Em reunião plenária sediada pela FAPESP, representantes das principais agências de fomento do mundo definem temas para as próximas chamadas de propostas e meios de ampliar cooperação multinacional na América (foto: Felipe Maeda / Agência FAPESP)

Em São Paulo, Belmont Forum define rumo de pesquisas futuras
10 de novembro de 2017
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Em reunião plenária sediada pela FAPESP, representantes das principais agências de fomento do mundo definem temas para as próximas chamadas de propostas e meios de ampliar cooperação multinacional na América

Em São Paulo, Belmont Forum define rumo de pesquisas futuras

Em reunião plenária sediada pela FAPESP, representantes das principais agências de fomento do mundo definem temas para as próximas chamadas de propostas e meios de ampliar cooperação multinacional na América

10 de novembro de 2017
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Em reunião plenária sediada pela FAPESP, representantes das principais agências de fomento do mundo definem temas para as próximas chamadas de propostas e meios de ampliar cooperação multinacional na América (foto: Felipe Maeda / Agência FAPESP)

 

Karina Toledo  |  Agência FAPESP – A humanidade terá de enfrentar neste século o maior desafio de sua história: garantir água, comida e energia para mais de 9 bilhões de pessoas e, ao mesmo tempo, preservar o ambiente e lidar com as consequências do aquecimento global.

Tal tarefa exigirá mudanças nos mais variados aspectos da vida humana, como alimentação, locomoção, consumo e produção de bens. Com o objetivo de fornecer conhecimento científico capaz de orientar essa transição para a sustentabilidade foi criado, em 2009, o Belmont Forum – consórcio internacional que reúne as principais agências de fomento à pesquisa do mundo, entre elas a FAPESP, e abrange mais de 50 países distribuídos entre os seis continentes.

Representantes das agências que integram a iniciativa encontram-se reunidos na cidade de São Paulo, de 6 a 10 de novembro, para avaliar os avanços alcançados no último ano e definir temas prioritários para as pesquisas que serão apoiadas a partir de 2018.

“Até o fim desta semana deverão ser selecionados os temas para lançar uma ou talvez duas novas chamadas de propostas, que chamamos de Ações de Pesquisa Colaborativa [CRA, na sigla em inglês]. Cada parceiro poderá optar por participar ou não da chamada e definir quais recursos vai oferecer – pode ser dinheiro, infraestrutura ou recursos humanos”, disse Maria Uhle, copresidente do consórcio e representante da National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos.

Entre as opções de tema em debate estão biodiversidade e serviços ecossistêmicos, sustentabilidade oceânica, redução de riscos de desastres naturais, ciência no Ártico e caminhos para alcançar as 17 metas de desenvolvimento sustentável propostas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para 2030 – que incluem educação de qualidade, agricultura sustentável, erradicação da pobreza e da fome e redução das desigualdades, entre outras.

“Tentamos entender as prioridades de cada agência de fomento no que se refere às mudanças ambientais globais e identificar aquelas que realmente se beneficiariam de uma colaboração internacional. Definido o tema, formamos um painel de especialistas indicados pelas agências participantes da chamada para uma avaliação coletiva dos projetos submetidos. É um grande avanço no modelo de colaboração internacional, pois os grupos de pesquisa precisam escrever somente uma proposta, que passa por um único processo de revisão por pares”, explicou Uhle.

Para serem aceitos, os pré-projetos devem envolver ao menos dois outros parceiros internacionais e ter natureza transdisciplinar, ou seja, reunir pesquisadores das Ciências Naturais e das Ciências Sociais, bem como os mais diferentes stakeholders, que, dependendo do projeto, podem ser políticos e autoridades locais, empresários, agricultores, organizações não governamentais e instituições de pesquisa, entre outros.

“Caso tenha um projeto selecionado, o pesquisador será financiado pela agência de fomento de seu país ou estado. O dinheiro, portanto, não cruza fronteiras”, disse Uhle.

Para Gilberto Camara, membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e copresidente do consórcio ao lado de Uhle, o Belmont Forum é um “experimento em andamento” para fazer ciência global.

“É um experimento de transferência de poder. Este arranjo global seria inviável se cada agência tivesse que julgar separadamente todos os projetos. Então, concordaram com algo sem precedentes: as decisões são tomadas coletivamente. Porém, cada financiador tem a liberdade de decidir se vai aderir e quanto vai investir. É um resultado coletivo de decisões individuais”, disse Camara.

