Projeto feito na Unicamp, que se baseia no conceito de vulnerabilidade para analisar a dinâmica sociodemográfica de Campinas e Santos, lança publicação com resultados dos dois primeiros anos de trabalho
Projeto feito na Unicamp, que se baseia no conceito de vulnerabilidade para analisar a dinâmica sociodemográfica de Campinas e Santos, lança publicação com resultados dos dois primeiros anos de trabalho
Agência FAPESP - A capacidade de resposta de um indivíduo a riscos potenciais, como a pobreza, enfrentados em grandes aglomerações urbanas, depende da disponibilidade de três tipos de capital: o financeiro (renda mensal e bens do indivíduo); o humano (educação formal e capacidades intelectuais); e o social, que permite a resolução de problemas a partir das relações sociais com outras pessoas.
Tais conceitos, utilizados pelos pesquisadores do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para determinar as condições de vulnerabilidade de um indivíduo, serviram de eixo teórico para o projeto Dinâmica intrametropolitana e vulnerabilidade sociodemográfica nas metrópoles do interior paulista, que estuda as regiões metropolitanas de Campinas e Santos. Os resultados dos dois primeiros anos de trabalho estão em livro que acaba de ser lançado.
José Marcos Pinto da Cunha, coordenador do projeto e organizador da obra Novas metrópoles paulistas: População, vulnerabilidade e segregação, explica que o objetivo foi trabalhar não apenas com as necessidades da população, mas principalmente com os recursos e ativos de que ela dispõe para enfrentar os riscos impostos pelas privações vivenciadas. A partir desse contexto, a idéia foi identificar as zonas de vulnerabilidade da região, o que pode auxiliar na elaboração de políticas públicas.
"Dependendo dos capitais à disposição de uma pessoa, sejam tangíveis ou intangíveis, ela pode lançar mão do que chamamos de estrutura de oportunidades, que envolve tudo o que o mercado, o Estado e a sociedade oferecem para reduzir o grau de vulnerabilidade do cidadão", disse o demógrafo à Agência FAPESP. "Sem dúvida alguma, o mercado de trabalho é a principal fonte de aquisição de capitais que podem melhorar a qualidade de vida da população."
O livro, além de descrever a trajetória teórica e empírica do projeto de pesquisa conduzido pelo Nepo, com apoio da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), apresenta textos sobre a dinâmica demográfica e o processo de formação das duas regiões metropolitanas analisadas, a partir de estudos de casos e dados secundários coletados em fontes censitárias e em entidades públicas.
"Trata-se de uma coletânea com 21 artigos, escritos por autores nacionais e do exterior, que sistematizam o conhecimento sobre essas duas cidades. Pelo fato de serem consideradas regiões emergentes no Estado de São Paulo, elas ainda não contam com um conjunto de informações sociodemográficas consolidado que envolva dados sobre desigualdade social, crescimento populacional e planejamento urbano", explicou Cunha.
Segundo ele, algumas características peculiares tornam Campinas e Santos distintas de outras regiões metropolitanas mais antigas historicamente, como São Paulo, cujo processo de metropolização começou a ser percebido na década de 1950. As duas cidades analisadas pelo projeto começaram a se configurar como aglomerações metropolitanas apenas no fim da década de 1970.
"Além de serem áreas mais manejáveis devido ao tamanho reduzido de seus territórios, Campinas tem um pólo tecnológico importante para o Estado e Santos é uma região litorânea estratégica para o país, mesmo tendo fortes restrições de crescimento do ponto de vista geográfico por estar localizada entre a serra e o mar", disse.
Análise aprofundada
A segunda fase do projeto de pesquisa, segundo José Marcos Pinto da Cunha, será aprofundar os dados teóricos publicados no livro com base em entrevistas de campo. Até o fim do ano, serão aplicados cerca de 3,2 mil questionários em domicílios das duas regiões metropolitanas.
"Nessa fase, vamos focar as análises em dois eixos de trabalho: educação e saúde. Os questionários foram elaborados especificamente para entender como a dinâmica sociodemográfica das cidades contribui para o grau de vulnerabilidade. Agora é o momento de aprofundarmos as análises a partir dos conceitos teóricos", explicou.
Algumas questões a serem abordadas na segunda fase do trabalho são: o papel do capital social – que envolve as relações pessoais e comunitárias – como fator decisivo para o maior ou menor grau de vulnerabilidade da população; como a mobilidade populacional dentro da metrópole pode incrementar, ou não, o capital social dos indivíduos; e de que maneira os arranjos familiares têm contribuído para melhorar ou piorar as condições de vulnerabilidade.
"Entender as relações da vulnerabilidade com o desempenho escolar e com a qualidade de vida dos jovens será uma prioridade, pois educação e saúde são duas dimensões essenciais para o bem estar do ser humano", afirma. Cunha prevê que até o fim de 2008 um novo livro será lançado com os resultados dos trabalhos de campo.
Com uma tiragem inicial de 500 exemplares, o livro Novas metrópoles paulistas: População, vulnerabiliade e segregação será distribuído para universidades, bibliotecas e instituições de pesquisa.
Mais informações: http://72.232.29.50/~ifnepo/usuario
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