Com apoio da FAPESP, da USP e da francesa bioMérieux, grupo investigará biomarcadores capazes de identificar precocemente pessoas propensas a desenvolver manifestações severas das arboviroses (imagem: vírus Zika / NIAID - Wikimedia)
Com apoio da FAPESP, da USP e da francesa bioMérieux, grupo investigará biomarcadores capazes de identificar precocemente pessoas propensas a desenvolver manifestações severas das arboviroses
Com apoio da FAPESP, da USP e da francesa bioMérieux, grupo investigará biomarcadores capazes de identificar precocemente pessoas propensas a desenvolver manifestações severas das arboviroses
Com apoio da FAPESP, da USP e da francesa bioMérieux, grupo investigará biomarcadores capazes de identificar precocemente pessoas propensas a desenvolver manifestações severas das arboviroses (imagem: vírus Zika / NIAID - Wikimedia)
Karina Toledo | Agência FAPESP – Para a maioria das pessoas, o contato com os vírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti resulta apenas no desconforto passageiro causado por sintomas como febre alta, dor de cabeça ou nas articulações. Em alguns casos, porém, complicações mais sérias – e até mesmo fatais – podem surgir.
Com o objetivo de encontrar biomarcadores que auxiliem os médicos a identificar precocemente indivíduos propensos a desenvolver manifestações severas da dengue, Zika ou chikungunya, foi lançado o projeto Arbobios. Com duração prevista de quatro anos, a iniciativa é apoiada pela FAPESP, pela Universidade de São Paulo (USP) e pela empresa francesa bioMérieux no âmbito do programa Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE).
“Pretendemos acompanhar um grande número de pessoas infectadas por um desses três vírus, recolher amostras de sangue e depois separá-las em dois grupos: indivíduos com e sem manifestações severas. Estimamos que será necessário incluir cerca de 2 mil pacientes no estudo”, disse Ester Cerdeira Sabino, professora do Departamento de Moléstias Infecciosas da FMUSP, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT-USP) e coordenadora do projeto.
As amostras coletadas serão submetidas a análises de transcriptômica, que permitem identificar todas as moléculas de RNA e de microRNA expressas nos dois grupos. “Depois que essas amostras estiverem muito bem caracterizadas, tentaremos achar um padrão que possa discriminar os indivíduos que desenvolvem manifestações severas dessas arboviroses”, disse Sabino.
No caso da dengue, o objetivo será obter um biomarcador capaz de indicar quais pacientes correm mais risco de evoluir para a forma hemorrágica da doença e que, portanto, necessitam permanecer internados. No caso da chikungunya, a ideia é detectar indivíduos propensos a desenvolver inflamação crônica nas articulações – condição considerada incapacitante.
“Já em relação ao Zika, sabemos hoje que nem todas a gestantes infectadas dão à luz bebês com microcefalia ou outros problemas no sistema nervoso central. Nossa meta é encontrar biomarcadores que permitam ao médico saber que uma criança terá problemas antes mesmo de eles aparecerem no ultrassom”, disse Sabino.
Os grupos de pacientes, ou coortes, serão estabelecidos em diversas cidades brasileiras onde há grande chance de ocorrerem epidemias. O primeiro local definido é Divinópolis (MG), onde o acompanhamento dos pacientes será feito em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal de São João Del-Rey (UFSJ).
“Se conseguirmos encontrar esses marcadores, o passo seguinte será transferir o conhecimento para a produção de um teste que possa ser usado na clínica. Será uma grande oportunidade trabalhar em parceria com a bioMérieux. A FMUSP e o IMT estão realmente desejosos de manter este laço com o setor privado”, afirmou Sabino durante o lançamento do projeto, no dia 26 de outubro, na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
Parceria público-privada
Considerada líder global na área do diagnóstico in vitro, a bioMérieux é uma das seis empresas que integram o Institut Mérieux, sediado em Lyon, na França. Está presente em mais de 150 países, entre eles o Brasil, por meio de 41 filiais e um grande número de distribuidores.
Em cerimônia realizada na FMUSP, o vice-presidente de Assuntos Médicos e Científicos do Institut Mérieux, Marc Bonneville, destacou que a organização mantém laços com o Brasil desde a década de 1970, quando foi implantado o Programa Nacional de Combate à Meningite.
“O sucesso dessa grande campanha de vacinação fomentou muitas outras ações que estreitaram as relações entre o nosso grupo e o Brasil, que está entre os primeiros países onde foram criados centros de pesquisa e desenvolvimento. O lançamento do programa conjunto entre bioMérieux, USP e FAPESP que celebramos hoje é outro exemplo desta parceria privilegiada”, disse Bonneville.
Segundo Alexandre Pachot, chefe do Departamento de Descoberta de Biomarcadores e Diagnóstico Médico da bioMérieux, o projeto Arbobios está no “coração da estratégia” da empresa e ilustra a visão de seu fundador, Alain Mérieux, de investir nos países em desenvolvimento.
“Ainda há poucos biomarcadores usados na rotina clínica. Acreditamos ser uma área que precisamos profissionalizar e promover o link entre pesquisa e desenvolvimento”, afirmou.
Eduardo Moacyr Krieger, vice-presidente da FAPESP, ressaltou que a Fundação tem a missão de apoiar todo o tipo de pesquisa realizada no Estado de São Paulo – tanto as de ciência básica como aquelas que podem ser aplicadas no curto ou no longo prazo.
“Hoje estamos no processo de aprovar um projeto que terá implicações diretas na saúde da população. E em uma área em que o Brasil é reconhecido internacionalmente, que é a de doenças infecciosas”, disse.
Para o presidente da Comissão de Relações Internacionais da USP, Aluisio Segurado, o projeto representa uma grande conquista para a FMUSP e o IMT. “Nos dá a oportunidade de desenvolver pesquisa em uma área crítica para a saúde pública do Brasil e representa também uma grande conquista em termos de internacionalização [da pesquisa]”, disse.
José Eduardo Krieger, pró-reitor de pesquisa da USP, destacou que a epidemia de Zika pegou a sociedade brasileira de surpresa, mas não os cientistas.
“Prontamente, a FAPESP organizou uma força-tarefa para estudar diferentes aspectos do problema. A FAPESP também tem trabalhado para ir além do financiamento da pesquisa básica e para encontrar meios de os estudos progredirem para o setor privado”, disse.
Ainda segundo o pró-reitor da USP, ações como a criação dos Centros de Engenharia pela FAPESP em parceria com empresas “são ferramentas que fortalecem as relações entre setor público, privado e pesquisadores do Brasil”.
O diretor da FMUSP, José Otávio Costa Auler Junior, contou que desde 2011 a instituição que representa também tem apoiado a inovação e fomentado a interação com empresas. “Este é o primeiro acordo assinado entre o IMT com uma companhia internacional e não poderia ser com parceiros melhores. Esperamos que seja o primeiro passo de uma colaboração frutífera”, disse.
A cerimônia de assinatura do acordo entre FAPESP, USP e bioMérieux também contou com a presença do adido de cooperação em Ciência e Tecnologia do Consulado Geral da França em São Paulo, Gérard Perrier, do diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, e do diretor administrativo da Fundação, Fernando Menezes de Almeida.
Interessados em colaborar com o projeto Arbobios podem entrar em contato com os pesquisadores pelo e-mail: arbobios@gmail.com.
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