Desde 2012, a FAPESP já participou de oito chamadas de propostas lançadas no âmbito do consórcio e já apoiou projetos voltados a avaliar a vulnerabilidade de populações sob cenários extremos e fortalecer as ações de adaptação, avaliar os impactos da produção de cana-de-açúcar no uso do solo e segurança alimentar, reduzir a vulnerabilidade de comunidades costeiras, melhorar a governança de recursos hídricos na Amazônia e muitos outros temas.

Encontra-se aberta até 1º de dezembro uma chamada da FAPESP com o Belmont Forum para desenvolvimento e aplicação de cenários da biodiversidade e serviços ecossistêmicos em escalas espaciais com relevância para múltiplos tipos de decisões e considerações sobre as múltiplas dimensões da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos em cenários de biodiversidade.

“A FAPESP, ao participar do consórcio, busca ampliar o conhecimento brasileiro – e em particular do Estado de São Paulo – sobre esse desafio único da história da humanidade. É muito importante saber o que pode acontecer com a Amazônia, com a agricultura no Cerrado, com o suprimento de água de São Paulo, com nossas fontes de energia e nossas cidades costeiras. Ficar na ignorância é muito caro. A pesquisa científica sempre se paga”, disse Camara.

A ideia é que os projetos apoiados produzam resultados que sirvam como ferramenta para a tomada de decisão relacionada à mitigação e adaptação às mudanças ambientais globais.

“Mas só conseguiremos transformar a sociedade se ela desejar ser transformada. Há muitas formas de ‘cortar o bolo’, muitas formas de entender as mudanças globais. Por isso precisamos nos manter abertos. Nosso foco não é fazer política e sim fazer ciência que pode servir de base para políticas públicas”, disse Camara.

Maior presença na América

José Goldemberg, presidente da FAPESP, ressaltou que a Fundação conseguiu, nos últimos anos, alcançar um equilíbrio entre apoiar ciência e moldar políticas públicas. Como exemplo, citou o zoneamento econômico e ecológico do Estado de São Paulo, realizado pelo programa BIOTA/FAPESP, que delimitou as áreas onde poderiam ser instaladas usinas de cana-de-açúcar no estado, sem afetar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

“O etanol permitiu melhorar a qualidade do ar em São Paulo. Temos uma frota de 7 milhões de automóveis só na capital e o ar é menos poluído que na Cidade do México ou em Pequim”, disse Goldemberg.

Um dos objetivos da reunião plenária deste ano foi ampliar a participação de organizações do continente americano no Belmont Forum. Para isso, foi realizado no dia 6 de novembro, na sede da FAPESP, o Americas Regional Info Day. Representantes de agências de fomento de países que ainda não integram o consórcio, como Canadá, Chile e Paraguai, participaram do encontro para discutir as diversas possibilidades de cooperação e parceria.

“Usamos essa estratégia em várias regiões. Tivemos Info Day na Europa, no Sudeste da Ásia e, em dezembro, teremos na África. Aqui no encontro de São Paulo estamos negociando com o Instituto Interamericano para Pesquisa em Mudanças Globais (IAI, na sigla em inglês) a criação de um consórcio de financiadores de pesquisa da América Latina para trabalhar em parceria com o Belmont Forum”, disse Uhle.

Também ficou definido que o IAI, com sede em Montevidéu, no Uruguai, passará a sediar o secretariado do Belmont Forum – que antes ficava na Agence Nationale de la Recherche (ANR), da França.

“É difícil dirigir um programa de cooperação internacional em uma estrutura nacional como a ANR. Então tivemos a sorte de atrair algumas organizações internacionais como o IAI que podem nos ajudar a fazer isso”, disse Uhle.

Para Marcos Regis da Silva, diretor executivo do IAI, o continente americano é um ambiente propício para o desenvolvimento de projetos multinacionais.

“Somos pacíficos e também somos muito mais homogêneos culturalmente do que outras regiões do globo. Além disso, nossos recursos ambientais são imensos. A preservação desses recursos e, ao mesmo tempo, o combate à pobreza são as principais prioridades de nossa região”, disse Silva.
 

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