Vulnerabilidades metropolitanas
21 de fevereiro de 2005

A partir de dados demográficos, sociais e econômicos, pesquisadores da Unicamp mostram que, cada vez mais, a solução de problemas urbanos passa por uma abordagem que extrapola os municípios

Vulnerabilidades metropolitanas

A partir de dados demográficos, sociais e econômicos, pesquisadores da Unicamp mostram que, cada vez mais, a solução de problemas urbanos passa por uma abordagem que extrapola os municípios

21 de fevereiro de 2005

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - O Parque Oziel, na região sudoeste de Campinas, é uma antiga ocupação ilegal que hoje tem mais de 40 mil pessoas. Quando essa comunidade passou a se organizar, começou a ser mais lembrada pelo poder público. Com o aumento dos investimentos, a vulnerabilidade daquela parte da metrópole, próxima à rodovia Anhangüera, passou a ser menor.

O conceito de vulnerabilidade é uma das principais contribuições do projeto Dinâmica intrametropolitana e vulnerabilidade nas metrópoles do interior paulista: Campinas e Santos, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Um dos primeiros frutos do trabalho foi o lançamento, em 2004, do Atlas da Região Metropolitana de Campinas. Este ano, provavelmente em abril, deve ficar pronto o atlas com os dados da região de Santos. Nos dois casos o trabalho conta com a participação do Núcleo Interno de Economia Social, Urbana e Regional (Nesur), também da Unicamp.

"Quando os dados são vistos sobre a mancha urbana metropolitana, além do limite dos municípios, fica claro que os problemas ganham outra dimensão. As soluções para certos problemas também terão que partir de um ponto de vista metropolitano", explica José Marcos Cunha, coordenador do Nepo, à Agência FAPESP.

Os dados já trabalhados da região de Campinas – o atlas não é um documento analítico, mas sim descritivo – mostram, por exemplo, o caso da cidade de Hortolândia. "Do total da população, 50% trabalham em Campinas. Portanto, os problemas de transporte que existem na região não podem ser tratados apenas com enfoque local", afirma Cunha.

Segundo o pesquisador, em nenhum momento a intenção dos estudos foi questionar a legitimidade dos municípios, mas mostrar que os problemas são sempre mais globais do que podem parecer em áreas como de Campinas e Santos.

Além do Parque Oziel, explica o coordenador do Nepo, Campinas tem outras centenas de áreas ocupadas. Em todos os casos, os riscos tornam as regiões mais vulneráveis. "Os riscos podem ser ambientais, de saúde, de infra-estrutura e assim por diante. Existe também um gradiente entre essas diferentes pressões", explica.

De acordo com os dados de Campinas e de Santos, a vulnerabilidade normalmente está atrelada a questões como as provocadas pela especulação imobiliária. "O antigo padrão de crescimento periférico, apesar de nas áreas ricas também existir cada vez mais zonas de pobreza, ainda está bastante presente", afirma.

No caso da Baixada Santista, existem dois movimentos demográficos básicos em curso, na avaliação dos pesquisadores. O primeiro é resultado da valorização imobiliária em áreas centrais de Santos e São Vicente, que acabou gerando a expulsão demográfica e o crescimento de regiões como a de Praia Grande.

"Além disso, há grupos que migram de outras regiões diretamente para as áreas menos valorizadas, mas que, mesmo assim, mantêm relações com ás áreas mais ricas, porque, por exemplo, trabalham lá", explica o pesquisador.

Com os dois atlas, os pesquisadores do Nepo e do Nesur esperam consolidar uma metodologia e uma visão de mundo metropolitana, que poderá auxiliar os tomadores de decisão. "Depois dessa fase de tratamento dos dados, vamos partir para pesquisas de campo, para detalhar mais essas vulnerabilidades", conta Cunha.


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