos que pessoas saudáveis e fisicamente ativas, sem sobrepeso e histórico de doenças metabólicas ou cardiovasculares, mas com valores de RCE próximos do limite do fator de risco, também têm maior probabilidade de desenvolver distúrbios no coração em comparação com aquelas com menor acúmulo de gordura na região da cintura”, disse Vitor Engrácia Valenti, professor da Unesp de Marília e coordenador da pesquisa, à Agência FAPESP.

Segundo Valenti, estudos recentes sugerem que a RCE – obtida pela divisão da circunferência da cintura pela estatura – fornece informações mais precisas de riscos cardiovasculares do que o Índice de Massa Corporal (IMC), que avalia a distribuição de gordura pelo corpo.

Com base nessa constatação, os pesquisadores decidiram investigar se a recuperação do controle autonômico da frequência cardíaca após o exercício físico é diferente entre homens saudáveis com diferentes valores de RCE. Para isso, eles dividiram em três grupos 52 homens saudáveis e fisicamente ativos, com idade entre 18 e 30 anos, de acordo com os valores de RCE.

O primeiro grupo foi composto por homens com menor porcentagem de gordura corporal e com RCE entre 0,40 e 0,449 – abaixo do limiar de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. O segundo grupo foi formado por homens com RCE entre 0,45 e 0,50 – próximo ao limiar de risco. E o terceiro grupo, por homens com RCE acima do limite de risco, entre 0,50 e 0,56.

Os participantes foram avaliados durante dois dias. No primeiro, permaneceram 15 minutos sentados e em repouso e, em seguida, fizeram uma corrida em esforço máximo em uma esteira ergométrica, a fim de ter a aptidão física avaliada. Após o exercício, permaneceram sentados por 60 minutos em repouso para se recuperar do esforço.

“O exercício aeróbio comprovou que todos eles eram fisicamente ativos. Não eram atletas, mas tinham o hábito de jogar futebol nos fins de semana, por exemplo”, disse Valenti.

No segundo dia, os participantes do estudo foram submetidos a um protocolo de exercício físico moderado, de caminhada durante 30 minutos em uma esteira com intensidade de aproximadamente 60% do esforço máximo.

A variabilidade da frequência cardíaca foi medida durante o repouso e na primeira hora após os exercícios a fim de avaliar a velocidade de recuperação cardíaca autonômica na sequência da atividade física.

“A medida do tempo de recuperação cardíaca autonômica após o exercício permite avaliar o risco de apresentar uma complicação cardiovascular imediatamente após a atividade física e também estimar o risco de desenvolver uma doença cardíaca”, disse Valenti. “Se a pessoa demora mais tempo para recuperar a frequência cardíaca normal, isso indica que apresenta maior risco de desenvolver distúrbio no coração.”

Interação com o sistema nervoso

As análises das medidas indicaram que os grupos com RCE próximo e acima do limite de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas apresentaram recuperação cardíaca autonômica mais lenta tanto no esforço máximo como no moderado.

“Constatamos que os voluntários do grupo com valores de RCE próximos ao limite de risco também apresentam maior probabilidade de desenvolver doenças no sistema cardiovascular”, disse Valenti.

Os pesquisadores da Unesp também fizeram análises estatísticas de correlação e regressão linear para verificar se há interação significativa da RCE com a variabilidade da frequência cardíaca dos participantes do estudo após os exercícios físicos.

Os resultados das análises estatísticas indicaram que a relação entre os dois fatores é mais significante nos primeiros 10 minutos da fase de recuperação do exercício, quando o sistema nervoso parassimpático – que restabelece o corpo a um estado de repouso ao diminuir o ritmo cardíaco – está sendo reativado.

“Verificamos que, conforme aumenta o valor da RCE, diminui a atividade do sistema nervoso parassimpático. Isso eleva o risco de desenvolvimento de distúrbios cardiovasculares”, disse Valenti.

O artigo Waist-stature ratio and its relationship with autonomic recovery from aerobic exercise in healthy men (DOI: 10.1038/s41598-018-34246-5), de Anne Michelli G. G. Fontes, Letícia S. de Oliveira, Franciele M. Vanderlei, David M. Garner e Vitor E. Valenti, pode ser lido em www.nature.com/articles/s41598-018-34246-5.

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