Ary Ramoa, da Virginia Commonweath University, em palestra durante o simpósio em Natal (foto: E.Geraque)

Visão silenciosa
04 de março de 2004

Investigar a plasticidade do cérebro na área responsável pela visão auxilia a entender como se formam as imagens binoculares. Em Natal, um estudo apresentado por Ary Ramoa mostra que é possível descobrir caminhos cerebrais para recuperar funções visuais perdidas

Visão silenciosa

Investigar a plasticidade do cérebro na área responsável pela visão auxilia a entender como se formam as imagens binoculares. Em Natal, um estudo apresentado por Ary Ramoa mostra que é possível descobrir caminhos cerebrais para recuperar funções visuais perdidas

04 de março de 2004

Ary Ramoa, da Virginia Commonweath University, em palestra durante o simpósio em Natal (foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Natal

Agência FAPESP- A ambliopia, a baixa visão também conhecida como "olho preguiçoso", é uma disfunção que aparece normalmente em crianças na fase de aprendizagem. Em indivíduos adultos, pode surgir também por causa da catarata.

"Escolhemos estudar esse tipo de problema por ele ter se mostrado um modelo eficiente para descobrir os mecanismos envolvidos com a perda e a recuperação de certas propriedades visuais", disse o neurocientista Ary Ramoa, que há 20 anos mora nos Estados Unidos, à Agência FAPESP

"O efeito provocado pelo meio ambiente, no caso da ambliopia, pode ser visto no cérebro em questão de dias", explicou Ramoa, professor da Virginia Commonweath University e que, no Brasil, esteve ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro. "É possível perceber com rapidez como são afetadas as correlações do córtex cerebral." Com essa disfunção, a pessoa passa a ver um mundo desfocado e essas imagens diferentes é que vão gerar alterações cerebrais.

Em estudo realizado com furões, a equipe de Ramoa conseguiu perceber importantes diferenças entre os mecanismos ligados à perda da visão binocular e aqueles usados pelo cérebro no momento em que a visão volta a ficar normal.

Segundo o cientista, em 25% dos casos os tratamentos usados para a recuperação da propriedade binocular da visão não surtem efeitos positivos. "A grande aposta está nas conexões, que, de certa forma, passam a ficar silenciosas quando a visão deixa de ficar normal", disse. Caso a ambliopia não seja resolvida durante a infância, ela pode, além de causar sérios problemas cognitivos, tornar-se irreversível em idade adulta.

A expectativa de Ramoa é que o estímulo a essas ligações cerebrais que deixaram de ser operantes seja a chave para que um mecanismo de recuperação funcional seja descoberto. "O nosso laboratório é um dos primeiros a investigar esses caminhos", afirma.

Na tentativa de relacionar o fator ambiental e os componentes determinados pela expressão dos genes, Ramoa fez outras descobertas importantes. "A perda pode ser interrompida por uma alteração na síntese proteica envolvida nesse processo, apesar de esse caminho não ser o mesmo que vai levar à recuperação da visão", disse.


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