Ulisses Confalonieri, médico da Fiocruz, acredita que as conseqüências das mudanças climáticas sobre a saúde humana devem ser tratadas no contexto local
(foto: E. Geraque)

Vulnerabilidade em alta
10 de novembro de 2005

Alterações no clima interferem diretamente nos ciclos de doenças como a malária e a dengue. Ulisses Confalonieri, da Fiocruz, alerta para a necessidade de criação de planos de adaptação aos novos perigos

Vulnerabilidade em alta

Alterações no clima interferem diretamente nos ciclos de doenças como a malária e a dengue. Ulisses Confalonieri, da Fiocruz, alerta para a necessidade de criação de planos de adaptação aos novos perigos

10 de novembro de 2005

Ulisses Confalonieri, médico da Fiocruz, acredita que as conseqüências das mudanças climáticas sobre a saúde humana devem ser tratadas no contexto local
(foto: E. Geraque)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Milhares de mortes provocadas pela onda de calor na França. Vidas perdidas em inundações ou deslizamentos no Brasil. O impacto fatal sobre os habitantes de Nova Orleans causado pelo furacão Katrina. Se as alterações climáticas têm causado uma série de conseqüências para a saúde humana, o fato de elas se tornarem ainda mais efetivas e globais deve fazer com que a escala de problemas aumente, inclusive por aqui.

"O Brasil é um país tropical. Sem dúvida o nosso grande problema poderá estar relacionado não com as ondas de calor, mas sim com o ciclo da água. Em termos de saúde humana, eventos climáticos extremos deverão estar relacionados a chuvas ou secas", explica Ulisses Confalonieri, médico e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, à Agência FAPESP.

Para Confalonieri, em vez de investir tempo em grandes modelagens globais, no caso específico da relação entre mudanças climáticas e saúde humana é melhor ter um foco mais local e prático, do que uma visão geral. "No Brasil, a vulnerabilidade é muito grande. Mesmo porque é complicado pensar em um problema que pode ocorrer daqui a alguns anos quando temos que lidar hoje com filas nos hospitais", afirma.

Um dos pontos de risco, na visão de Confalonieri, que discutiu esta semana as mudanças climáticas globais e a saúde humana em conferência no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, são as megacidades.

"A situação é muito complicada. Imagine uma chuva intensa, fora dos padrões, em São Paulo. Com certeza o número de mortes será alto", avalia o pesquisador da Fiocruz. Um estudo apresentado pelo pesquisador mostra que no Rio de Janeiro, entre 1966 e 1996, foram registradas 514 mortes decorrentes de deslizamentos de terra provocados por chuva. O número de casos de leptospirose chegou aos 3,5 mil.

"Vários estudos demonstraram que alterações no clima estão interferindo em determinadas doenças", disse Confalonieri, atualmente radicado em Belém. "Um carrapato responsável pela transmissão de um tipo de encefalite migrou 100 quilômetros ao norte, na Escandinávia, por causa das temperaturas mais altas. No Chile, por causa do El Niño, a população de roedores no semi-árido subiu 20 vezes. Esses animais são reservatórios potenciais de doença", explica.

Mas as mudanças climáticas não podem ser responsabilizadas por tudo, lembra Confalonieri. A Sars e a gripe do frango, por exemplo, não estão relacionadas diretamente com alterações ambientais, mas sim com as migrações de pessoas e animais.

"O problema é que as alterações no clima, num ambiente já alterado e despreparado, podem causar conseqüências bastante radicais em uma região", disse o pesquisador. Para ele, o caso das 15 mil mortes na França, por causa do calor em excesso, é um típico exemplo de falha do sistema de vigilância. "É preciso que isso seja previsto antes. No Brasil, por exemplo, é preciso ter uma preocupação especial tanto com a dengue como com a malária."


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